"HISTORIA ECONOMICA DO BRASIL"
O sr. Roberto
Simonsen realizou ante-hontem a 2.a conferencia da série que vem
levando a effeito sobre o assumpto
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Publicado
na Folha da Manhã, domingo, 19 de abril de 1936
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Neste texto foi mantida a grafia original
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Na Escola Livre de Sociologia e Politica, o deputado Roberto Simonsen,
lente cathedratico daquelle estabelecimento de ensino, levou a effeito,
ante-hontem, á noite a segunda conferencia da série
que ali vem realizando, sobre a "Historia Economica do Brasil".
Inicialmente salientou o sr. Roberto Simonsen que a historia economica
do Brasil se processou atravez da formação evolutiva
de um organismo social em um ambiente inteiramente novo, permitindo
que se percebam, nitidamente, as reacções reciprocas
do homem e do meio, no desenvolvimento das actividades economicas.
Era natural! - frisou - que no limiar de sua critica fosse, desde
logo, dispensada especial attenção ás condições
de Portugal na época do descobrimento e ao tempo em que tivemos
ligados os nossos destinos.
Alludiu, depois, á organização politica do governo
monarchico portuguez, na época de sua fundação.
Referiu-se, tambem, ás condições economicas então
predominantes, fazendo a respeito, largas considerações.
Em seguida, passou a estudar o periodo da expansão maritima
portuguesa. Assegurou que essa politica expansionista não resultou
de uma necessidade emigratoria escassamente povoado como era o paiz,
por pouco mais de um milhão de habitantes. Era um plano de
governo que visava, a um só tempo a conquista de riquezas,
a expansão da fé e a opportunidade de satisfazer uma
nobreza irrequieta e turbulenta.
A organização desse commercio maritimo trouxe ao paiz
innumeras riquezas, que os mercadores portugueses iam buscar na India
e na Africa.
O orador referiu-se, então, minuciosamente, á maneira
por que se fazia esse commercio, em barcos primitivos e frageis. Todas
as mercadorias importadas da India, naquella época não
sommavam a mais de duas mil toneladas annuaes, cifra que representa,
nos tempos modernos, a carga commum de um pequeno navio.
Logo a seguir, o sr. Roberto Simonsen passou a estudar as repercurssões
sociaes da revolução economica que se processou em Portugal,
em virtude do commercio maritimo. O reino foi se despovoando, pois
muito poucos regressavam dessas expedições. Os campos
foram abandonados. E como Portugal não possuia nem industria,
nem artigos de maior procura, para permuta na India, ora de fora que
vinha a maioria desses artigos. Portugal passou a importar até
artigos de alimentação.
Nos primeiros tempos, foram lucrativas as importações
da India, mercê, principalmente dos tributos e das presas de
guerra, que se juntavam aos lucros das especiarias. Com o tempo, entretanto
se verificou que o commercio normal se tornara um monopolio deficitario
a coroa.
Nessa altura o orador passou a estudar as condições
economicas na Hespanha. Observou que no século IX, sob a influencia
da civilização mourisca, a Hespanha constituia uma das
regiões mais adiantadas na época. Ao contrario do que
acontecera em Portugal, onde a expansão maritima obedeceu a
um plano preconcebido e maduramente reflectido, a Hespanha entrou
para a grande navegação, por acaso. Este povo de sete
milhões de almas, dividido por fortes rivalidades locaes, mas
politicamente unido, pode, em curto prazo, tornar-se a maior potencia
maritima do mundo.
Em principios do seculo XVI a Hespanha possuia cerca de mil navios.
Sua metropole, entretanto, não se constituira por uma adequada
evolução, uma solida base politica, economica e social,
reclamada por um tal imperio. Dahi a ausa fundamental da transitoriedade
do seu poderio.
Referiu-se, então o orador á causa fundamental da transitoriedencia
do poderio da Hespanha e que foram de ordem economica, moral e politica.
O paiz era dominado por um despotismo religioso sem parallelo. As
ordens religiosas absorviam, nos conventos um trinta avos da população.
A expulsão dos mouros, que constituiam uma parte laboriosissima
da população, desorganizou a producção
industrial e agricola. A expulsão dos judeus, levou para a
França, e para a Hollanda, capitaes e apreciaveis actividades.
Ao mesmo tempo que se expulsavam classes laboriosas, augmentava assombosamente
a classe dos nobres que, no século XVIII chegava a seiscentas
mil pessoas.
Depois de alludir pormenorizadamente a todas as causas da desagregação
e ruina economica da Hespanha, o orador affirmou, textualmente: "Portugal
com sua diminuta população, não estava preparado,
assim como a Hespanha, para a manutenção de seus dominios
coloniaes, por falta de uma base solida, com estructura economica
apropriada ás suas novas condições".
A ultima parte de sua prelecção dedicou-se o sr. Roberto
Simonsen ao estudo dos transportes maritmos, no periodo colonial.
Poz em relevo a formidavel contribulção que deram ao
progresso da arte nautica, os portuguezes. Alludiu ás caravellas
de invenção portugueza, accentuando que constituim ellas
um factor de importancia extraordinaria, para a segurança e
rapidez do commercio maritimo. Analisou, tambem o custo dos transportes,
naquella época demonstrando que o mesmo era necessariamente,
caro. E explicou que esse alto custo, era motivado pelos frequentes
naufragios pelas perdas, pelo corso e accidentes de toda ordem, pequena
capacidade dos barcos e altos salarios pagos.
Depois de outras considerações sobre o valor dos transportes
na economia mundial, o sr. Roberto Simonsen annunciou que, na proxima
prelecção tratará do primeiro cyclo da historia
economica do Brasil.
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