Eleonora de Lucena
Editora de Economia
O Brasil
não paga os juros devidos aos bancos privados há cinco
semanas. O Ministério da Fazenda justifica a moratória
como um recurso para manter o nível das reservas cambiais
do país em patamares adequados. Em julho, os pagamentos em
atraso somam US$ 230 milhões; em agosto podem ser acrescidos
de mais US$ 120 milhões. Os débitos junto ao Clube
de Paris (que reúne os governos credores) estão sendo
regularizados.
Assessores do ministro da Fazenda, Mailson da Nóbrega, afirmam
que há dois tipos de moratória: a declarada e a não-declarada.
Na declarada, o devedor anuncia formalmente a suspensão dos
pagamentos e faz um discurso político para galvanizar a opinião
pública. Foi assim em fevereiro em 87, quando o presidente
Sarney foi falar da medida em rede nacional de rádio e televisão.
A moratória não-declarada é a adotada pelo
Brasil nessas últimas semanas - e foi usada durante meses
pela Argentina. Após a centralização do câmbio,
o país, sem alarde, deixou de pagar. O primeiro a não
receber foi o Clube de Paris. Depois foram os bancos privados, que
não receberam os juros relativos a dívidas de médio
e longo prazo.
A estratégia do Ministério da Fazenda tem sido a de
explicar aos credores os motivos da moratória. Os assessores
de Mailson têm dito aos banqueiros que a proteção
das reservas é essencial para garantir a estabilidade da
economia. Insistem que o momento atual é muito delicado para
o pais, com a proximidade das eleições presidenciais.
Enfatizam que o próximo presidente deve ser moderador, que
fará um plano de ajuste e um bom acordo para a dívida.
Em síntese, querem demonstrar que os bancos tem a ganhar
- no longo prazo e com o próximo governo - se não
reclamaram de atrasos agora e permitirem que os país chegue
até as eleições sem sobressaltos na área
externa.
Com este raciocínio os assessores de Mailson querem afastar
o risco de crise cambial e de retaliação dos credores.
O momento de maior tensão deverá ocorrer em setembro,
quando o Brasil tem uma conta de US$ 2,3 bilhões para pagar
aos bancos privados.
Até agora, as discussões do governo com os credores
não resultam em nada, mas já tiveram influência
no recente acordo firmado com o México. De acordo com o assessor
do ministro da Fazenda do México, Alejandro Reinoso, o fracasso
da reunião do Brasil com o comitê assessor dos bancos
teve "um grande impacto" na comunidade financeira e "aumentou
o poder de barganha" dos negociadores mexicanos. Estes teriam
conseguido condições melhores no acerto em função
do atraso nos pagamentos do governo Sarney.
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