ÁRABES AMEAÇAM SUSPENDER VENDA DE SEU PETRÓLEO
A
Opep vincula o fornecimento à questão palestina
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Publicado
na Folha de S.Paulo, segunda-feira, 05 de março de
1979
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O presidente da Organização dos Países Exportadores
de Petróleo (Opep), Mana Said al Otaiba, afirmou ontem em Abu
Dhabi que os países árabes poderão interromper
seu fornecimento de petróleo ao Ocidente se a questão
palestina não for resolvida e os territórios árabes
ocupados por Israel não forem restituídos.
Ao abrir a primeira conferência dos países árabes
exportadores de petróleo sobre energia, Otaiba lembrou que
essas nações receberam insistentes pedidos, ultimamente,
para aumentar sua produção de petróleo, de forma
a compensar a interrupção das exportações
de cinco milhões de barris diários do Irã. Em
seguida, advertiu que os países árabes "estão
prontos a se comprometer, no limite de sua capacidade técnica,
a fornecer o petróleo, mas os países que esperam que
continuemos a fornecê-lo devem compreender nossas exigências".
Entre essas exigências, Otaiba mencionou "a restituição
dos territórios árabes ocupados e da Jerusalém
árabe", e a obtenção de "uma justa
solução para esta causa (palestina), assegurando os
direitos legítimos do povo palestino". Segundo ele, "sem
resolver este problema, não podemos garantir a estabilidade
no Oriente Médio. E sem estabilidade, não podemos assegurar
o fornecimento de petróleo aos países consumidores".
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Negociações
em Washington |
Ao mesmo tempo em que o presidente da Opep fazia tais declarações,
em Washington, o presidente Jimmy Carter admitia ontem que suas conversações
com o primeiro-ministro israelense, Menachem Beguin, para resolver
o impasse sobre a questão palestina, que impede a concretização
de um tratado de paz com o Egito, não estão tendo nenhum
progresso.
Beguin, por sua vez, afirmou que suas negociações com
Carter encontram-se numa "profunda crise", porém,
segundo seu porta-voz, ele "não se sente desalentado"
com isso.
Carter, informou-se em Washington, apresentou a Beguin algumas "idéias"
para tranquilizar Israel quanto a sua segurança se aceitar
"dar um passo" capaz de superar os obstáculos à
assinatura de um tratado com o Egito. O presidente teria procurado
convencer Beguin a aceitar o calendário do presidente Anuar
Sadat, do Egito, para a criação de uma região
autônoma palestina em Gaza e na Cisjordânia.
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Carter
admite fracasso das negociações |
WASHINGTON - O presidente Jimmy Carter e o primeiro-ministro Menachem
Beguin admitiram ontem que as conversações em Washington
para resolver o impasse das conversações de paz com
o Egito até agora de nada serviram.
Carter, ao dar sua aula bíblica dominical na Primeira Igreja
Batista de Washington, declarou Iaconicamente: "Fiquei ontem
à noite conversando até bem tarde com o primeiro-ministro
Beguin, mas não fizemos nenhum progresso". Carter não
fez nenhum outro comentário sobre suas conversas com Beguin,
a quem ofereceu um jantar anteontem à noite na Casa Branca
e posteriormente prosseguiu as conversações iniciadas
na sexta-feira com o presente israelense.
Beguin, por seu lado, disse que as negociações chegaram
a um estado de "profunda crise", porem, segundo seu porta-voz,
Dan Pattir, "não se sente desalentado" por não
ter conseguido nada nas conversações de anteontem à
noite com Carter.
Fontes isralenses disseram que a entrevista entre os dois chefes de
governo foi muito cortês, mas não permitiu o menor progresso.
Outras fontes, que a AFP qualifica como "dignas de confiança",
salienta - revelaram que Carter apresentou a Beguin " idéias"
para tranquilizar Israel acerca de sua segurança, no caso de
o Estado judeu aceitar "dar um passo" suscetível
de superar certos obstáculos para a assinatura de um tratado
de paz com o Egito.
O presidente norte-americano, ao que parece, esforçou-se em
fazer evoluir a atitude de Israel sobre o calendário que o
presidente egipcio, Anuar Sadat, reclama para a criação
de uma autonomia interna para os palestinos em Gaza e na Cisjordânia.
Em Jerusalém, o vice-primeiro-ministro Yigael Yadin afirmou
ontem que só os próximos dias mostrarão se a
visita de Beguin a Washington trará resultados.
"Nas discussões realizadas até agora, Israel esclareceu
suas posições", afirmou em entrevista à
imprensa, após relatar ao gabinete as gestões entre
Beguin e Carter. "Agora devemos aguardar alguns dias para ouvir
as sugestões norte-americanas sobre como as negociações
deverão prosseguir", acrescentou Yadin, que baseou seu
relatório numa conversa pelo telefone com Beguin.
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Sadat |
No Cairo, o embaixador dos Estados Unidos, Hermann Eilts, entregou
ontem uma mensagem de Carter a Sadat, que "não inclui
um convite para visitar os Estados Unidos", Sadat, após
a reunião com Eilts, disse à imprensa que vai se reunir
com seus principais assessores e hoje entregará sua resposta
à mensagem de Carter, cujo conteúdo foi mantido em segredo,
mas se refere às conversações com Beguin, segundo
informou Eilts, calando-se em seguida.
Em Beirute, numa entrevista que será publicada hoje, o chanceler
egipcio, Butros Ghail, afirmou que "todos - norte-americanos,
egípcios e israelenses - certamente acreditam que os acontecimentos
iranianos são um argumento a favor da conclusão de um
tratado de paz o quanto antes possível".
Ghali acrescentou ao jornal "Monday Morning" que o Egito
não tem a pretensão de assumir o papel de "polícia
da região" como o era ou propunha-se a ser o Irã
do deposto Mohammed Reza Pahlevi. Desmentiu que o Cairo pense em enviar
tropas ao sultanato de Omã, para substituir as tropas iranianas
de lá retiradas com a queda do regime imperial de Teerã.
Disse, no entanto, que o Egito enviará tropas ao sultanato
do Golfo Pérsico quando os dois países negociarem um
acordo de cooperação política e econômica
mutuamente aceitável.
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