ACIDENTE MATA O PILOTO VILLENEUVE NO TREINO DO GP


Publicado na Folha de S.Paulo, domingo, 9 de maio de 1982

Gilles Velleneuve, piloto canadense de Fórmula 1, morreu ontem, em consequência de acidente que sofreu no autódromo de Zolder, quando participava da última sessão de treinos do Grande Prêmio de Bélgica (marcado para hoje às 10 horas).
Sua Ferrari bateu numa roda traseira do carro dirigido pelo alemão Jochen Mass e "voou" cerca de 30 metros antes de espatifar-se na pista. Villeneuve, de 30 anos, foi lançado para fora do carro, contra a grade de proteção, e sobreviveu apenas algumas horas numa clínica de Louvain.
O francês Allain Prost obteve a "pole position" para a largada no Grande Prêmio. O brasileiro Nélson Piquet ficou com a 9ª posição.

Um piloto sempre arrojado

"Quando se faz este trabalho, não se pode ter medo. No dia em que sentir a necessidade de ser prudente, de não correr riscos para vencer um Grande Prêmio, nada mais terei a fazer nos circuitos de Fórmula-1".
Esta foi a filosofia que sempre marcou a carreira do piloto canadense Gilles Villeneuve, 30 anos, que sofreu grave acidente ontem durante a última sessão de treinos para o Grande Prêmio da Bélgica, hoje, no autódromo de Zolder.
Casado com Joana, Villeneuve tinha dois filhos: Jacques e Melanie, além de um irmão, Jacques Villeneuve, também piloto. Apreciador de leite, proprietário e comandante de um helicóptero, que utilizava para conduzir a família a todos os circuitos europeus. O pequeno canadense que nasceu no dia 18 de janeiro de 1952, em Quebec, surgiu pela primeira vez no autódromo em 1976, quando foi convidado por Ron Kennis para dirigir o terceiro carro da equipe March, no 36° Grande Prêmio de Pau, de Fórmula-2, ao lado de Eddie Cheever e do brasileiro Ingo Hoffman. Tinha 24 anos e jamais havia entrado num Fórmula-2. Obteve o 10° tempo nos treinos e na corrida, quebrou o carro e abandonou.
A estréia de Villeneuve na Fórmula-1 aconteceu em 1977 no Grande Prêmio da Inglaterra, pilotando um McLaren. Desde então, sempre foi criticado por sua forma demasiada ousada, intempestiva e até certo ponto imprudente de dirigir, tornando-se um especialista em quebrar motores e destruir carroçarias. Justificando a fama de "aviador das pistas" ou "bombeiro alucinado", como era conhecido, de novembro de 1980 a setembro de 1981 Villeneuve havia quebrado 356 motores avaliados em 45 mil dólares cada um.
Apesar de todos os transtornos que causava colocando sempre em risco a vida dos que corriam a seu lado, seu primeiro ano de participação nas provas de Fórmula-1 foi suficiente apara lhe valer o convite do comendador Enzo Ferrari, para ser o segundo piloto da equipe italiana. Companheiro de Lauda, Scheckter e Pironi, sucessivamente, disputou 68 Grandes Prêmios, vencendo sete: Canadá (1978), África do Sul, Long Beach e Canadá (1979), San Marino, Monaco e Espanha (1981). Em 1979 foi vice-campeão mundial e em seu último Grande Prêmio, há duas semanas, em Imola, na Itália, terminou em segundo lugar, atrás de Didier Pironi, primeiro piloto da equipe Ferrari.
Mesmo fazendo parte do grupo dos dez pilotos que ganha mais de um milhão de dólares por ano, Gilles Villeneuve, até bem pouco tempo, insistia em viver num trailler com a mulher e dois filhos, acampando e dormindo em qualquer estacionamento de estrada. Foi a muito custo que comprou um apartamento em Monte Carlo, onde residia, e que mesmo assim não se compara nem de perto às casas luxuosas dos grandes astros da Fórmula-1. Avesso ao assédio do público e ao vedetismo fora das pistas, sempre fugiu dos caçadores de autógrafos, pois, conforme confessava, "não suporto a idéia de assinar pedaços de papel, maços de cigarro, coisas que não significam nada".

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