STEWART: HOMEM, MITO E HISTORIA
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Publicado
na Folha de S. Paulo, segunda-feira, 13 de agosto de 1973
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A figura do homem: um escocês de andar saltitante, rosto de
expressão gozada e gostos excentricos, como tomar champanhe
francesa todas as manhãs apesar dos insistentes pedidos de
sua ulcera para que sua vida se normalize cada vez mais; o modelo,
o desenhista de modas, o comentarista de corridas; enfim, um homem
de mil funções e gostos tão diferentes como sua
propria vida.
A figura do mito: um piloto que começou a correr com o apelido
de A. N. Other (um irmão seu morreu nas pistas e a familia
era contra); que venceu 14 das 23 corridas que participou na Formula
3; que participou das 500 Milhas de Indianopolis em 66 vencendo o
premio "Rookie", que competiu com exito na série
Can-Am (Canadense - Americana) desafiando a equipe McLaren, que dominava
a categoria; enfim, um piloto de tecnica tão imprevisivel e
perfeita quanto os gostos tão diferentes de sua propria vida.
A figura do homem, que virou piloto (69 e 71); mais de 320 pontos
somados em classificações; 27 vitorias em Grandes Premios
(alem dele, Jim Clarck conseguiu 25 e Juam Manoel Fangio 24); o campeonato
deste ano praticamente conquistado (esta 14 pontos à frente
do segundo colocado); só existe um recorde que Stewart possa
quebrar na historia do automobilismo mundial; o maximo de vitorias
num só campeonato. Até agora, Jum Clarck venceu 7 Grandes
Premios num ano; Stewart venceu 6 em 69 e 71 e neste ano já
conseguiu 5 vitorias em 11 corridas, sendo que estão falando
4 para o fim do campeonato.
A vida deste escoces simpatico, extravagante, começou a se
modificar numa tarde de 64. No dia seguinte, Jim Clarck, Bruce McLaren,
Jack Brabham, seus grandes idolos na área, iriam disputar o
GP de Monaco. Naquela tarde, mesmo enfrentando adversários
de pouca categoria numa prova de formula 3, ele pilotando um Cooper-BMC,
da equipe de Ken Tyrrel (o velho Tyrrel, eterno amigo que sempre acreditou
em suas qualidades), assombrou a todos pela tecnica e tranquilidade
com que venceu desde a primeira volta da primeira bateria.
Isso bastou para que em 65, quando o segundo piloto da BRM, Peter
Ginther abandonara a equipe para correr pela Honda (unica experiencia
japonesa na formula 1), ele fosse convidado e estreasse na formula
1, como segundo piloto do velho Graham Hill. Estreou no GP da Africa
do Sul, mas com pouca sorte: Jim Clarck naquele dia estava absoluto
e imbativel.
Mas, na segunda prova, o GP de Monaco, prova dificil, perigosa a sua
inexperiencia, ele começou a mostrar suas virtudes. Depois
de se colocar entre os primeiros durante os treinos e largar e manter-se
na segunda posição, ele encontrou o azar.
"Eu estava na segunda posição; Graham Hill, que
largou na "pole-position" era o primeiro. Na 25.a volta,
quando ele saiu do tunel, encontrou o Brabham de Bob Anderson, parado
no meio da pista. Hill conseguiu escapar dele, mas perdeu segundos
preciosos (foram 35 segundos no total) e passei a liderar a prova.
Jim, Clarck não estava participante; ele tinha desistido para
correr e vencer as 500 Milhas de Indianapolis no dia seguinte. Mas,
na 30.a volta, talvez motivado pela propria experiencia, acelerei
demais e acabei rodopiando; perdendo aquela que seria minha primeira
vitoria em GP".
Em 65, Stewart era o segundo piloto da BRM. Assim mesmo, conseguiu
boas classificações que lhe valeram o 3.o lugar no fim
do campeonato. O campeão foi Jim Clarck: o segundo, Graham
Hill, que era o principal piloto de sua equipe. Desde esta época,
já era apontado como o provavel sucessor e o unico capaz de
barrar a tecnica perfeita de Clarck, também um mito da Formula
1.
Em 66, a Federação Internacional do Automovel, encarregada
de promover e organizar o mundial de pilotos, resolve aumentar a capacidade
dos carros de 1,5 para 3 litros. Com isso, esperavam os patrocinadores,
conseguirem carros velozes, com mais disputas e mais emoções;
além de causar um maior interesse por parte dos americanos
para as corridas de Formula 1. Até hoje, apenas uma experiência
americana está sendo tentada na F1; os atuais UOP-Shamdow.
Nesta época, foi tentado, inclusive, elevar a capacidade dos
carros para 4 litros que, assim, corresponderiam a capacidade dos
carros que competem em Indianapolis o circuito mais veloz do mundo.
E, foi justamente, nesta primeira corrida que Stewart conseguiu sua
primeira vitoria em Grande Premio, entrando, pela primeira vez, com
seu nome para a historia do automobilismo. O GP era o de Monaco. Ele
estava pilotando uma BRM com motor V8 e motor de 1,9 litro; superando
um a um dos seus adversários, há 6 voltas do final da
prova ele conseguia garantir sua vitoria com a media de 123,139 kms.
p/hora, a frente de Brandini (Ferrari) seu principal rival.
E Stewart não parou por aí. Em 67, depois de um campeonato
de muito azar e erros da sua BRM, um 7.o lugar na classificação
final. Em 68, novamente dirigido por Ken Tyrrel, na Matra francesa,
um 2.o lugar, poucos pontos atrás de Graham Hill, que era o
primeiro piloto da Lotus. Em 69, o primeiro titulo, pela Matra.
"Não se pode definir a sensação de se ganhar
um titulo mundial de pilotos. Eu corro porque gosto, porque amo. E,
o titulo é a compensação de tudo; como definirmos
tudo em nossas vidas?"
Impossivel. Tão impossivel como explicar como ele, correndo
com o desajeitado March, conseguindo o quinto lugar no campeonato
de 71, depois de derrotas, em algumas provas, adversários com
categoria igual, mas carros superiores, como Jochen Rindt (campeão
por antecipação que corria pela Lotus), Jacky Ickx (Ferrari),
Dennis Hulme (McLaren) e o velho Jack Brabham que fazia a sua despedida.
Veio o campeonato de 71, ele estava novamente correndo ao lado de
Ken Tyrrel (que formava a sua primeira equipe na Formula 1) e, novamente,
ganhava o campeonato. Com seis vitorias e uma tecnica capaz de invejar
os mais favorecidos.
Agora, disputa-se o campeonato de 73. Em 72, depois de deixar de participar
de algumas provas por causa de sua ulcera; depois de conhecer alguns
insucessos por causa dos proprios defeitos do seu Tyrrel; Stewart
está novamente com sua força total.
"Depois das primeiras provas, Emerson conseguiu uma boa distancia.
Quando me perguntavam eu dizia: alcançar Emerson é dificil,
mas não impossivel. A opinião vale agora quando as coisas
se inverteram. Eu não posso dizer que vou ganhar este campeonato.
Mas posso afirmar que quero este titulo; se vou ou não consegui-lo
é uma luta minha. Só minha.
Este é Stewart: o homem, o mito, a propria historia da Formula
1 moderna. |
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