A MARCHA TRIUMPHAL DO MOVIMENTO CONSTITUCIONALIZADOR
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Publicado
na Folha da Manhã, terça-feira, 12 de julho de 1932
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Neste texto foi mantida a grafia original
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A vanguarda constitucionalista attingiu cruzeiro na manhã de hontem
o dr. Pedro de Toledo acclamado governador do estado, após
haver renunciado á interventoria o enthusiasmo da população
paulista a mocidade alista-se em massa as forças de
Matto Grosso em caminho para S. Paulo chega hoje ás 8 horas
o gen. Bertholdo Klinger, desembarcando na estação da luz
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A
decisão do governo dictatorial, reformando administrativamente o
general Bertholdo Klinger, comandante da Circumscripção Militar
de Matto Grosso, serviu para apressar a irrupção do movimento civil
e militar que neste momento empolga São Paulo. O movimento foi julgado
indispensavel diante do desgoverno que a dictadura, que só buscava
prolongar-se, vinha mantendo o paiz. Preparada ha algum tempo, a
articulação entre os diversos nucleos militares e civis ia se processando
reservada e lentamente. Os mais influentes lideres do Exercito,
da Força Publica e dos partidos politicos paulistas preparavam o
ambiente e tornavam-n-o propicio ao lançamento da semente que haveria
de fazer geminar a revolução constitucionalista. O general Isidoro
Dias Lopes, apoiado francamente pelo governo do Estado sustentado,
por sua vez pela Frente-Unica, contava desde logo com a totalidade
da milicia estadual e com toda a guarnição do Exercito. Em Matto
Grosso, os entendimentos eram feitos com o general Klinger, que
tinha a seu favor a tropa sob seu commando e os elementos da policia
do Estado. Nos outros Estados, Minas e Rio Grande, os elementos
da Frente-Unica constitucionalista tomaram a si a tarefa de fazer
a propaganda do movimento.
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Quando
Devia Irromper a Revolução
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Assim processados os preparativos para a revolução, estava o seu
irrompimento marcado para o dia 14 deste mez, quando deveria ser
dado o signal convencionado. A attitude tomada pelo chefe do governo
provisorio, porém, reformando e mandando substituir immediatamente
o general Bertholdo Klinger, no commando da circumscripção de Matto
Grosso, fez com que, em uma reunião havida entre os chefes da Frente-Unica
paulista e alguns militares, na residencia do dr. Barbosa Ferraz,
á rua Sergipe n.o 37, fosse tomada a deliberação de serem os acontecimentos
precipitados para que se evitasse uma possivel dispersão de forças.
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A
Declaração do Movimento Constitucionalista
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Foi neste ambiente que os chefes militares, os commandantes de todos
os corpos de forças federaes e estaduaes foram convocados para a
reunião realizada no sabbado, ás 12 horas, no quartel general provisorio,
installado á rua Conselheiro Chrispiniano, com a presença do coronel
Euclydes de Figueiredo que havia chegado momentos antes da Capital
do paiz. E, nessa reunião memoravel, presidida, como todas as outras
preparatorias, pelo general Isidoro Dias Lopes, todos, excepção
do commandante de Quitaúna, immediatamente substituido, foram accordes
em dar inicio, immediatamente, á revolta constitucionalizadora,
tendo, toda a officialidade, o commandante Salgado inclusive, sahido
para coordenar as forças sob seus comandos, afim de que todas pudessem
entrar em actividade ainda aquelle dia. O coronel Euclydes de Figueiredo
assumiu no mesmo instante o commando da 2a. Região Militar, nomeando
o coronel Palimercio de Rezende para chefe do estado-maior e o coronel
Kingelhoefer para commandante do sector, e, logo a seguir, assignou,
juntamente com o general Isidoro, um appello ao povo paulista em
que declaravam haver assumido as supremas responsabilidades do commando
das forças revolucionarias e pediam que todos os secundasse na acção
de manter a ordem e a disciplina entre o povo, appello esse que
publicamos em a nossa edição de domingo.
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A
Renuncia do Interventor Pedro de Toledo
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O embaixador Pedro de Toledo telegraphou então, ao sr. Getulio Vargas,
depondo em suas mãos a investidura que havia recebido de seu delegado
em São Paulo, declarando-se francamente ao lado dos paulistas que
se levantavam num movimento geral de autonomia. No dia seguinte,
todos os elementos politicos militares e populares o proclamavam
governador de São Paulo.
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A
Primeira Noite da Revolução
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Á noite, depois das 21 horas, a cidade começou a conhecer as primeiras
noticias sobre o movimento. E o povo procurava, nas immediações
do Quartel General e dos Correios e Telegraphos, já a essa hora
tomados pela Força Publica e pelo Exercito, conhecer a intensidade
da reacção paulista. Dahi a pouco as tropas da Cavallaria da Força
Publica e do 4º B. C. appareciam, convenientemente equipadas
e armadas, para dar a todos a certeza de que era um facto real,
a revolução paulista contra a dictadura e pela restauração immediata
da ordem juridica sem a qual, povo algum civilizado póde viver.
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Um
Manifesto da Frente-Unica
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Cidadãos e soldados do Brasil! O movimento revolucionario,
que irrompeu triumphalmente, em S. Paulo e em Matto Grosso, e que
se alastra pelo paiz inteiro, ganhando todas as consciencias e pondo
em vibração patriotica todos os corações, não visa senão libertar
o Brasil da dictadura estupida e mesquinha que o enxovalha e degrada.
As tropas federaes aquarteladas em S. Paulo, cedendo á irresistivel
pressão da opinião publica do Estado e do paiz, tomaram a iniciativa
dessa jornada de redempção e de gloria. E a milicia policial do
Estado, como todo o povo paulista na mais impressionante unanimidade,
tomou posição decidida ao lado dos que combatem a dictadura. Chega
de Matto Grosso, com a sua tropa, o general Klinger. Movimentam-se,
no Rio Grande do Sul, as forças solidarias com a frente unica politica
daquelle Estado para vir collaborar na arrancada sublime. Agita-se,
em Minas, a opinião popular e, na Capital da Republica, onde vacilla
o mais impopular e nefasto governo que já teve o Brasil, se prepara,
irresistivelmente, a sublevação geral de todos os elementos. Assim,
nada conseguirá deter a onda avassaladora do movimento paulista.
Ella é invencivel como a liberdade e a lei, que a dictadura pretendeu
acorrentar e negar! Avante, pois, pela Constituição e pelo Brasil
Unido!
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