'RAINHA' HORTÊNCIA É AGREDIDA PELA TORCIDA

Torcedores da Nossa Caixa-Ponte Preta agrediram a ala Hortência, do Leite Moça/Sorocaba, ao final de partida disputada anteontem à noite no ginásio do Taquaral, em Campinas (SP). A Ponte Preta venceu por 113 a 98. Hortência, que havia ficado na quadra para dar autógrafos, foi jogada ao chão e chutada.

Publicado na Folha de S.Paulo, quinta-feira, 4 de fevereiro de 1993

Hortência é agredida por torcedores da Ponte Preta

Da Reportagem Local

A vitória do Nossa Caixa-Ponte Preta sobre o Leite Moça/Sorocaba foi ofuscada pela agressão de torcedores à ala Hortência, 34, do time de Sorocaba, após o término da partida, disputada anteontem à noite, no ginásio do Taquaral, em Campinas.
A cestinha foi derrubada no piso da quadra e atingida por chutes dos torcedores. A pivô Marta, também do Leite Moça, partiu em socorro da companheira e acabou recebendo um golpe no rosto, causando um hematoma.
O presidente da Ponte, Marco Chedid, segurou Hortência após as agressões porque, ela estava nervosa. A seguir, ela foi carregada para o vestiário, onde já se encontravam as demais integrantes da equipe, que haviam saído antes da quadra. Hortência e Marta tinham permanecido na quadra dando autógrafo para torcedores.
A Ponte venceu o jogo por 113 a 98 (60 a 45) e mostrou superioridade durante todo o tempo. O time de Campinas foi mais rápido no contra-ataque e preciso nos arremessos. O time converteu nove arremessos de três pontos, três de Paula, dois de Nádia e quatro de Helen. Karina foi a cestinha com 26 pontos.
O time da Ponte Preta estreou no campeonato nesta temporada. Para jogar na categoria principal, encampou o time do BCN, que era de Piracicaba. É uma das equipes favoritas ao título estadual. Sua torcida também é forte e numerosa, pois tem muita tradição no futebol, onde é chamada de "macaca", alusão à mascote da Ponte. No último final de ano, em Londres, o time conquistou o título do torneio Crystal Palace. Mas em São Paulo, apesar de ter vencido o Leite Moça inúmeras vezes - quatro delas só neste campeonato -, perdeu nas duas únicas decisões: Jogos Abertos do Interior e Taça Brasil. Daí a rivalidade.
A Ponte terminou a fase semifinal na liderança, com cinco vitórias e uma derrota. Com duas derrotas e quatro vitórias, o Leite Moça ficou em segundo lugar. Na abertura da decisão do Estadual, domingo, no ginásio do Ibirapuera, em São Paulo, a Ponte Preta vai enfrentar o Unimed/Araçatuba, atual campeão sul-americano. O Leite Moça, campeão brasileiro, joga contra o Unimep-Blue Life/Piracicaba. Os vencedores decidem o título na terça.
A técnica Maria Helena, da Ponte, disse que vai pedir ao presidente do clube, Marco Chedid, que antecipe o horário do jogo de futebol da agremiação, - enfrenta o Juventus domingo, às 17h -, para que a torcida acompanhe o basquete.

'Nunca vi tanta violência'

da Reportagem Local

Hortência chorou muito depois da agressão que sofreu. Estava inconformada com a ocorrência que abalou sua carreira de aproximadamente 20 anos. Disse que nunca tinha visto algo igual nos jogos femininos de basquete.
"Xingar, tudo bem. É normal. Mas agressão, nunca", desabafou a cestinha do Leite Moça e da seleção brasileira, que levou socos e pontapés. A pivô Marta também acabou agredida durante o tumulto ao tentar defender Hortência. Um golpe atingiu a região do olho esquerdo da pivô, causando um hematoma.
"A torcida de futebol invadiu a quadra atrás da Hortência. Eu fui atrás. Não iria deixar baterem nela. Me deram socos e pontapés. Não tinha segurança suficiente para o jogo", afirmou Marta.
Na opinião de Marta, o tumulto foi provocado por um rapaz que agitou a torcida, valendo-se do microfone do ginásio. "Ele falou que tinham de invadir a quadra", disse. Segundo a pivô, o time saiu do ginásio sob proteção policial.
O técnico do Leite Moça, Antônio Carlos Vendramini, também disse que nunca tinha visto "coisa igual" e por isso espera providências enérgicas em consequência do caso.


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