PALMEIRAS PREPARA MÉTODO CIENTÍFICO
PARA DEFENDER PÊNALTIS
|
Publicado
na Folha de S.Paulo, sexta-feira, 9 de setembro de 1988
|
|
|
O Palmeiras começou a construir um arquivo para estudar o comportamento
dos batedores de pênalti. A operação foi implantada
devido ao novo regulamento do Campeonato Brasileiro, que prevê
cobranças de pênalti para decidir partidas terminadas
empatadas. O goleiro Zetti e o treinador de goleiros Valdir Joaquim
de Moraes esperam comprovar a tese de que jogador destro tende a chutar
no canto direito do goleiro e vice-versa. "É um método
científico, mas não é uma regra infalível",
diz Zetti.
Desde a primeira rodada, no fim-de-semana passado, está sendo
elaborado um perfil dos cobrados de pênalti de cada equipe.
As cobranças são acompanhadas pela TV ou por jornais
e anotadas num fichário. "Estamos estudando as características
dos batedores, que geralmente são os mesmos e chutam da mesma
maneira", diz o treinador de goleiros.
A teoria segue a experiência de Valdir de Moraes, 56, ex-goleiro
na década de 50 e treinador específico da seleção
brasileira nas duas últimas Copas do Mundo. Segundo ele, todo
cobrador de pênalti tem um "canto forte", uma preferência
nata de estilo. Sabendo a maneira como o pênalti será
cobrado, o preparador de goleiros diz que a chance de defesa aumenta,
apesar de não ser uma possibilidade segura. O batedor pode
mudar o lado no momento da cobrança, o que, teoricamente, aumentaria
o risco de acerto.
O estudo do Palmeiras está ainda na fase do processamento de
dados. Ainda não há análise prática. Na
partida de estréia, chegou à vitória no desempate
regulamentar devido a dois pênaltis chutados fora pelo Santos.
O goleiro Zetti, 23, diz que seguiu a teoria do "pé direito,
canto direito; pé esquerdo, canto esquerdo". Nas cinco
cobranças, acertou quatro vezes o lado em que o pênalti
foi cobrado, apesar de não praticar nenhuma defesa.
Esse é o principal objetivo do arquivo. O estudo deve proporcionar
ao goleiro a escolha correta do local onde o jogador deve cobrar o
pênalti. "Parece até uma coisa boba. Mas deve ser
levada em consideração", afirma Zetti. Para Valdir
de Moraes, todos os goleiros "têm obrigação
de estudar o comportamento do batedor".
Com a adoção desse processo, Zetti e seu treinador acreditam
que o fator sorte passará a ter menor valor. "A sorte
só existe quando a bola bate na trave. Se o goleiro escolher
o canto certo e praticar a defesa será mérito seu",
diz Zetti, que em dois anos como titular do Palmeiras nunca defendeu
um pênalti. Ele faz parte da escola que inclui Ronaldo, que
foi promovido do júnior ao profissional do Corinthians.
O treinador acredita que pode aumentar a segurança do goleiro
no momento decisivo. Para isso, tem intensificado os treinamentos.
"A tendência é diminuir os erros do goleiro. Nenhum
vai atingir a perfeição. A responsabilidade ainda é
do batedor, que tem a obrigação de marcar. Se o goleiro
defender, continuará a ser um herói".
Para aumentar a segurança da defesa, o Palmeiras aguardava
ontem a resposta do Cruzeiro sobre proposta de contratação
do zagueiro Heraldo. Líder do grupo A ao lado da Portuguesa,
com cinco pontos ganhos, a equipe volta a jogar domingo contra o Criciúma,
lanterna do grupo, às 17h no Parque Antártica.
|
'Síndrome'
da cobrança de pênalti ataca ponta Carlinhos do Atlético |
Da Sucursal de Curitiba
A pressão
sobre os jogadores causada pelo novo regulamento do Campeonato Brasileiro,
com a cobrança de pênaltis em caso de empate, já
provocou a primeira renúncia entre os cobradores no Atlético-PR.
O ponta-direita Carlinhos, que perdeu uma das cobranças na
derrota para o Santos nos pênaltis por 4 x 1, afirmou, depois
do jogo, que quer "dar um tempo" e evitar a responsabilidade
por algum tempo.
Os problemas de Carlinhos com os pênaltis começaram
na decisão do Campeonato Paranaense, no final do segundo
jogo com o Pinheiros, em que uma vitória daria o título
ao Atlético-PR. Com o placar em 0 a 0, o juiz marcou um pênalti
para o Atlético-PR aos 42min do segundo tempo, e como principal
nome do time, Carlinhos foi escolhido para cobrar. O goleiro Toinho
defendeu o chute do ponta no seu canto direito, adiando a decisão
para uma terceira partida.
O Atlético-PR venceu o terceiro jogo e foi campeão,
mas ninguém esqueceu a reação de Carlinhos
ao desperdiçar o pênalti. O jogador começou
a chorar e, no final da partida, ficou descontrolado emocionalmente,
se atirando no gramado e tendo que ser carregado até os vestiários
pelo massagista do clube.
Carlinhos tentou superar o bloqueio quarta-feira na disputa por
pênaltis contra o Santos, mas depois da defesa de Nílton
e da irritação da torcida decidiu não insistir
mais. "O maior salário do time não pode ficar
perdendo pênaltis", foi um dos comentários mais
ouvidos na saída do estádio Pinheirão na quarta-feira.
"Cobrei as duas no mesmo canto e os goleiros defenderam; mas
só posso dizer que vou dar um tempo, não vou cobrar
mais não", disse o ponta para explicar sua renúncia
ao papel de cobrador.
Nas duas rodadas do campeonato, oito partidas foram decididas nos
pênaltis. Do total de 82 pênaltis cobrados, 22 (26,6%)
não resultaram em gols. Corinthians e Fluminense disputaram
a partida que teve maior número de erros na cobrança:
cinco erros em dez pênaltis batidos.
Os dois jogos disputados por Santos e Cruzeiro neste início
do campeonato foram decididos nos pênaltis. O Cruzeiro perdeu
as duas partidas (contra Atlético Mineiro e Sport). Já
o time do Santos teve mais sorte: venceu uma disputa (4 a 1 com
Atlético do Paraná) e perdeu a outra (3 a 4 com o
Palmeiras).
|
©
Copyright Empresa Folha da Manhã Ltda. Todos os direitos
reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em
qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização
escrita da Empresa Folha da Manhã Ltda.
|
|