COMBATE À INFLAÇÃO PARA ELIMINAR OS EXTREMISMOS E ACELERAR O PROGRESSO

GOULART FOCALIZA EM SÃO PAULO: CAPITAL ESTRANGEIRO, DESENVOLVIMENTO E PROBLEMAS SOCIAIS

Publicado na Folha de S.Paulo, domingo, 09 de dezembro de 1962

Neste texto foi mantida a grafia original

No discurso que proferiu, durante o almoço que lhe foi oferecido ontem pela Scania Vabis do Brasil, por ocasião da inauguração de sua nova fabrica de caminhões pesados, em São Bernardo do Campo, o presidente da Republica disse que espera poder baixar a taxa inflacionaria "que hoje é de 48% ao ano, para 30% em 1963". Em sua oração, o sr. João Goulart tratou, demoradamente, do tema de combate "às doutrinas exoticas, incompativeis com os sentimentos religiosos de nosso povo", e, a seguir, referindo-se ao capital estrangeiro, disse nunca ter sido contra ao auxilio do exterior "que se incorpora ao esforço brasileiro".
Acompanharam o sr. João Goulart, na visita que fez às instalações daquela industria, o governador Carvalho Pinto (que o recebeu em Cumbica) e altas autoridades civis e militares do Estado. À tarde, o presidente da Republica visitou o jornalista Assis Chateaubriand, e, a seguir, dirigiu-se ao II Salão do Automovel no Ibirapuera.

O pres. Goulart pede apoio de todos no combate à inflação

Afirmando que o governo da União empenhará agora seus melhores esforços e concederá as maiores facilidades possíveis para estimular a exportação de autoveiculos, o presidente da Republica inaugurou ontem, às 12 horas, a nova fabrica de caminhões pesados, cavalos mecanicos e onibus da Scania Vabis do Brasil, no muinicipio de São Bernardo do Campo. O sr. João Goulart, no discurso que proferiu após o almoço que lhe foi oferecido pela direção da fabrica, com a presença do governador do Estado, altas autoridades civis e militares e centenas de convidados, referiu-se ainda ao problema da inflação, afirmando que jamais acreditou na eficiencia do combate ao surto inflacionario através de uma redução drastica e indiscriminada de despesas, que inevitavelmente provocaria um periodo de estagnação do progresso nacional. "Dentro de um programa de combate à inflação que reclama todo apelo das classes produtoras e do povo em geral - afirmou - esperamos que seja possivel baixar a taxa inflacionaria, que é hoje de 48% ao ano, para 30% em 1963.

Melhores condições

Alem do combate à inflação e da importancia de medidas que não entravam o surto de desenvolvimento da iniciativa particular no país, o presidente da Republica tratou demoradamente do tema do combate "às doutrinas exoticas, incompativeis com os sentimentos cristãos de nosso povo". Sob repetidos aplausos dos presentes, o sr. João Goulart destacou o exemplo da industria automobilistica, que proporciona a seus trabalhadores alto nivel salarial, alem de assistencia ampla, para afirmar que esse é o caminho certo, o meio adequado de se combater os extremismos, o trilho que seu governo se confessa disposto a seguir, a fim de que sejam assegurados aos trabalhadores "salarios dignos e compativeis com a dignidade humana".

Capital e tecnica

Referiu-se ainda o presidente da Republica à colaboração do capital e da tecnica do exterior, destacando o exemplo da Scania Vabis, como um dos mais fecundos meios de promover com auxilio externo o desenvolvimento industrial do país. "Nunca fui, jamais fui contra a participação do capital estrangeiro. Nunca levantarei restrições ao capital procedente do exterior que se incorpora ao esforço brasileiro. Faço nitida distinção, porem, entre o capital que realmente se incorpora ao patrimonio nacional e aquele que vem apenas em carater especulativo. Esse capital não é aceitavel, mas o que realmente se incorpora ao patrimonio nacional e aquele que vem apenas em carater especulativo. Esse capital não é aceitavel, mas o que realmente vem colaborar para o fortalecimento economico do Brasil deve receber todas as facilidades".
Em suas palavras, o presidente Goulart referiu-se ainda ao surto de implantação da industria automobilistica, fazendo menção expressa ao nome do senador Juscelino Kubitschek, em cujo governo se instalaram no país quase todas as fabricas de automoveis. Encerrando suas palavras, que marcaram o final da solenidade, afirmou ainda o sr. João Goulart que "os industriais sempre o encontrarão na primeira linha, na linha de frente, para frenar a inflação, para lutar pelo desenvolvimento nacional e para combater os extremismos incompativeis com os sentimentos de nosso povo".

Visita à fabrica

As cerimonias de inauguração da Scania Vabis tiveram inicio com a chegada, de helicoptero, do presidente da Republica e do governador do Estado. Em jipe, aquelas autoridades percorreram os pavilhões nos quais a Scania Vabis tem montada sua industria, com capacidade para a fabricação, no momento, de 1.300 veiculos pesados e 150 motores avulsos. A fabrica possui amplas e modernas instalações recebendo participação de capital e da tecnica da Scania Vabis da Suecia.
Durante o almoço, que se seguiu à visita, usaram da palavra os srs. J.B. Figueiredo, presidente da Scania Vabis do Brasil SA., o sr. Henning Throne Holst, presidente da Scania Vabis Suecia o sr. Jens Malling, embaixador da Suecia em nosso país e o almirante Lucio Meira, presidente do Grupo Executivo da Industria Automobilistica (GEIA) e da Companhia Siderurgica Nacional, encerrando-se as solenidades com a palavra do presidente da Republica, que a seguir se retirou em companhia do governador Carvalho Pinto.

A chegada em São Paulo

Eram precisamente 11h10, quando o avião presidencial pousou na Base Aerea de São Paulo. O presidente João Goulart, ao descer da aeronave, foi cumprimentado pelas altas autoridades presentes - governador Carvalho Pinto, que se fazia acompanhar do chefe do Cerimonial dos Campos Elisios, sr. Procopio de Araujo Carvalho; brig. Anisio Botelho, comandante da 4ª Zona Aerea; gen. Peri Constat Bevilaqua, comandante do II Exercito; brig. Dirceu Paica Guimarães, comandante do Parque de Aeronautica; cel. Faria Lima, comandante daquela Base, e inumeros oficiais do Exercito e da Aeronautica.
Em seguida, o chefe da nação, acompanhado do governador do Estado e dos comandantes da 4ª Zona Aerea e do II Exercito, dirigiu-se, em helicoptero da FAB, para a Scania Vabis.

No Salão do Automovel

O presidente, acompanhado do governador Carvalho Pinto e do almirante Lucio Meira, chegou ao Salão do Automovel às 15 horas e 18 minutos, saindo exatamente 58 minutos depois. Foi recebido pelo sr. Caio de Alcantara Machado, presidente do Salão, e juntos percorreram as dependencias do Pavilhão Internacional, detendo-se mais nos estandes das fabricas de automoveis.
O sr. João Goulart examinou alguns dos carros, verificando-lhes o acabamento, as linhas, e observando aquilo que os donos e engenheiros das firmas lhe indicavam como as inovações para 1963. Cumprimentou centenas de pessoas, foi sorridente com todos, e os responsaveis pelos estandes, lembrando o que ocorreu quando da visita de Juscelino Kubitschek (houve gente que chegou a subir nas capotas dos carros para vê-lo), foram providenciados cordões de isolamento, para evitar a invasão do publico. A principio, o sr. João Goulart estranhou a medida. Foi necessario explicar-lhe os motivos.
À saida, o presidente declarou à FSP que saía do Salão "orgulhoso de ser brasileiro", e que seu governo facilitaria ao maximo a exportação de veiculos para outros paises.

Partiu às 19 h 40

O presidente João Goulart embarcou de regresso ao Rio de Janeiro às 19h40 de ontem, no pavilhão oficial do aeroporto de Congonhas. Compareceram ao embarque o prof. Carvalho Pinto, os comandantes do II Exercito e da 4ª Zona Aerea - gen. Peri Bevilacque e brigadeiro Anisio Botelho - alem de outras autoridades. Na ocasião, o presidente declarou que "a situação nacional é de calma e tranquilidade". Não acredita nas noticias "tendenciosas que procuraram comprometer o clima de tranquilidade do país". Acrescentou que elas são decorrencia da aproximação do referendo.
O presidente João Goulart, que iniciará amanhã a campanha oficial para a realização do referendo disse esperara que o comparecimento do eleitorado às urnas seja maciço.
"Vou lutar para obter um comparecimento em massa às urnas, e acho que esta campanha será compreendida pelo eleitor consciente dos deveres", concluiu.

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