PSICOSE DO DESEMPREGO ATINGE 65%
|
Publicado
na Folha de S.Paulo, sexta-feira, 30 de julho de 1982
|
|
|
O medo de perder o emprego preocupa 65% da população
de São Paulo - índice tão alto que permite classificar
o temor o temor como "psicose" - concluiu pesquisa realizada
pela agência de publicidade Alcântara Machado, Periscinoto
Comunicações (Almap). De acordo com a socióloga
Maria Lúcia de Oliveira Alves que trabalhou na pesquisa, o
resultado foi surpreendente. "Há dois anos, o desemprego
preocupava apenas 25% dos paulistanos. Além disso, não
supunhamos que qualquer tema pudesse ultrapassar a barreira de 60%,
que corresponde ao nível de saturação",
confessa.
Foram entrevistados homens e mulheres, de 20 a 45 anos, de todas as
classes sociais. O temor de crimes e assaltos ocupa o segundo lugar
na lista de preocupações, vindo depois o preço
dos alimentos, a defasagem entre rendimentos e inflação,
e os tóxicos.
A ausência de censura na televisão e revistas é
problema para poucos paulistanos - apenas 10%. E somente 6% da população
disseram preocupar-se com eleições. "Mas esse último
percentual vai subir já na pesquisa que vamos fazer no mês
que vem", avisa a socióloga.
|
Desemprego
é a maior preocupação dos paulistanos |
O desemprego está preocupando cada vez mais os paulistanos,
até virando psicose na cidade. Em 1980, 25% da população
preocupavam-se com o assunto. Em 1981, já eram 58%. E agora,
em 1982, 65% estão apreensivos com o problema. O medo de crimes
e assaltos tem ocupação, nesses dois últimos
anos, o segundo lugar na lista de preocupações dos paulistanos.
E a defasagem entre os rendimentos e a inflação, que
era o tema que mais assustava os paulistanos em 1980, agora está
colocada em quarto lugar no rol de suas preocupações.
Estes, pelo menos, são os resultados da pesquisa. "O que
preocupa São Paulo", que a Alcântara Machado, Periscinoto
Comunicações Ltda. (Almap) vem realizando periodicamente
na Capital, desde 1980, com o objetivo de conhecer o comportamento
de seus habitantes, para o lançamento de novos produtos no
mercado, de campanhas publicitárias etc.
A pesquisa, também conhecida pelo nome de "Crisômetro",
foi realizada pela última vez em abril deste ano e os resultados
foram computados em junho. Foram entrevistados 300 adultos, homens
e mulheres, de 20 a 45 anos, pertencentes às classes sócio-econômicas
A, B e C. cada um deles recebeu um "baralho" de cartões
com 22 itens, tendo de apontar os cinco que mais o preocupavam e,
em seguida, entre esses cinco aquele que representava sua maior preocupação.
Dos cinco problemas que mais preocupavam os paulistanos, segundo a
pesquisa, está em primeiro lugar o desemprego, seguindo-se,
os assaltos e crimes, o preço dos alimentos, a defasagem entre
rendimentos e inflação, e os tóxicos.
|
Surpresa
|
De acordo com a socióloga Maria Lúcia de Oliveira Alves,
analista de pesquisas de mercado da Almap, os técnicos da empresa
não esperavam que algumas das preocupações fosse
ultrapassar 60%, que seria um nível de saturação.
Entretanto, o item desemprego acabou ultrapassando esse limite, deixando
65% da população apreensivos. Por classes sócio-econômicas,
o assunto preocupa 73% da classe C e 61% das A e B. por isso, a pesquisa
aponta que virou psicose dos paulistanos.
A Almap decidiu aplicar a "Crisômetro" em São
Paulo, depois que uma pesquisa maior realizada no País em 1978
apontou que os brasileiros estavam tão preocupados com a situação
econômica que novas tendências sociais existentes em outros
países não se desenvolviam entre nós. Foi descoberta,
então, o que os técnicos da empresa chamaram de "antitendência",
que atrapalha o desenvolvimento de outras, também por eles
denominada "psicologia da crise". A "Crisômetro"
passou então a estudar os problemas que causam essa "psicologia
da crise".
De 1980 até agora, a pesquisa entre os paulistanos descobriu
que, para as classes mais altas, cresceu a preocupação
com o desemprego e o custo da moradia, tendo diminuído a apreensão
em relação do preço dos alimentos, com a indefinição
do futuro do País. Para as classes de renda mais baixa, houve
maiores alterações. Cresceu a preocupação
com o desemprego, o custo da moradia, a poluição, os
acidentes de trânsito e a guerra. E diminui quanto ao preço
dos alimentos, embora 53% das pessoas pertencentes a essas classes
considerem esse item um grande problema.
|
Pobres
e ricos |
Esta pesquisa feita em 82 também mostra, segundo Maria Lúcia
de Oliveira Alves, que as pessoas mais pobres enfatizam mais problemas
como preço dos alimentos, custo de moradia e acidentes de trânsito.
Os problemas de ordem política preocupam mais as classes A
e B que também dão mais ênfase à defasagem
entre o salário e a inflação, educação
dos filhos, contaminação dos alimentos, usinas nucleares,
tensão na cidade grande e desintegração da família.
Os tóxicos preocupam, segundo os dados colhidos em abril, 36%
da população e o preço do combustível
23%. Falta de censura na TV e em revistas são problemas apenas
para 10% da população. Somente 6% da população
disseram se preocupar com eleições. Entretanto, Maria
Lúcia acredita que se a pesquisa foi realizada novamente a
partir do próximo mês, esse item terá peso maior
no rol das preocupações das pessoas.
|
©
Copyright Empresa Folha da Manhã Ltda. Todos os direitos
reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em
qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização
escrita da Empresa Folha da Manhã Ltda.
|
|