AFIRMA O SECRETARIO DA CEPAL QUE O MAIOR PROBLEMA DA AMERICA LATINA É O DA PROPRIEDADE DAS TERRAS


O sr. Raul Prebisch, em discurso proferido na reunião do Panamá, comenta o baixo nivel de vida dos trabalhadores agricolas latino-americanos - Considerações sobre o desemprego e o mau aproveitamento da mão de obra

Publicado na Folha da Manhã, Sabado, 16 de maio de 1959

Neste texto foi mantida a grafia original

PANAMÁ, 15 - O secretário-geral da CEPAL, sr. Raul Prebisch, ressaltou hoje, na VIII Sessão daquele orgão da ONU, que a propriedade de terras é o problema basico da economia latino-americana. O sr. Prebisch criticou toda tendencia a isolar a agricultura dentro das fronteiras nacionais e disse que os paises têm o dilema de tratar de fazer isto ou estimular o aumento do consumo e a produção em todas as nações.

Baixo nivel de vida dos trabalhadores agricolas

Considerou, tambem, o atual baixo nivel de vida dos trabalhadores agrarios da America Latina como um serio obstaculo para a expansão industrial, que é a pedra angular da expansão economica. Acrescentou o secretario da CEPAL que a industria terá tambem de absorver todos os trabalhadores que fiquem excluidos dos trabalhos agricolas, em consequencia do aproveitamento dos descobrimentos tecnicos economizadores do trabalho corporal. Estes operarios agricolas - segundo o sr. Prebisch - terão de ser preparados gradualmente para sua utilização na industria.
"Existe um vasto problema - declarou - na absorção das crescentes massas da população latino-americana em idade de trabalhar. A industria deve absorver estes braços se se quiser elevar os niveis de produção e de vida". Admitiu que houve, recentemente, algum progresso economico na America Latina, mas declarou que é insuficiente. "Não há um só país na America Latina - disse - que não tenha consideravel numero de braços não aproveitados totalmente, alem dos trabalhadores desempregados completamente". Entre os "mal aproveitados", citou os milhares que desempenham ocupações primitivas que hoje constituem um contrapeso e um obstaculo para o desenvolvimento latino-americano. Disse que para remediar o emprego deficiente e o desemprego "devemos acelerar o ritmo da produção, e isso não se poderá lograr dentro dos estreitos confins dos mercados nacionais".
Manifestou que os investimentos de capital que se esperam para a America Latina nos proximos anos "naufragarão senão se preparar em todas as categorias a força operaria adequada".
Em relação à vulnerabilidade da maioria das economias latino-americanas, esta existe em consequencia dos "erroneos programas de exportação e do balanço de pagamentos".
O sr. Prebisch atribuiu muitas das tensões sociais da America Latina à falta de igualdade na distribuição dos ingressos, na qual disse que "há grandes diferenças entre os diversos grupos". Explicou que o problema de uma sadia distribuição social das rendas nacionais somente poderá resolver-se conjuntamente com os problemas economicos e fiscais.

Eleito o presidente da reunião

PANAMÁ, 15 - O sr. Fernando Eleta Alaram, ministro da Fazenda Panamenho, foi aclamado presidente da reunião da Comissão Economica para a America Latina (CEPAL), ao iniciar-se a primeira sessão de trabalho. O sr. Placido Garcia Reynoso, do Mexico, foi eleito primeiro vice-presidente; o sr Regino Boti, ministro da Economia de Cuba, segundo vice-presidente; e o sr. Luis Marty, do Chile, relator.



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