MUITAS VAIAS PARA A SELEÇÃO NO MARACANÃ


Publicado na Folha de S.Paulo, segunda-feira, 13 de junho de 1977

Apesar de empatar por 1 a 1 com a Seleção Alemã, campeã do mundo, a Seleção Brasileira não conseguiu mais do que alguns breves aplausos dos torcedores, ao encerrar-se a partida de ontem no Maracanã. Antes de empatar - com o gol de Rivelino aos 42 minutos do segundo tempo - entretanto, a torcida não poupou vaias à atuação dos brasileiros.
O futebol brasileiro não apresentou criatividade e nem esquematização. A Seleção Brasileira perdeu-se depois que os alemães fizeram o primeiro gol. Luís Pereira falhou naquele momento, e, ao contrário do que se esperava, não liderou seus companheiros durante a partida.

Uma seleção perdida ao sabor das vaias

Se Cláudio Coutinho continuar mais preocupado com sua terminologia do que com a realidade de sua seleção, o gol de Rivelino a três minutos do fim, ontem no Maracanã, terá sido mais um desastre do que uma honra para o futebol brasileiro no empate de 1 a 1 com a Alemanha Ocidental campeã do mundo.
Foi triste e irritante. Tanto assim que o próprio público carioca não resistiu e partiu para as vaias ao time regionalista formado por seus ídolos como Rivelino, Zico e Roberto. Nem em seu próprio reduto a seleção de Coutinho escapou dos protestos, a não ser nos últimos minutos quando a torcida - mais de 100 mil - experimentou um incentivo em busca da vitória depois do empate.
Após os primeiros 20 minutos, quando a seleção saiu jogando na base da vontade, deu trabalho à defesa alemã e esperança de progressos sob a liderança de Luís Pereira, veio a realidade. Bastou o adversário se tranquilizar, organizar o esquema e mostrar sua aplicação tática. Nem teve muito trabalho para mostrar se está realmente muito distante daquela geração campeã de 74 que tinha Breitner, Muller, Beckembauer, Overath e Grabowski.
Coutinho, militar graduado e técnico do futebol que exige também estratégias, perdeu a batalha que ele mesmo desenhara. Prevendo o bloqueio alemão, preparou-se anunciando uma tropa de choque no ataque - Gil e Roberto - e a infantaria blindada ligeira - os homens de meio-campo, confundindo ainda mais aos que já não entendiam o seu ponto futuro, seu futebolês polivalente, sua defesa agressiva e sua alta rotatividade.
Na frente, de choques só houve as trombadas de Gil com a defesa alemã, cometendo e sofrendo faltas, numa movimentação descontrolada, e o esforço de Roberto que acabou se perdendo no desequilíbrio geral, a ponto de ser acertado na cabeça por um chute forte de Marcelo que ia em direção ao gol.
No meio de campo, a ligeireza foi de Paulo César em fugir sempre da ponta para o meio e os gestos de desabafo de Rivelino na comemoração do gol como resposta às vaias. Zico, depois de um bom começo, desapareceu na marcação do adversário, e Toninho Cerezzo o acompanhou no erro de querer fazer jogadas individuais de penetração num aglomerado de adversários bem postados e seguros.
Enquanto estava zero a zero, a seleção exibiu toda a sua falta de esquematização e criatividade, além da falta de pontas que repete o erro gritado pelo futebol carioca quando Osvaldo Brandão viajou para Bogotá com apenas um ponta-esquerda - Lula - para depois improvisar Falcão.
Gil está longe do futebol que o levou à seleção. Fiel às suas limitações técnicas, já não se salva nem pelo esforço. Desorientado, vai para o meio embolar-se com o resto do time quando deveria tenta a linha de fundo. Desequilibrado emocionalmente, anda tão perdido quanto seu técnico, que, quando o tirou, colocou em campo outro ponta falso - Marcelo, do Atlético - e cometeu o absurdo de passar Paulo César para a ponta-direita - ele que se recusa a ficar na esquerda e vai engrossar o batalhão de armação.
Quando a Alemanha fez 1 a 0, foi a hora do time exibir sua instabilidade emocional, transformando-se num bando de homens totalmente perdidos ao sabor das vaias e do adversário. Entre eles, coitados, perderam-se até a categoria e experiência internacional de Luís Pereira, que, esgotado física e psicologicamente, no fim, fixou-se no meio de campo porque não tinha mais fôlego para atacar nem voltar.
Os alemães de Helmut Shoen, por sua vez, se não exibiram a técnica apurada de alguns ex-monstros sagrados, deram mais uma vez a lição de como não se prende a bola. Foram demasiadamente defensivos quase sempre, é verdade, chegando a concentrar todo o time na retaguarda. Mas dali partiram para mostrar como se chega à área adversária em três ou quatro toques.
Fizeram o suficiente para manter a invencibilidade nesta excursão pela América do Sul (vindo de vitórias por 3 a 1 contra a Argentina e 2 a 0 contra o Uruguai) e deram uma idéia do que representarão na Copa de 78, em termos de favoritismo, quando estiverem bem adaptados.
Com poucos ataques, mas objetivos, a Alemanha marcou seu gol aos 8 minutos do segundo tempo, numa infelicidade de Luís Pereira: em falha do meio-campo brasileiro, a bola foi ao centroavante Fischer, que ganhou do zagueiro quando este escorregou, ganhou também de Amaral num drible bonito e chutou forte à esquerda de Leão.
Com um predomínio territorial constante, mas pouca penetração e erros na finalização, o Brasil conquistou o empate aos 42 minutos, num lance em que Zé Maria atacou, recebeu de Roberto, disputou com um zagueiro e saiu com a bola pela esquerda, onde Rivelino a pegou para chutar no canto oposto de Sepp Maier.
Local: Maracanã, ontem à tarde. Juiz: Luís Pestarino (Argentina). Renda: Cr$ 4.609.060,00 - com 106.066 pagantes. Gols: Fischer aos 8 minutos e Rivelino aos 42, ambos no segundo tempo. Brasil: Leão; Zé Maria, Luís Pereira, Amaral e Rodrigues Neto; Toninho Cerezo, Rivelino e Zico; Gil (Marcelo), Roberto e Paulo César. Alemanha Ocidental: Maier; Vogts, Kaltz, Russman e Dietz; Bonhof, Beer (Flohe) e Holzenbein (Tenhagen); Abramczik, Fischer e Volkert (Hummenigge).

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