ENCONTRADA BOMBA NA BIENAL DO LIVRO


Funcionário da 14ª Bienal do Livro achou bomba em banheiro do Expo Center Norte, onde ocorre o evento. Ela foi retirada por PMs do esquadrão antibombas.
Segundo os policiais, a bomba era de fabricação caseira. Provavelmente de pólvora, poderia causar ferimentos leves em raio de cinco metros.


Publicado na Folha de S.Paulo, sexta-feira, 23 de agosto de 1996

Bomba é achada na Bienal do Livro

da Reportagem Local

Bomba é achada na Bienal do Livro
Uma bomba caseira foi encontrada no início da tarde de ontem na 14ª Bienal Internacional do Livro, que se realiza no Expo Center Norte, na zona norte de São Paulo. Ela estava dentro de um cesto de lixo, sob a pia do banheiro masculino, no Pavilhão Vermelho.
Na hora em que a bomba foi detectada havia cerca de 20 mil pessoas no Pavilhão Vermelho, que reúne a maioria dos estandes de livros estrangeiros. Cerca de 500 crianças de 60 escolas estavam no pavilhão. Nos outros pavilhões da Bienal havia 40 mil pessoas.

O explosivo foi visto pelo faxineiro Rosemir Donizete Serafim. Ele fazia a limpeza do local quando viu um "objeto estranho'' no lixo. Segundo o coordenador-geral da empresa Primeiro Plano Limpeza, Osmar Magalhães, Serafim teria pensado que o embrulho continha drogas.
Serafim chamou o porteiro Carlos Alberto Pereira, que trabalha nas catracas de entrada da Bienal, que acionou os seguranças.
A bomba foi transportada, ainda dentro do lixo, para um banheiro no mezanino, onde não há estandes e funcionam salas especiais para cursos, agência de correio, administração e sala de imprensa.
O Gate (Grupo de Ações Especiais da Polícia Militar), especializado em bombas, retirou a bomba do local. Ela foi detonada em um terreno na Sociedade Paulista de Trote. Segundo a polícia, a bomba não estava preparada para explodir sozinha.
Todas as pessoas foram retiradas do Pavilhão Vermelho, que ficou interditado por mais de uma hora. Além de retirar a bomba do local, o Gate efetuou uma varredura em toda Bienal à procura de outros explosivos. Nada foi localizado. Os outros pavilhões continuaram a funcionar normalmente. Não houve registro de tumulto durante a retirada das pessoas.
"Tudo aconteceu de maneira muito tranquila. Não houve correrias ou tumultos. Pedimos às pessoas que deixassem os estandes porque havia a presença de uma autoridade. Metade das pessoas nem ficaram sabendo o que aconteceu'', disse Altair Ferreira Brasil, 62, presidente da Câmara Brasileira do Livro, que organiza a Bienal. Brasil descarta a possibilidade de um ato terrorista.
"Não sei quem nem por que colocaram uma bomba aqui. Não acredito em terrorismo nem ameaça política. A Polícia Civil vai investigar o crime e apurar as responsabilidades'', disse Brasil.
Na hora em que a bomba estava no banheiro, o candidato do PSDB à Prefeitura de São Paulo, José Serra, visitava o local. "Ele passou ao lado da bomba'', disse Brasil, que elogiou o serviço de segurança, mas pretende ampliá-lo. "Vamos ter mais policiais do lado de fora. Mas não vamos revistar as pessoas. Os banheiros serão monitorados em intervalos mais curtos e os seguranças redobrarão a atenção.''
(NOELLY RUSSO, ARMANDO ANTENORE e CASSIANO ELEK MACHADO)

'Deus me guiou'

ARMANDO ANTENORE

da Reportagem Local
"Foi Deus quem me guiou." Rosemir Donizete Serafim, 40, o faxineiro que encontrou o explosivo no Expo Center Norte, enxerga o dedo divino em tudo o que viveu ontem à tarde.
"Uma luz me fez perceber que o pacotinho tinha um jeito esquisito. Consegui manter a calma e agir rapidamente", diz. "Nunca imaginei que fosse bomba. Pensei em droga ou outra coisa de valor. Por sorte, aquilo não estourou no meu rosto."
Pelé
O faxineiro, evangélico, está em São Paulo há apenas quatro meses. Casado, duas filhas (de 6 e 9 anos), é natural de Três Corações (MG), a terra de Pelé.
Deixou a família em Minas para morar com a irmã na favela do Boi Malhado (Vila Nova Cachoeirinha), zona norte da cidade.
Por volta de 1978, sofreu um acidente de trabalho, amputou três dedos da mão direita e abandonou a profissão de metalúrgico.
Antes de se mudar para São Paulo, fazia bico como camelô. Hoje, na função de faxineiro, ganha "uns R$ 300" por mês.
Membro da Assembléia de Deus, Serafim frequenta "o culto" quase que diariamente. Ontem à noite, pretendia ir à igreja para agradecer "a graça" que recebeu.
"Não sou herói nem quero fama. Ninguém precisa conhecer minha cara", explicou, quando a Folha tentou, sem sucesso, fotografá-lo.

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