"FOLHA DA NOITE" CONVERSA COM O ESCRIPTOR ORIGENES LESSA
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Publicado
na Folha da Noite, São Paulo, segunda-feira, 30 de maio de
1932.
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Neste
texto foi mantida a grafia original
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A
Radio Sociedade Record está na ordem do dia. Ou pela sua
campanha de socios, que esta alcançando um exito superior
a todas as expectativas, ou por ter iniciado uma éra nova
para a radio-telephonia em S. Paulo, a verdade é que a
estação da Praça da Republica é assumpto
permanente de palestras. Principalmente quando se aproxima alguem
ligado á popular estação transmissora. Foi
esse o caso de Origines Lessa, o "conteur" de "Garçon,
Garçonnette, Garçonniére" e de "A
Cidade que o Diabo esqueceu". Um encontro casual com o homem
que faz a publicidade dos artistas da Record encaminhou naturalmente
a palestra para as ultimas actividades da operosa estação.
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Então, Origenes, o que é que se faz?
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A
resposta - chapa:
Trabalha-se.
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Novos livros?
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Não, eu não. Trabalha a Record. Venho de lá agora.
Quando se fala em trabalho, neste tempo, é sempre em referencia
á Record. Vocês não têm visto?
E Origenes Lessa conta-nos o que se faz naquella casa. Fala mais
uma vez na já famosa companha dos 5.000, refere-se aos constantes
melhoramentos nos programmas da PRAR.
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E quanto aos artistas? Coisa boa?
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Quem tem radio em casa responderia melhor do que eu.
A Record tem apresentado, nos seus programmas, que se prolongam
por nove horas diarias, os melhores artistas que é possivel encontrar
em S. Paulo. Você deve ter ouvido, através do nosso microphone.
Alonso Annibal, uma das nossas glorias artisticas, Frank Smit, genio
de importação, que fez primeiro nome na Europa, e até no Japão,
para vir ancorar na Record, Clarisse Leite, Virginia Leoni, e muita
gente mais de valor. Por estes dias o violinista Torquato Amore
deverá executar um concerto magnifico de musicas modernas, em que
serão apresentadas pelo menos tres peças ineditas para S. Paulo.
Em materia de cantores, a Record tem incluido nos seus programmas
artistas de valor excepcional. Abigail Alessio, Herminia Russo,
Giradelli, Ardenia Pacchini, Mathilde Russo, Branca Caldeira de
Barros e Armando Bertazzoni, não são nomes regionaes. Estão consagrados
pelas platéas de fóra. Uns na Italia, outros na França, outros nos
Estados Unidos, como Abigail Parecis, já tinham uma longa carreira
artistica quando se apresentaram deante do nosso microphone. Mesmo
sem fama internacional, muito difficil de controlar, aliás, outros
artistas de valor são constantemente incluidos nos programmas da
Record: Emma da Rocha Brito, Lindomar Torre, Annita Gonçalves, Irene
Cunha Bueno, Julita Perez são nomes bastante conhecidos. Foi a Record
que lançou uma das cantoras mais interessantes que possuimos: Alma
Cunha de Miranda. Ainda ha pouco despediu-se de S. Paulo, pelo microphone
da PRAR, a cantora Julieta Azevedo. Foi para Roma, cantou o "Rigoletto",
no Theatro Adriano, e os telegrammas e criticas que chegam são para
a nossa artista uma verdadeira consagração bem documentada. E ha
mais: Abruzzini, Antonio Alliegro, João Girardeli, gente e mais
gente que não havia tempo para enumerar nem espaço para conter,
se é que você vae pôr tudo isso no jornal...
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Sugerindo uma entrevista, não é?
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E com retrato, se possivel. Você compreende...
Contanto que não me ponha entre os cantores, e muito menos entre
as cantoras, apesar da amabilidade da companhia...
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E os programmas regionaes? Perguntámos, para conter em
tempo a maré de cabotinismo pessoal do escriptor
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Alguns nomes e basta; Pescuma que faz tambem regionalismo
argentino lançando constantemente novidades em materia de tango;
Januario de Oliveira, estylizador da malandragem cantada e vivida
; Barreto, Heleno Pinto de Carvalho, Rachel de Freitas, e essa garotinha
extraordinaria que é a Elyy Barreiros...
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Uma verdadeira artista...
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Eu ia dizer isso. Se sahir a entrevista, diga
que a phrase é minha...
Depois
de uma pausa, em que nos offerece um cigarro nacional ("mas
não diga isso, fale em Abdulla, que é mais chic...")
Origenes accrescenta:
Mario de Andrade e o nosso Torre, maestro José Torre, para
effeitos de publicidade, estão cuidando de uma coisa interessantissima:
a estylização das nossas musicas regionaes. O microphofone
da Record dirá logo o que vae ser a coisa...
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E a parte falada?
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É com Ladeira dos jaquetões para effeito literario,
o homem que mais soffre com a falta de televisão. Elle e o Nobre
falariam de cadeira sobre o assumpto. São elles que têm os "Radio-Picles",
fabricados pelo Genolino Amado, pelo Cesar Ladeira, o chronista,
não o "speaker", e alguns por mim. A Record tem feito o possivel
para amenizar a onda de annuncios que recebe. Sketches humoristicos,
alguns realmente interessantes (alguns são feitos por mim...
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Os interessantes?
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Oh! bondade sua. ... Mas o facto é que a Record
tem introduzido uma série de innovações muito curiosas. Espere pela
Hora X, do Ladeira e do Marcellino de Carvalho, e verá ... O programma
infantil aos domingos, tem sido outro sucesso. Quem deve falar sobre
elle é o Nobre, que o organiza, auxiliado por Alma Cunha de Miranda.
Por tudo isso, você vê o que tem feito a Record, desde que Jorge
Alves de Lima, Paulo M. de Carvalho, J. B. Amaral e A. C. Mesquita,
amparados pelos conhecimentos technicos do dr. Leonardo Jones, pisaram,
ha menos de um anno, dentro do então pardieiro da Praça da Republica...
Offerecimento
de cigarros, fumarada ociosa.
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E de literatura? Como vamos? Algum livro novo?
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Origenes Lessa, já francamente entrevistado, faz
um gesto vago:
Ora... Nós estamos falando sobre a Record...
Mas
não póde resistir muito tempo:
Por signal que a Record vae tambem editar livros ...
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Livros?
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Sim, um meu. As "Aventuras e Desventuras
de um cavallo de pau", que foram lidas na Hora Infantil. Cincoenta
ilustrações do Villin. Uma bella capa...
E
fazendo força por parecer modesto...
Os ouvintes insistiram tanto...
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