PALÁCIO ABRIGA AMORES E MISTÉRIOS
Funcionários
ainda "vêem'' Adhemar de Barros nos Campos Elíseos
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Publicado
na Folha de S.Paulo, domingo, 23 de abril de 1995
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Da Reportagem Local
Dos palácios de São Paulo, o dos Campos Elíseos,
no centro da cidade, é o que guarda histórias mais intrigantes.
A começar pelos seus porões.
Ali foi descoberta uma estátua em mármore de uma mulher
nua. Quem serviu de modelo para o escultor? A pergunta começou
a ser feita em 1911, quando o palácio passou a ser sede do
governo de São Paulo.
Uma das versões conta que o escultor se inspirou em uma das
filhas do empresário Elias Antônio Pacheco e Chaves,
que construiu o palácio em 1899.
Haveria um romance entre a filha de Chaves e o escultor da obra. Contrário
ao romance, o empresário teria forçado a filha a se
internar num convento. A estátua foi confinada nos porões
do palácio. Anésia, uma das filhas de Pacheco e Chaves,
era freira.
A estátua ainda rende histórias. Funcionários
do palácio, onde hoje funciona a Secretaria da Ciência,
Tecnologia e Desenvolvimento Econômico, que preferem não
se identificar, juram que o fantasma da moça perambula à
noite pelo palácio.
Ruth Pacheco e Chaves, viúva do ex-deputado Pacheco e Chaves,
neto do primeiro proprietário do palácio, nega a história
do romance e a origem da estátua.
Uma escada em caracol liga o antigo gabinete do governador a um aposento
no andar superior. Segundo antigos funcionários, o governador
Adhemar de Barros (1947-1951 e 1963-1966) escapava por essa escada
para encontros amorosos com Ana Capriglione, sua amante e secretária.
Adhemar emprestava ao romance lances de humor. Ordenava a seus auxiliares
que dissessem que estava reunido com "Dr. Rui'', apelido pelo
qual ficou conhecida a namorada.
Em 1969, o mesmo romance serviu para uma das ações mais
espetaculares de grupos armados que agiam contra o regime militar.
Um cofre de 200 quilos, que originalmente ficava no palácio
dos Campos Elíseos, contendo US$ 2,4 milhões, foi roubado
da casa da família de Ana, no Rio.
Para a guerrilha, o dinheiro era fruto da "caixinha'' que Adhemar
obteve no governo.
O fantasma de Adhemar de Barros também anda a rondar a secretaria.
Há quem jure que ele anda de elevador à noite.
Réplica de castelos franceses, o Campos Elíseos também
guarda histórias dramáticas. Alguns de seus ocupantes
fugiram apressados por túneis que saíam de seus porões.
Revoltas
Foi o que aconteceu, por exemplo, no governo de Carlos de Campos,
em 1924, quando foi cercado por rebeldes que queriam a deposição
do governador, então chamado de presidente. Voltou a ser cercado
em 1932, no governo de Pedro de Toledo.
Presenciou ainda histórias engraçadas. Armando Pedroso,
88, aposentado desde 1961 e dando expediente no palácio, lembra
de uma pizza que o ex-governador Jânio Quadros (1955-1959) atirou
pela janela.
Ele pedira para um funcionário comprar uma cerveja "Pilsen''.
O funcionário se enganou e trouxe uma pizza. "Jânio
jogou a pizza pela janela. Parecia um disco voador'', diz Pedroso.
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