ZÉLIA É MINISTRA DA ECONOMIA DE
COLLOR
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Publicado
na Folha de S.Paulo, quinta-feira 1º de março
de 1990
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O presidente eleito, Fernando Collor, anuncia hoje às 10h o
nome de sua assessora Zélia Cardoso de Mello para o Ministério
da Economia. A nova ministra divulga hoje as diretrizes econômicas
do novo governo. A indicação de Zélia era esperada.
Ela era a favorita desde que Collor descartou o nome de Mario Henrique
Simonsen. No dia 24 de janeiro, antes de sua volta ao mundo, Collor
disse que não escolheria nenhum ex-ministro.
A pasta de Zélia será mais forte que o atual Ministério
da Fazenda. Ela controlará seis secretarias: Receita Federal,
Tesouro, Abastecimento, Orçamento, Indústria e Comércio
e a de Patrimônio. Restam cinco ministros para serem anunciados:
Ação Social, Relações Exteriores, Agricultura,
Saúde e Educação.
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Eleito
aprova programa econômico |
Fernando Collor aprovou ontem o plano econômico elaborado pela
equipe de Zélia Cardoso de Mello. O eleito admite mudar o programa.
As alterações dependem da taxa da inflação
no dia da posse. Collor proibiu a divulgação de qualquer
detalhe do programa, que prevê a realização de
três reformas: administrativa, fiscal e monetária.
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Collor
anuncia Zélia ministra da Economia |
Da Sucursal de Brasília
O presidente
eleito, Fernando Collor, anunciará hoje pela manhã
o nome de Zélia Cardoso de Mello para ocupar o Ministério
da Economia. O anúncio está previsto para as 10h,
no auditório do Itamaraty, em Brasília, quando também
devem ser divulgadas as diretrizes básicas do plano econômico.
Collor aprovou ontem o plano econômico elaborado pela equipe
da economista.
O programa tem como prioridade a redução "drástica"
do défict público - o que o governo gasta a mais do
que arrecada. Esta redução seria obtida com aumento
de impostos e corte de despesas. O plano prevê um aumento
"brutal" das alíquotas do Imposto sobre Operações
Financeiras (IOF).
O convite foi feito ontem à noite no "bolo de noiva",
anexo 2 do Itamaraty. Collor convocou a economista, os futuros ministros
Bernardo Cabral (Justiça) e Ozires Silva (Infra-estrutura),
e o futuro secretário-geral da Presidência, Marcos
Coimbra. Depois que todos tomaram seus lugares, Collor fez o convite:
"Tenho a honra de convidá-la para ministra da Economia
de meu governo". Zélia aceitou.
O plano econômico aprovado por Collor admite pequenas alterações.
Tudo dependerá do nível de inflação
no dia da posse.
A indicação não é uma novidade. Collor
driblou todos os lobbies favoráveis à nomeação
de um superministro como o professor Mario Henrique Simonsen. Deu
uma pista definitiva de que queria Zélia ao afirmar que o
ministro seria ele mesmo.
Com a reforma planejada por Collor, a pasta da Economia se fortalecerá
em relação ao atual Ministério da Fazenda.
A nova ministra controlará seis secretarias: Receita Federal;
Tesouro Nacional; Abastecimentos e Preços, já vinculadas
à Fazenda; além das secretarias de Orçamento
e Finanças (hoje ligada ao Planejamento); e Indústria
e Comércio (que deve absorver Ministério do Desenvolvimento
da Indústria e Comércio). A sexta será a de
Patrimônio, que vai controlar os imóveis da União.
Com a indicação de Zélia, há ainda cinco
vagas de ministros para que as 12 pastas previstas no governo Collor
estejam ocupadas. Ação Social, Relações
Exteriores, Agricultura, Saúde e Educação.
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Economista
atuou na equipe de Funaro |
Da Redação
Zélia
Maria Cardoso de Mello nasceu em São Paulo há 36 de
anos. De uma familia tradicional, desde pequena acompanhou as discussões
sobre política e economia em sua casa. Estudou no Colégio
de Aplicação e cursou Economia na USP. Pouco se destacou
nas salas de aula. Colegas e professores lembram apenas que ela
era discreta, não se destacava nas polêmicas acadêmicas
nem nas estudantis, embora tenha sido considerada "área
de influência" do Partido Comunista Brasileiro.
Em 81 defendeu a sua tese de doutoramento: "Metamorfoses da
Riqueza - São Paulo 1845-1895". O trabalho, aprovado
com nota 10, distinção e louvor, mostra as mudanças
na economia paulista na passagem do modelo escravista para o capitalista
exportador. É o seu único livro. Em 82, passou a ser
professora-assistende doutora, lecionando a disciplina "Formação
Econômica do Brasil".
Sua primeira experiência em cargo público foi em 83,
na Companhia de Desenvolvimento Habitacional do Estado de São
Paulo, durante o governo Montoro: foi titular da diretoria administrativo-financeira.
Em 86, logo depois do anúncio do Plano Cruzado, foi chamada
para trabalhar na equipe de Dilson Funaro. Seu cargo era na Secretaria
do Tesouro e sua tarefa a de realizar a negociação
das dívidas de Estados e municípios com a União.
Foi nessa época que conheceu Fernando Collor, então
governador de Alagoas. Com a saída de Funaro da Fazenda,
em abril de 87, Zélia também deixou o governo. Na
época chegou a organizar a festa de despedida do ministro.
Seus colegas e amigos dizem que Zélia gosta de organizar
encontros e festas, embora seja muito discreta. Nos restaurantes,
na hora da conta, é Zélia que faz a conferência
e organiza o pagamento. Mesmo seus opositores afirmam que ela é
boa negociadora, capaz de conviver com pessoas de diferentes tendências.
Zélia Cardoso de Mello adora dançar e cozinhar. Gosta
dos Beatles, de Mozart, de Marina e Caetano Veloso. Nas horas vagas
costuma andar de bicicleta e nadar. Prefere mais uma casa no campo
do que na praia.
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Convite
foi feito ontem a tarde à economista |
Da Reportagem Local
O presidente
eleito, Fernando Collor, convidou ontem à tarde a sua assessora
Zélia Cardoso de Mello para o cargo de ministra da Economia.
Collor aprovou o programa de emergência que a equipe coordenada
por Zélia desenvolveu desde o ano passado. O programa, que
pretende derrubar a inflação com medidas de grande
austeridade, já está praticamente pronto, falta apenas
definir algumas decisões e cunho político e o "time"
da implementação de algumas medidas. O aspecto importante
do programa será o elemento de surpresa de suas medidas,
segundo a Folha apurou.
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