CONSTRUÇÃO DE 7 QUEDAS ACORDO BRASIL-PARAGUAI


Publicado na Folha de S.Paulo, terça-feira, 21 de janeiro de 1964

Neste texto foi mantida a grafia original

O Brasil e o Paraguai chegaram a um acordo de principios para a construção de maior usina hidreletrica do mundo. Conforme antecipou a FOLHA, em furo internacional, em sua edição de sabado, os presidente João Goulart e Stroessner encontraram-se anteontem, em uma fazenda no interior de Mato Grosso, e acertaram os entendimentos para a exploração do potencial eletrico de Sete Quedas. Nos proximos dias um grupo de tecnicos brasileiros irá à capital paraguaia para discutir os pormenores do acordo.

Sete Quedas: Brasil e Paraguai chegam a um acordo

BRASÍLIA, 20 (FOLHA) - Brasil e Paraguai acertaram os ponteiros para a construção da maior usina hidreletrica do mundo: os presidentes Goulart e Stroessner encontraram-se ontem, em uma fazenda no interior de Mato Grosso, e chegaram a um acordo de principios para a exploração do potencial de Sete Quedas.
O anuncio oficial sobre as conversações foi feito pelo proprio sr. João Goulart, esta tarde, no curso de uma entrevista coletiva em sua residencia, na Granja do Torto. Nos proximos dias (o presidente estava à procura do ministro das Relações Exteriores para transmitir-lhe as ordens necessarias) um grupo de tecnicos brasileiros irá até à capital paraguaia para discutir os pormenores do acordo. E o presidente Goulart, convidou pelo general Stroessner para visitar Assunção, disse que espera ir ao Paraguai muito em breve, e já para assinar o convenio definitivo entre os dois paises.

Nota oficial

A nota da presidencia da Republica sobre as conversações, lida aos jornalistas pelo gen. Amauri Kruel, que foi o elemento de contato entre os chefes de governo e participou do encontro, é a seguinte:
"Na visita particular que o gen. Kruel fez ao presidente Stroessner, em Assunção, ficou acertado um encontro informal entre os dois presidentes, a fim de trocar idéias, de modo geral, sobre a construção da usina de Sete Quedas.
"Dia 19, reuniram-se os presidentes Goulart e Stroessner, na fazenda Três Marias, em Mato Grosso, cujo entendimento foi o mais fraterno, tendo ambos chegado à maior sintonia de pensamentos, com integral respeito à soberania das duas nações, reafirmando mais uma vez a sincera amizade entre os dois povos.
"Nos proximos dias, o presidente Goulart enviará a Assunção representantes do governo brasileiro, a fim de assentarem as normas que orientarão as bases definitivas para a construção da maior usina de energia eletrica do mundo."

JG explica

O presidente Goulart abriu a entrevista com os jornalistas explicando por que fora obrigado a negar o encontro com o general Stroessner, quando o interrogaram sobre o assunto, no ultimo sabado. Disse ele que as conversações eram informais e, assim sendo, somente com o consentimento do visitante poderia torná-las publicas. Ademais, o tempo sobre o Pantanal de Mato Grosso é extremamente instavel nesta epoca e, se as condições atmosfericas não permitissem a aterragem do avião que conduzia Stroessner, o encontro seria adiado.
Sobre as conversações, pouco revelou o sr. João Goulart. Tiveram a duração de quase seis horas e, a grosso modo, versaram sobre todos os problemas da construção. Entretanto, todas as perguntas feitas pelos jornalistas sobre financiamento, forma de exploração e implicações politicas ficaram sem resposta: o chefe do governo limitava-se a dizer que os pormenores seriam discutidos pelos tecnicos.
Sua preocupação principal, de acordo com suas proprias palavras, foi a de eliminar o clima que vinha sendo fomentado no Paraguai com respeito ao empreendimento.
- "Disse claramente que nada temos de imperialistas, mas de irmãos" - afirmou Goulart. E prosseguiu: "Conversamos primeiro com o Paraguai porque ele é tão dono das aguas do rio quanto nós. Acertada a construção, vamos examinar as possibilidades de a Argentina e o Uruguai - paises que podem beneficiar -se com a energia a ser produzida - tambem com sua colaboração. Participaremos todos, como irmãos".

"Outros a concluam"

A hidreletrica de Sete Quedas vai ser iniciada antes das eleições presidenciais de 1965. Durante a conversa, o sr. João Goulart afirmou que vai iniciar as obras ainda em seu governo e deixar seguro o esquema de financiamento externo para que elas não sofram interrupções. E acrescentou, sorrindo:
- "Estou cansado de tocar obras dos que me antecederam. Essa vou iniciar e deixar garantida, outros que a concluam".

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