Da Redação
As origens do movimento de 1964 remontam às crises militares
que se sucediam desde 1954 (Jacareacanga, Aragarças). Até
então, porém, esses movimentos fracassavam porque
a maioria dos oficiais mantinha posição de respeito
à legalidade. No governo Goulart, porém, três
episódios revolta dos Sargentos, revolta dos Marinheiros
e festa no Automóvel Clube abalaram a lealdade dos
oficiais ao presidente, provocando sua queda.
A primeira crise surgiu em 12 de setembro de 1963. Quinhentos sargentos
da Aeronáutica e da Marinha se sublevaram em Brasília
em protesto contra uma decisão do Supremo Tribunal Federal,
que vetou a diplomação dos sargentos eleitos em 1962
(pela Constituição, os militares eram inelegíveis).
Os rebeldes ocuparam os Ministérios da Marinha e da Aeronáutica,
a Base Aérea e o aeroporto. O ministro da Guerra, general
Jair Dantas Ribeiro, conseguiu sufocar o movimento que provocou
duas mortes e algumas dezenas de feridos.
Os sargentos rebelados faziam parte da frente nacionalista, que
apoiava João Goulart. O presidente adotou posição
ambígua face ao movimento. Seus aliados à esquerda
(FMP, CGT, UNE) se declararam solidários à reivindicação
dos sargentos e pediram que os rebeldes fossem anistiados.
A rebelião solapou a lealdade de muitos oficiais, para os
quais Goulart promovia a indisciplina nas Forças Armadas.
O comandante do 2º Exército, general Peri Bevilacqua,
legalista que apoiou decisivamente a posse de Goulart em 1961, culpou
a CGT pela insurreição. Acabou substituído
pelo general Amaury Kruel.
Em outubro, nova crise: o governador Carlos Lacerda (UDN) fez duras
críticas a Goulart através da imprensa. Os ministros
militares consideraram a entrevista injuriosa, e sugeriram a Goulart
a decretação do estado de sítio para afastar
Lacerda do governo e conter os radicais de direita e esquerda. Em
4 de outubro, Jango envia o pedido ao Congresso. No entanto, a bancada
do PTB temia que o presidente aproveitasse a medida para afastar
também o governador Miguel Arraes, de esquerda. Sem apoio
em seu próprio partido, Jango retirou o pedido no dia 7.
A derrota reduziu ainda mais seu apoio junto à oficialidade.
No final do ano, politicamente isolado, Goulart decide se aliar
à ala radical do PTB, liderada por Leonel Brizola. Um sinal
dessa aliança é a nomeação, no início
de dezembro, do almirante nacionalista Cândido Aragão
para o comando dos Fuzileiros Navais, decisão que provocou
um protesto público de 26 oficiais da Marinha.
A opção de Jango se consumou no comício em
frente à Central do Brasil, no Rio, que reuniu 150 mil pessoas.
Ao lado de Brizola, Jango proclamou a necessidade de mudar a Constituição
e anunciou a adoção de dois decretos: a encampação
das refinarias particulares de petróleo e a desapropriação
das propriedades às margens de estradas e rodovias para reforma
agrária.
A campanha contra Goulart recrudesceu, mas muitos militares ainda
hesitavam em aderir aos rebeldes. A Revolta dos Marinheiros, em
25 de março, definiu a posição dos oficiais.
Nesse dia, um grupo de marinheiros e fuzileiros navais, liderados
pelo marinheiro José Anselmo dos Santos, compareceu a uma
reunião no Sindicato dos Metalúrgicos, onde exigiram
a revogação da ordem de prisão contra diretores
da Associação dos Marinheiros e Fuzileiros Navais,
entidade considerada ilegal pelo ministro da Marinha, Sílvio
Mota.
O ministro Sílvio Mota considerou o ato subversivo e mandou
um contingente de 100 fuzileiros para prender os insubordinados.
Entretanto, a maior parte dos fuzileiros aderiu à rebelião,
com apoio do próprio comandante, o almirante Aragão.
Mota demitiu-se. Em 26 de março, o novo ministro, almirante
Paulo Mário, negociou com os revoltosos. No dia 27, sexta-feira
santa, eles deixaram o sindicato, foram presos e algumas horas depois,
libertados. Goulart assinou decreto anistiando os revoltosos.
A anistia revoltou os oficiais. No Clube Naval, um grupo de almirantes
hasteou a bandeira a meio pau. Mais de duzentos oficiais lançaram
manifesto responsabilizando o governo pela quebra da disciplina.
O estopim do golpe surgiu dia 30. Os sargentos e subtenentes da
PM convidaram Goulart para a festa de aniversário da sua
associação, no Automóvel Clube do Rio. Apesar
das advertências para não ir, Goulart decidiu, na última
hora, comparecer à solenidade. Os oficiais esperavam que
o presidente condenasse a insubordinação nas Forças
Armadas. Num discurso de improviso, porém, Jango solidarizou-se
com as reivindicações dos policiais e elogiou os sargentos.
Em Minas, ao ouvir o discurso, o general Olympio Mourão Filho
concluiu que havia chegado a hora do levante.
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