PAÍS ESTÁ EM MORATÓRIA, SEM PRAZO
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Publicado
na Folha de S.Paulo, sábado, 21 de fevereiro de 1987
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O presidente José Sarney anunciou ontem a suspensão,
por prazo indeterminado, do pagamento dos juros da dívida externa.
A medida foi previamente comunicada ao Conselho de Segurança
Nacional e ao Conselho Político do governo. O Banco Central
esclareceu posteriormente que a suspensão não atinge
os juros e o principal dos financiamentos com prazo inferior a 360
dias, nem os encargos da dívida junto a credores oficiais e
tampouco as remessas de lucros ao exterior. Com a medida, o câmbio
fica centralizado. No pronunciamento, em cadeia de rádio e
televisão, Sarney afirmou que a suspensão "não
é uma atitude de confronto". Prometeu o controle dos gastos
públicos, sem dar detalhes, exceto o envio de projeto de lei
ao Congresso prevendo a "revisão global dos subsídios"
(no ano passado, eles custaram Cz$ 31 bilhões aos cofres públicos).
Sarney disse que "teremos de pôr em prática um severo
plano de contenção, executar um programa consistente
de estabilização da economia, consolidando a manutenção
do crescimento e do emprego". As contribuições
do governo para esse programa serão duas: o Tesouro só
gastará o que arrecadar; as empresas estatais somente farão
investimentos com recursos gerados por suas próprias receitas
ou já identificados e efetivamente disponíveis. O presidente
pediu a todos os brasileiros "patriotismo responsável"
e acrescentou: "Nada de traição ao país
sob o pretexto de criticar o governo". Antes do discurso, informados
da decisão de suspender o pagamento dos juros pelos líderes
do PMDB e do PFL, os líderes dos demais partidos representados
no Congresso apoiaram a medida (o PT e o PDT com ressalvas), exceto
o PDS, que preferiu reunir sua bancada antes de emitir posição
oficial. A decisão governamental vinha sendo amadurecida há
meses; tanto assim, que o ministro da Fazenda, Dilson Funaro, informou
a parlamentares do PMDB que o Brasil já transferiu parte de
suas reservas em divisas para "locais inalcançáveis
por qualquer tipo de retaliação". Além disso,
o governo elaborou um plano de emergência prevendo, em caso
de suspensão dos créditos para importação,
a estocagem de milhões de toneladas de grãos. O governo
estuda novo choque na economia, com a retomada do congelamento de
preços. Enquete telefônica feita pelo DataFolha revelou
que 57% dos entrevistados assistiram o pronunciamento do presidente.
Desses, 54% apóiam integralmente a decisão, 12% a consideram
apenas parcialmente correta e 14% a reprovam. Para 49% dos que ouviram
o discurso, a decisão é boa para o país, e 22%
a consideram ruim. Entre empresários e economistas, a reação
foi, em geral, de apoio à medida. A maioria considerou que
não havia outra alternativa. O secretário de Governo
de São Paulo, Luiz Carlos Bresser Pereira, disse achar "afirmativa"
a posição de Sarney e elogiou a prometida redução
das despesas do governo. O governador do Rio de Janeiro, Leonel Brizola
(PDT), declarou que seu partido dará "apoio crítico"
às medidas. O economista Roberto Macedo afirmou que "vamos
ter um período de sacrifício pela frente". O embaixador
do Brasil nos Estados Unidos, Marcílio Marques Moreira, comunicou
ontem oficialmente a decisão brasileira ao ministro-assistente
norte-americano da Fazenda, Douglas Mcnin.
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