EM CUBATÃO, PELO MENOS 500 MORTOS


Publicado na Folha de S.Paulo, domingo, 25 de março de 1984

Documento elaborado pelos promotores Marcos Ribeiro de Freitas e José Carlos Pedreira Passos, a ser anexado ao inquérito policial que apura as causas da explosão no oleoduto da Petrobrás em Cubatão, na chamada tragédia de Vila Socó, revela que pelo menos 500 pessoas morreram no acidente. A Polícia encontrou apenas 86 corpos, e esse vinha sendo o número oficial de vítimas. Acredita-se que a maioria dos corpos tenha desaparecido em consequência da alta temperatura - calculada em torno de mil graus - que persistiu durante horas.
O relatório dos promotores apresenta três estimativas. A menor delas é de que morreram 508 pessoas: 300 crianças de até três anos, 122 crianças de três a seis anos, mais os 86 óbitos documentados. Na segunda hipótese, seriam 631 os mortos: 300 crianças até três anos, 245 crianças de três a seis anos, e 86 óbitos documentados. Na terceira alternativa, o número de adultos mortos é considerado indeterminado e a cifra total ultrapassa os 700.
Os promotores fundamentam o cálculo de tão grandes números de crianças mortas com o fato de não haver sido encontrado, na área atingida pelo fogo, nenhum corpo de crianças com menos de sete anos. Já na área central do incêndio, não se encontrou sequer um corpo de adulto.

Mortos na tragédia de Vila Socó podem passar de 500

Mais de 500 pessoas morreram na tragédia de Vila Socó, em Cubatão, exatamente um mês atrás, o que significa se tratar do maior número de mortes em um único episódio, nos últimos anos, em todo o mundo.
Os números da tragédia de 25 de fevereiro foram liberados ontem pelos promotores Marcos Ribeiro de Freitas e José Carlos Pedreira Passo, com base nos laudos periciais elaborados pelo Instituto Médico Legal de Santos, e farão parte do relatório do Inquérito policial, presidido pelo delegado Antônio Hussemann Guimarães, que deverá estar concluído nesta segunda-feira.
Na primeira hipótese foram 508 mortos, calculados da seguinte forma: 86 óbitos documentados, com encontro de cadáver, mais um número estimado de 300 crianças de zero a três anos de idade, mais 122 crianças de 3 a 6 anos.
Num segundo caso, seriam 631 os mortos na tragédia, considerando-se os mesmos 86 óbitos documentados, mais as 300 crianças de zero a três anos, além de 245 crianças de 3 a 6 anos, que continuam desaparecidas (e que na primeira hipótese foram consideradas apenas como 122).
Finalmente, numa terceira hipótese, além das crianças de zero a seis anos, tomadas em conjunto, soma-se um número não determinado de adultos, além daqueles 86 corpos localizados (entre os localizados 22 corpos eram de crianças com idade presumida além dos sete anos de idade), o que levaria o número final a cifras não calculadas, mas que iriam além das 700 pessoas.
Além desses mortos estão registrados 27 feridos com lesões graves e outros cem, pelo menos, com lesões mais leves. Assim, tomando-se a primeira hipótese, de 508 mortos, que é o que deverá constar dos autos do processo que se iniciará, o número total de vítimas deverá ser de 635. A maior parte desses mortos jamais será localizada, partindo-se do princípio que o calor gerado pelo incêndio, particularmente no centro da Vila Socó, ultrapassou a mil graus de temperatura, por várias horas. Basta comparar essa informação aquelas colhidas pelo IML, junto ao forno crematório de Vila Alpina, na capital, que para incineração total (inclusive dentes) utiliza-se de três minutos a 800 graus centígrados, mais 30 segundos a mil graus. Ou ainda outras informações colhidas oficialmente: nenhum corpo de criança com menos de presumíveis sete anos de idade foi localizado, mesmo nas áreas periféricas do incêndio; na área central, sequer corpos de adultos foram localizados, além daqueles que procuram abrigo, como por exemplo, um homem e seus dois filhos, que se enfiaram em geladeiras buscando - inutilmente - escapar ao fogo.

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