ARABES CONGELAM PREÇO DO PETROLEO

Publicado na Folha de S.Paulo, segunda-feira, 18 de março de 1974

As treze nações-membros da Organização dos Países Exportadores de Petroleo (OPEP) decidiram ontem congelar os preços do produto até o dia 1° de julho, como um "gesto de boa vontade" para com os paises industrializados, anunciou em Viena o ministro das Finanças do Irã, Jamshid Amouzegar.
Amouzegar advertiu, porem, que as nações industrializadas terão de conter a inflação galopante, para evitarem novos aumentos nos preços do produto: "Se não o fizerem", afirmou o ministro iraniano, "então acho que, nos outros três meses (depois de 1° de julho), haverá um aumento no preço do petroleo". Amouzegar lembrou que a inflação mundial alcançou, no ano passado, a taxa de 12 por cento, acrescentando que isto justificaria um igual aumento nos preços do produto.
O preço de referencia do óleo cru do Golfo Pérsico, por exemplo, é atualmente de 11,65 dolares o barril (75,725 cruzeiros).

Embargo aos EUA

Depois de quase quatro horas de debates, os paises arabes exportadores de petroleo não conseguiram chegar a um acordo sobre o fim do embargo petrolífero aos Estados Unidos. Os ministros arabes prosseguirão suas deliberações hoje, quando deverão examinar o problema do aumento da produção e os rumores segundo os quais o Brasil teria furado o embargo imposto a Washington, fornecendo petroleo aos EUA.

Congelado preço do pretroleo

VIENA - Os principais paises produtores de petroleo decidiram manter os preços de combustivel em seu nivel atual durante os proximos três meses, porém advertiram que os aumentariam se os paises industrializados não controlarem sua inflação.
Os treze membros da Organização de Petroleo (OPEP) disseram que sua decisão era um "gesto de boa vontade" em relação aos seus principais clientes: Estados Unidos, Europa Ocidental e Japão.
O ministro das Finanças do Irã, Jamshid Amouzegar, presidente da conferencia de dois dias concluida ontem, disse que a inflação subiu no ano passado, nos paises industrializados, a uma media de 12 por cento.
"Isto justificaria o aumento do preço do petroleo em, pelo menos, doze por cento para compensar a inflação", disse o ministro.
"Porém decidimos demonstrar a nossa boa vontade, mantendo o preço sem aumentar, por mais três meses, contanto que os paises industrializados ponham um freio em sua inflação desenfreada".
"Se não o fizerem, creio que em outros três meses haverá um aumento no preço do petroleo", acrescentou Amouzegar".
A decisão implica em que os preços dos produtos derivados do petroleo permanecerão nos atuais niveis na maior parte do mundo. Os preços, permanecem, inalterados desde dezembro.
Nos Estados Unidos, os preços da gasolina continuarão aproximadamente nos niveis atuais. De acordo com o regulamento do Departamento Federal de Energia, as companhias petroliferas ajustam seus preços de venda no atacado, uma vez por mês, segundo as cotações do combustivel.
O congelamento dos preços se estenderá de primeiro de abril a primeiro de julho. Entretanto, especialistas economicos da OPEP estudarão as possibilidades de um aumento depois desse periodo.
Mesmo quando descrito como gesto de boa vontade, o congelamento de preços parece mais uma formula de transação entre os paises que desejavam incrementar seus lucros através do petroleo e a Arabia Saudita, que propunha uma redução nos preços atuais.

Venezuela concorda

VIENA - O novo ministro venezuelano de Minas e Petroleo, Valentin Hernandez Acosta, declarou depois da reunião da OPEP, que "estamos muito satisfeitos com os resultados" (da conferencia).
"A posição assumida em relação aos preços do petroleo foi identica à nossa", afirmou. "Não acreditávamos que existissem motivos que justificassem uma redução dos preços, enquanto a inflação ocidental continuar".

Ajuda aos pobres

VIENA - A criação de um fundo de desenvolvimento dos paises petroliferos, para ajudar as nações do Terceiro Mundo, será estudada proximamente.
A criação desse fundo será discutida a 29 de março e 10 de abril em Nova York, em uma conferencia extraordinaria da Organização dos Paises Exportadores de Petroleo (OPEP).

Mexico comemora

CIDADE DO MÉXICO - Comemora-se hoje o trigesimo sexto aniversario, da nacionalização da industria de petroleo e os mexicanos se congratulam agora por esta ação dentro de um mundo aflito pela crise energetica.
No dia 18 de março de 1938 o México expropriou 17 companhias petroleiras norte-americanas e britanicas, num valor aproximadamente de 400 milhões de dolares (2,6 bilhões de cruzeiros). Atualmente, em um mundo açoitado pela crise do petroleo causada pelo boicote arabe, o México é uma das poucas nações que não sofrem suas consequencias.
Neste pais não há escassez de gasolina embora o preço tenha sido aumentado recentemente, porque o México ainda tem que importar certa quantidade de petroleo. Porém, em geral não há crise.
O presidente esquerdista Lazaro Cardenas, falecido há dois anos, nacionalizou as companhias estrangeiras depois que estas recusaram obedecer uma ordem do Supremo Tribunal do Pais de aumentar os salarios dos operarios. O aumento salarial atingia um total de 7,2 milhões de dolares (46,8 milhões de cruzeiros).
Do total de investimento estrangeiro na industria, mais de um quarto era norte-americano. As principais companhias eram a "Standerd Oil of New Jersey", a "Standard Oil of California", a "Huasteca Petroleum Company", a "Mexican Eagle Oil Company" e a "Penn Mex Fuel Company".
Depois de uma batalha legal de mais de dois anos, as companhias foram expropriadas embora, na última hora, elas tivessem concordado em aumentar os salários.
O México pagou toda a expropriação e criou um conselho estatal para operar a industria. Desde conselho se formou o atual Monopolio Estatal Petroleos Mexicanos (PEMEX).

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