CÁSSIO
STARLING CARLOS
Editor-adjunto de Especiais
A filosofia norte-americana, durante muito tempo, teve seu
passaporte no mundo intelectual colocado sob suspeita.
Para os acadêmicos formados na tradição do
pensamento europeu, ela não passava de uma derivação
secundária e, às vezes, extravagante, das idéias
anglo-saxãs.
Filosofia de qualquer modo jovem, cujo florescimento aconteceu
em meados do século 19, com Emerson, Charles Peirce e William
James, ela veio a adquirir ao longo deste século um formidável
corpus teórico, enriquecido pelo diálogo que estabeleceu
com os intelectuais europeus exilados na América depois
da ascensão do nazismo entre eles, membros
do Círculo de Viena e da Escola de Frankfurt.
Hoje, quando o pensamento europeu atravessa uma de suas crises
mais fortes, a filosofia norte-americana postula, com sua incrível
produtividade e heterogeneidade, o lugar de referência nas
discussões contemporâneas, valendo-se de sua preocupação
com as questões mais urgentes da cultura e da história.
No Brasil, com exceção da escola analítica
norte-americana, esta filosofia permanece menosprezada, uma situação
que tende a ser revertida pela crescente publicação
de seus pensadores no país.
Neste mês, um dos principais trabalhos de Richard Rorty,
hoje o mais influente pensador dos EUA, será lançado
pela Editora Relume-Dumará: ''Ensaios Filosóficos''.
A Martins Fontes acaba de publicar o mais importante trabalho
do polêmico John Searle: ''A Redescoberta da Mente''. Stanley
Cavell terá pela primeira vez uma obra sua lançada
no Brasil, pela Editora 34: ''Esta América Nova, Ainda
Inabordável''. Rorty escreve na seção ''Autores''
da Folha desde 1995. Cavell passa a escrever, a partir de hoje,
nesta mesma seção, publicada no Mais!.
Conceber uma filosofia norte-americana exige, antes de tudo, reconhecer
uma tradição à qual ela se vincula e a partir
da qual se esforça para formular problemas com originalidade.
Para ajudar a compreender as conexões históricas
e teóricas dos pensadores dos EUA, a Folha entrevistou
o professor Bento Prado Jr., um dos principais filósofos
brasileiros.
Na entrevista a seguir, Bento Prado Jr. questiona a tese do isolacionismo
do pensamento nos EUA em relação à tradição
européia, aponta sua influência nos departamentos
de filosofia brasileiros e traça uma outra geografia, mental,
na qual as idéias podem viajar sem precisar de visto de
entrada.
Folha É possível falar de uma tradição
filosófica norte-americana ou seria mais correto falar
dela como uma corrente do pensamento anglo-saxão?
Bento Prado Jr. É difícil imaginar
uma filosofia sem laços com a Europa. É preciso
lembrar que, como dizia meu amigo Lebrun, "a filosofia é
grega, como o cinema é norte-americano". Ou, como
dizia Husserl (se não me engano, na "Krisis"),
depois de Tocqueville, que a civilização americana
era a mais longínqua extensão dos limites da Europa.
Isto dito, é preciso reconhecer que, ao longo da história
da filosofia norte-americana, se sucederam estilos diferentes
de relação com a Europa. Assim, se com Emerson e
Thoreau o pensamento se empenha na "redescoberta da América",
em sua paisagem física e moral, ele o faz com a ajuda do
idealismo alemão e do romantismo inglês (ele próprio
impregnado pelo romantismo alemão). Em seguida, se é
possível dizer que o pragmatismo norte-americano é
inteiramente autóctone, não é possível
ignorar que seus fundadores estavam perfeitamente familiarizados
com toda a história da filosofia, da antiga e medieval
ao idealismo alemão. William James, por exemplo, talvez
o mais americano dos filósofos, nada ignorava da cultura
européia.
Paradoxalmente, talvez seja com a imigração maciça
dos filósofos da Europa central, que fugiam da ascensão
do nazismo na década de 30, que a filosofia norte-americana
rarefez sua comunicação com a cultura hoje dita
"continental". O isolacionismo norte-americano, obra
de europeus? É que esses filósofos se fecharam numa
concepção estreitamente técnica, "científica"
ou profissional da filosofia. Cortando os laços que unem
a filosofia à vida, à sociedade e à cultura,
o positivismo abandonara a tradição da própria
filosofia e esquecera sua origem européia.
Mais paradoxalmente ainda, é justamente por retornar à
tradição norte-americana anterior à hegemonia
do positivismo nas universidades, ao transcendentalismo romântico
e ao pragmatismo que autores como Stanley Cavell e Richard Rorty
podem reatar a conversação com pensadores "continentais",
de Nietzsche a Sartre e Heidegger. Tudo se passa, enfim, como
se uma tradição propriamente norte-americana só
pudesse se desenhar e se afirmar na sua originalidade ao relembrar
(e não negar) a tradição de que se desvia,
mas que permanece como uma baliza essencial.
Folha O que distingue os pensadores norte-americanos
do pré-Segunda Guerra dos atuais filósofos?
Prado Jr. Quando se fala de um novo estilo
(Cavell, Rorty etc.) ou de um estilo "pós-analítico",
é preciso ter consciência de que falamos de uma mudança
que não afetou o "mainstream" da filosofia universitária
norte-americana. É claro que o positivismo morreu e
Quine foi quem lançou a primeira pá de cal, ao demolir
a clara distinção entre enunciados analíticos
e sintéticos. Mas isso não significa que a restrição
da filosofia à semântica lógica e à
epistemologia tenha sido abandonada nos departamentos norte-americanos
de filosofia. Assim, Arthur C. Danto não vê diferença
essencial entre a filosofia produzida hoje nas universidades e
aquela que era produzida há várias décadas.
Prova disso é que pensadores como Rorty, ao iniciarem o
seu movimento herético de distanciamento do modelo estritamente
analítico, acabaram por deixar os departamentos de filosofia
para integrar-se a departamentos "literários".
Sem dúvida, as universidades dos Estados Unidos reservam
um largo espaço de acolhimento à filosofia alemã
e à filosofia francesa, mas raramente nos departamentos
de filosofia. É, aliás, o que eu já percebia
em meados da década de 60, quando soube do entusiasmo provocado
nos Estados Unidos por Michel Foucault, cujo estilo sempre esteve
nos antípodas do seco estilo "profissional" dos
filósofos daquele país. Diante de minha surpresa,
Foucault desfez o equívoco: tinha feito suas conferências
em um departamento de teoria literária.
Folha O sr. participou recentemente de um debate em
Belo Horizonte com o filósofo Richard Rorty. Participou
também da edição do primeiro livro de Cavell
a sair no Brasil, como revisor técnico. Daquilo que o sr.
tem acompanhado da produção filosófica norte-americana
contemporânea, o que lhe tem causado mais interesse?
Prado Jr. Não foi a primeira vez que
me encontrei com Rorty. Mas foi, de fato, um pouco o acaso dos
encontros internacionais e de atividades editoriais que chamou
nos últimos anos minha atenção para a atual
filosofia norte-americana. E a primeira reação foi
a da surpresa: a de encontrar, sob a pena de filósofos
de formação analítica, preocupações
que me obsedavam havia muito, a mim que me formara numa tradição
muito diferente. Paulo Arantes, comentando minha simpatia pelos
escritos de Rorty, dizia ironicamente: "Rorty... finalmente,
diria Bento nas entrelinhas mas não pode dizer
com toda a veemência, descobriu, 30 anos depois
de nós, o charme da filosofia francesa: é portanto
um dos nossos!" ("O Relativismo Como Visão do
Mundo", org. de A. Cícero e W. Salomão). Dizia
com ironia e alguma injustiça, já que está
longe de mim a arrogância implícita no raciocínio
que me é atribuído, mas sobretudo porque, nos últimos
anos, comecei a descobrir o charme da filosofia analítica
norte-americana, a contracorrente da tendência de Rorty.
Penso aqui em um filósofo particularmente interessante:
Nelson Goodman. Sem abandonar de um milímetro a ortodoxia
do método analítico, e ampliando sua esfera de aplicação
de modo a englobar a estética, na sua obra de maturidade,
Nelson Goodman (por exemplo em "Ways of Worldmaking"
e "Languages of Art") propõe, ao lado da idéia
de verdade, a idéia mais larga de "correctness".
Assim, abre espaço para uma análise dos estilos
de estruturação estética da experiência
algo, talvez, como uma nova teoria, distante de todo
psicologismo, da "imaginação transcendental",
que se constitui por meio da análise da obra de arte na
sua singularidade a mais concreta. Aliás, ainda na década
de 60, e sempre a pedido de uma editora, tive o prazer de conhecer
a obra de G. Santayana, sobre a qual escrevi algumas páginas.
Pensando bem, minha simpatia pela filosofia norte-americana é
um pouco mais antiga do que me lembrava.
Folha Por que os norte-americanos se mantiveram à
parte nas discussões centrais da filosofia contemporânea
sobre o fim da metafísica, a crise da razão e a
dissolução do sujeito?
Prado Jr. Cabe dizer, em primeiro lugar,
que não há problema obrigatório em filosofia.
Talvez o problema do filósofo consista justamente em justificar
a pertinência dos problemas que escolhe para construir sua
filosofia. Portanto, para responder sua pergunta, seria primeiro
necessário justificar a urgência dos problemas do
fim da metafísica, da crise da razão e da dissolução
do sujeito.
Quanto à questão do fim da metafísica, parece-me
que remete antes à filosofia heideggeriana ou pós-heideggeriana
do que à filosofia contemporânea como um todo. Lembro
mais uma vez Lebrun, que dizia que a filosofia tem mais a natureza
de um arquipélago do que de um continente. Um continente,
sim, pode ter um centro; onde poderíamos procurar o centro
de arquipélago? Certamente não o encontraríamos
em nenhuma das ilhas que o constituem.
Folha Considerando-se a experiência histórica,
de democracia liberal, dos EUA, o pensamento norte-americano oferece
mais alternativas ou limitações para a reflexão
do político e do ético?
Prado Jr. Toda reflexão política,
e mesmo ética, é feita "em situação"
e é particularmente difícil ponderar ou hierarquizar
situações. É certo que cada situação
predetermina o que é mais ou menos acessível ao
olhar teórico, e o que é problemático para
o alemão pode ser menos problemático para o norte-americano
e vice-versa. Mas isso não impede que os mesmos problemas
éticos e políticos possam animar uma discussão
interessante entre um filósofo alemão e um filósofo
americano. Como é o caso da constante e amigável
discussão sobre esses problemas entre Habermas e Rorty.
Em todo caso, e sem fazer, como o faz Rorty, uma profissão
de fé liberal ou subscrever uma filosofia política,
é preciso reconhecer que a universidade americana é
antes favorável do que desfavorável à discussão
filosófico-política. Mesmo porque, ao lado dos filósofos
que advogam o liberalismo e a tradição norte-americana,
não faltam os críticos desse mesmo liberalismo;
ou, pelo menos, não faltam aqueles que, como T. McCarthy,
criticam Rorty por não resgatar, com o pragmatismo de Dewey,
o seu radicalismo político. De resto, a presença
volumosa dos imigrantes nessa universidade permite a importação
e a expressão de perspectivas que não floresceriam,
talvez, espontaneamente no local. Para dar apenas um exemplo:
num livrinho introdutório e esclarecedor sobre a filosofia
pós-analítica norte-americana (Giovanna Borradori,
"The American Philosopher", Univ. of Chicago Press),
uma filósofa italiana inclui, na vertente política
dessa filosofia, ao lado de Thomas Nage, Ronald Dworkin, T.M.
Scanlon e outros, o nome de Roberto Mangabeira Unger, "the
brazilian of Yale", nas palavras de Rorty.
Folha As escolas brasileiras de filosofia são,
historicamente, inclinadas à influência européia,
sobretudo da França e da Alemanha. De que modo esta relação
histórica determina a resistência ou a indiferença
acadêmica no Brasil ao pensamento formulado nos Estados
Unidos?
Prado Jr. Tenho a impressão que sua
descrição é mais verdadeira para o passado
(embora um passado próximo) do que para o presente. Indo
um pouco mais longe no tempo pode-se dizer que, nos meus tempos
de estudante, sim, havia perfeita indiferença pela filosofia
produzida nos Estados Unidos. Lembro-me, mesmo, de minha irritação
durante a leitura da "Filosofia Científica",
de Hans Reichenbach, um dos imigrantes que levou para os Estados
Unidos o positivismo (particularmente quando qualificava o hegelianismo
como o paradigma da má filosofia, ou quando dizia que o
"To be or not to be", de ''Hamlet'', não exprimia
um dilema e sim uma tautologia). Mas, mais do que resistência
ou indiferença, tratava-se de ignorância. Hoje em
dia, a paisagem é completamente diferente. Num congresso
recente da Associação Nacional de Pós-Graduação
em Filosofia um colega francês, militante antianalítico,
ficou escandalizado: mas só se faz filosofia analítica!
O que era exagero, certamente. Mas não deixei de responder-lhe
com uma pergunta: e, no resto do mundo, é muito diferente?
Folha Em que termos se poderia estabelecer uma conversação
entre estes dois pensamentos "jovens", o brasileiro
e o norte-americano?
Prado Jr. Sem dúvida, trata-se de
uma conversação que nos interessa a nós,
brasileiros, no mais alto grau. A despeito da gigantesca distância
que nos separa dos Estados Unidos em termos de riqueza material
e cultural, há algo de comum: uma posição
periférica no mundo, num passado não muito distante
para os Estados Unidos, no presente para o Brasil. Nem faltará
a expressão literária do sentimento da oposição
periférica nas duas literaturas ou do espírito do
"transoceanismo", da dolorosa aspiração
à uma inacessível europeização, com
todo o esnobismo que isso implica. Basta lembrar, no que concerne
ao país do norte, a personalidade literária de T.S.
Eliot e seu ascético e penoso esforço de anglicização
total. Pensemos, também, nos dois casos, a composição
da população, a volumosa imigração
européia, as marcas deixadas pelo escravismo, o modo de
ser multirracial. Se filosofia tem algo a ver com cultura e sociedade,
é claro que a experiência norte-americana deve ser
iluminadora para quem reflete no Brasil.
Mas, se temos esse interesse, não sei se já temos
os recursos para encetar coletivamente essa conversação.
Se a filosofia americana é "jovem" como a nossa,
ela dispõe, ao contrário da nossa, de mais de uma
tradição. A filosofia brasileira, de seu lado, e
aqui concordo com Paulo Arantes, ao contrário da literatura
e das ciências sociais, não completou seu ciclo de
formação. E é só quando esse ciclo
se fecha que se pode falar propriamente de tradição,
como um facho que uma geração pode transmitir para
a que se segue. Em vão procuraríamos em Tobias Barreto,
por exemplo, o instrumento para descrever, ou simplesmente inventar,
uma tradição brasileira de filosofia, como Stanley
Cavell fez com Emerson e Thoreau.
FILOSOFIA
NORTE-AMERICANA
PIONEIROS
Ralph Waldo Emerson (1803-1882) Embora tenha
sido um leitor ávido de filosofia, religião e literatura,
Emerson não foi um pensador sistemático. Influenciado
pelos românticos ingleses e alemães, é considerado
o expoente do transcendentalismo. Para os transcendentalistas,
a razão e não o mundo das aparências
é o único meio de atingir a "verdade"
filosófica. Idealista, Emerson acreditava na evolução
contínua do espírito. Como os românticos,
postulou a interação entre natureza e razão,
mas a contrabalançou com a necessidade de realização
prática de tais princípios. Escreveu, entre outros,
''Natureza'' (1836) e ''Ensaios'' (1841).
Henry
David Thoreau (1817-1862) Escritor e naturalista,
Thoreau teceu suas considerações filosóficas
a partir da observação da natureza em "Walden",
(1854), sua obra mais importante. Fez parte, junto com Emerson,
do movimento transcendentalista. Reformador, pregou a desobediência
civil ao facilitar a fuga de escravos. Seu ensaio ''Desobediência
Civil'', de 1849, influenciou a ação política
de líderes do século 20, como Gandhi e Luther King.
Charles
Sanders Peirce (1839-1914) Foi o primeiro a
formular o termo pragmatismo. Lecionou filosofia e química.
Em dois artigos fundamentais ''A Fixação
da Crença'' e ''Como Tornar Nossas Idéias Claras''
(1877-78), Peirce estabeleceu os fundamentos de sua
filosofia, procurando superar a dicotomia entre signo e pensamento.
O signo, como convenção social, supõe um
objeto de que se fala o referente e
uma pessoa que o interpreta. Assim, no ato de interpretar de
transferir valores ao signo a pessoa que interpreta
se torna, ela própria, um signo.
William James (1842-1910) Foi o sistematizador
do pragmatismo. Influenciado pelo místico Swedenborg, James
se distingue de Peirce por dar maior valor aos fenômenos
psíquicos. Em seus ''Princípios de Psicologia'',
de 1890, criticava a psicologia, defendendo uma abordagem filosófica
dos problemas psíquicos. Em seu ensaio mais famoso, ''A
Vontade de Acreditar'', de 1897, ataca violentamente o neo-hegelianismo
e o darwinismo social, acusando-os de desacreditar o poder pessoal
do indivíduo. Para James, o indivíduo não
se pode fixar em uma crença moral ou religiosa. Ele deve
procurar a novidade, a ''vontade de acreditar'' que está
além de quadros conceituais previamente definidos. Foi
irmão do escritor Henry James.
John Dewey (1859-1952) Educador e reformista
social, a princípio influenciado pelo idealismo de Hegel,
Dewey, no final dos anos 1890, passou a se dedicar a questões
mais objetivas, como prática do ensino. Suas idéias
inovadoras modificaram profundamente as práticas pedagógicas
no final do século 19 nos EUA. Para Dewey, a criança
é uma criatura ativa e inquisidora. Assim, cabe ao educador
''alimentar'' esta disposição da criança
para o conhecimento e para o novo. Suas teses mais importantes
estão em ''Experiência e Natureza'', de 1925.
CONTEMPORÂNEOS
Nelson Goodman (1906) O pensamento de Goodman propõe
que toda criação artística é um objeto
único. Para Goodman, não é possível
haver semelhança entre objetos distintos. Cada obra-de-arte
constituiria, desse modo, uma "versão" fechada
do mundo.
Willard van Orman Quine (1908) É o filósofo
americano mais influente do pós-guerra. Em ''A Partir de
um Ponto de Vista Lógico'' (1953), refutou as teses dos
positivistas lógicos do Círculo de Viena, como Carnap.
Estudioso das relações entre lógica e linguagem,
Quine criticou a distinção entre enunciados ''analítico''
e ''sintético'', chamando-a de artificial. Para ele, todo
enunciado deve sua existência, em primeiro lugar, à
realidade empírica a realidade objetiva, e
não apenas à linguagem.
Donald Davidson (1917) Leciona na Universidade da
Califórnia. Foi discípulo de Quine, mas logo criticou
a concepção de linguagem de seu mestre, chamando-a
de cartesiana. Para Davidson, Quine crê que a linguagem
e o pensamento sejam capazes de ''organizar'' a realidade dos
sentidos. Ao contrário, linguagem, mundo e pensamento constituem
um todo interligado, que se influencia mutuamente. Assim, essas
partes não podem, de modo algum, ser consideradas em separado.
Suas teses se encontram sobretudo em ''Ações e Outros
Eventos'' (1980) e ''Da Verdade e da Interpretação''
(1984).
Thomas
S. Kuhn (1922-1996) Filósofo da ciência,
foi professor em Harvard. Em "A Estrutura das Revoluções
Científicas" (1962), sua obra mais importante, Kuhn
critica a tese de que a história da ciência seja
uma mera acumulação de dados e teorias bem-sucedidas.
A ciência, ao contrário, é resultado de fracassos
e passos em falso. Sua evolução, para Kuhn, é
fruto da ruptura com paradigmas que se tornaram insuficientes.
As teses de Kuhn acabaram por colocar em xeque, no fim dos anos
60, a crença na racionalidade e objetividade da ciência.
Arthur C. Danto (1924) É professor da Universidade
de Columbia. Seu pensamento destaca-se pelo variedade de interesses.
À formação estritamente analítica
vem se juntar o interesse pelo moral, epistemologia e filosofia
da história. Mas sua originalidade está na ligação
entre filosofia e estética, em que o instrumental analítico
é utilizado para revelar a beleza intrínseca da
obra-de-arte. Assim, em "A Transfiguração do
Lugar-Comum'' (1981), Danto defende que a filosofia deve "decompor"
a obra-de-arte para, então, "reconstruí-la"
a partir de um novo prisma.
Hilary Putnam (1926) Professor em Harvard, tem uma
vasta obra filosófica. Putnam interessou-se por ética,
filosofia da linguagem e epistemologia. Leitor dos pensadores
frankfurtianos, como Habermas, apoiou, nos anos 60, os protestos
contra a Guerra do Vietnã. Essa inquietude reflete uma
crítica à compartimentação intelectual
dos filósofos analíticos, como Carnap. Para Putnam,
a filosofia não pode se restringir a construir arcabouços
conceptuais, mas incorporar a realidade empírica à
esfera dos conceitos. Suas principais teses estão em ''As
Muitas Faces do Realismo'', de 1987.
Richard Bernstein (1932) Professor da New School
of Social Research (Nova York), Bernstein estuda a relação
entre o pragmatismo de Peirce e o marxismo. Bernstein nega a possibilidade
das grandes sínteses totalizadoras. Mas, ao mesmo tempo,
admite que isso levou ao esvaziamento do termo "humanismo".
A solução estaria em adotar uma postura pragmática,
admitindo que as relações entre os homens não
são mais naturais, mas, sim, "construídas".
Escreveu, entre outros, "Além do Objetivismo e do
Relativismo - Ciência, Hermenêutica e Práxis",
de 1983.
Robert Nozick (1938) Também professor em
Harvard, Nozick combinou o rigor da filosofia analítica
com o anarquismo inspirado em Henry Thoreau. Em "Anarquia,
Estado e Utopia", Nozick defende a idéia de "Estado
mínimo". Um Estado de grandes proporções
significa coerção aos direitos do indivíduo.
Já em "Explicações Filosóficas"
(1981), seu livro mais famoso, Nozik critica a excessiva atomização
da filosofia atual. Fechada em fórmulas muito elaboradas,
a filosofia, para Nozick, é hoje incapaz de "compartilhar"
o conhecimento com o resto da humanidade.