GEISEL COMEÇOU REDEMOCRATIZAÇÃO E FIGUEIREDO FEZ "ABERTURA POLÍTICA"


Publicado na Folha de S.Paulo, domingo, 27 de março de 1994

Da Redação

Em agosto de 1969, o presidente Costa e Silva sofreu um derrame. O Alto Comando das Forças Armadas decidiu que o vice-presidente, Pedro Aleixo, não poderia assumir, e passou o poder para uma junta militar. A escolha do sucessor de Costa e Silva terminou com a vitória de Emílio Garrastazu Médici, ficando em segundo lugar o general Orlando Geisel (do grupo castellista), nomeado ministro do Exército.
O grupo castellista se rearticulou e obteve o apoio de generais do Alto Comando. Orlando Geisel sugeriu ao presidente Médici o nome de seu irmão, o general Ernesto Geisel, escolhido presidente pela Arena, derrotando Ulysses Guimarães, do MDB.
Geisel iniciou o processo de redemocratização —chamado de "distensão". A oposição venceu as eleições para o Senado em 16 Estados e em 1976 Geisel editou a Lei Falcão, impedindo candidatos de apresentarem seus programas na TV. Mesmo assim, estudo do SNI mostrou que o MDB poderia eleger vários governadores.
Em abril de 1977, Geisel decretou o fechamento do Congresso. Depois disso, retomou os entendimentos com a oposição. No final de 1978, a Lei de Segurança Nacional foi abrandada e o AI-5 foi revogado.
A "linha-dura" continuava ativa. Em 24 de outubro de 1975, o jornalista Vladimir Herzog foi morto nas instalações do Doi-Codi. Em 17 de janeiro de 1976, o metalúrgico Manoel Fiel Filho morreu torturado no Doi-Codi. A versão divulgada foi a de suicídio. Geisel afastou o comandante do 2º Exército.
Em 1977, a "linha-dura" sofre outra derrota. O ministro do Exército, Sylvio Frota, era o candidato da facção à Presidência. Mas Geisel já tinha escolhido o seu candidato à sucessão, o chefe do SNI, general João Baptista Figueiredo.
O governo Figueiredo iniciou a segunda fase da redemocratização, chamada de "abertura política". Em 1979, o Congresso aprova a Lei da Anistia e a reforma partidária. As eleições de 1980 foram adiadas, mas acertou-se que as de 82 seriam diretas.
A "linha-dura", enquanto isso, intensificava as atividades dos grupos paramilitares. Os atentados prosseguem até o dia 30 de abril de 1981, com o atentado ao centro de Convenções do Riocentro. O chefe da Casa Civil, general Golbery do Couto e Silva, exigiu a punição dos culpados. Figueiredo preferiu fazer um acordo, e Golbery deixou o governo. Ninguém foi punido, mas os atentados cessaram.
No campo econômico, a crise começou em 1981. O PIB caiu 4,5% e a inflação continuou alta: 97%. Nesse período ressurgem as greves nas cidades do ABC paulista. A crise econômica solapava as bases de apoio do governo que, nas eleições de 1982, perdeu a maioria na Câmara, mas manteve a maioria no Colégio Eleitoral.
Apesar da maioria no Colégio Eleitoral, o PDS já mostrava sinais de divisão. No final do ano, quatro candidatos civis se preparavam para disputar a indicação à Presidência. O único militar, o ministro-chefe do SNI, Otávio Medeiros, teve a candidatura abalada por denúncias contra o órgão.
Começa então o movimento das diretas, em novembro de 1983, em São Paulo.O movimento ganha a adesão de várias entidades civis. Em fevereiro de 1984, a emenda das diretas é derrotada.
O PDS se dividiu irremediavelmente após a campanha. Em julho, é formalizada a Frente Liberal, que faz uma aliança com o PMDB em torno da candidatura de Tancredo Neves. Diante dos sinais de que o PMDB venceria a eleição indireta, setores da "linha-dura" militar se articularam para tentar um golpe. Enfrentam resistência de militares que já tinham se aproximado de Tancredo. Em 15 de janeiro de 1985, a chapa Tancredo/Sarney derrota os pedessistas. Era o fim do regime militar.

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