A inflação oficial de dezembro ficou em 53,55%, conforme divulgou ontem o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Esse índice só foi superado pelo IPC de janeiro, 70,28%, inflado artificialmente com o "choque verão". Os ministros da área econômica ficaram "surpresos", segundo o ministro do Planejamento, João Batista de Abreu. "O índice foi puxado pelos preços dos alimentos e pelos reajustes agressivos das tarifas públicas", explicou Abreu.
A divulgação do índice da inflação, que alcançou no ano o recorde de 1.764,87%, detonou uma série de reajustes: o salário mínimo mensal de janeiro passou a NCz$ 1.283,95; os depósitos em cadernetas de poupança serão reajustados em 54,3177%; e o saldo do FGTS terá correção de 53,93%. Aluguéis terão, em janeiro, um reajuste de 576,62% nos contratos semestrais e 1.383,75% nos contratos anuais. Os contratos novos com cláusulas de reajuste quadrimestral assinados em setembro sobem 306,28% em janeiro.
A caderneta de poupança para pessoa jurídica, com reajuste trimestrais, terá em janeiro reajuste de 203,3474%. Também foi corrigida a tabela do Imposto de Renda. Os salários de janeiro de até NCz$ 6.242,62 ficarão dispensados de recolhimento do imposto na fonte. A Receita Federal anuncia hoje a tabela com o novo limite de isenção.
O abatimento por dependente passará a NCz$ 438,07 e as faixas de salário entre NCz$ 6.242,62 até NCz$ 20.808,42 pagarão 10% de imposto. Acima dessas faixas, é cobrado imposto de 25%. A tabela que entra em vigor incorpora um reajuste de 35% acima da inflação, feito para garantir os ganhos salariais obtidos em 1989. O reajuste ao salário mínimo decretado ontem pelo presidente José Sarney garante um aumento de 6,09% acima da inflação, já previsto em lei.
O ministro do Planejamento, na véspera informado de que a inflação ficaria em torno de 53,6% afirmou ontem que não há indicações de um estouro inflacionário. "Não temos projeções do índice ainda, mas os acompanhamentos paralelos de preços, como o da Sunab, não endossam as expectativas de 70% em janeiro, como há no mercado". Abreu explicou que os itens alimentação e habitação foram os que mais pesaram no índice de dezembro.
Abreu garantiu que o resultado de dezembro será tratado sem choque pela equipe econômica. "Estamos administrando as expectativas. Cabe ao ministro (da Fazenda) Maílson (da Nóbrega) mostrar aos empresários que não há razões macroeconômicas para que aconteça nada de insano", declarou ele.