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              AGORA, MORTOS E LAMA 
               
               
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             Publicado 
              na Folha de S.Paulo, terça-feira, 21 de março 
              de 1967 
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              Neste texto foi mantida a grafia original 
               
                
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            Caraguatatuba está sob a lama, Sabado à tarde, depois 
            de três dias de chuva, começou o deslizamento dos morros. 
            Arvores foram arrancadas e arrastadas pela enxurrada, levando pessoas, 
            animais e casas. Toda Caraguatatuba, desde a praia Martim de Sá 
            - onde se sai para Ubatuba - até a Santa Casa, do outro lado 
            da cidade, foi varrida. Oitenta corpos já foram recolhidos 
            muitos deles ainda não identificados e por ora não se 
            pode prever o numero de mortos: muitos lugares populosos não 
            podem ser atingidos. 
            Por terra não se chega ao litoral Norte. Na estrada Paraibuna-Caraguatatuba 
            a partir do Mirante, no quilometro 194, até o quilometro 199, 
            trinta barreiras cairam, obstruindo a estrada. E no quilometro 202 
            a estrada desapareceu, levada pelas aguas, em quase dois mil metros. 
            Aí, no sapé de um morro, isoladas de tudo e de todos, 
            pessoas acenam desesperadamente para os helicopteros que passam ao 
            longe. 
            Outra familia está ilhada num precipicio, na estrada. Caiu 
            tudo ao redor e eles ficaram presos numa Kombi. Estão lá 
            desde sabado, homens, mulheres e crianças. Hoje de manhã 
            um helicoptero do Centro Tecnico de Aeronautica, de São José 
            dos Campos, tentará a salvamento. 
            A primeira turma de salvamento chegou a Caraguatatuba no domingo de 
            manhã. O transporte foi feito em rebocador, de Santos a São 
            Sebastião, de lá em barco de pesca até Caraguatatuba. 
            Eram soldados, enfermeiros e medicos. Outra turma, formada pelo delegado 
            de Ubatuba, saiu de madrugada, por rodovia, e só chegou às 
            quatro da tarde. 
            Logo depois do rebocador "Sabre", seguiu o navio oceanografico 
            "Almirante Saldanha", levando esquipamento de socorro de 
            emergencia e generos alimenticios. Era esperado de volta pela madrugada, 
            trazendo para Santos 500 desabrigados e feridos. Tambem foi mobilizado 
            o petroleiro "Mato Grosso", da Fronape. 
            Ontem o navio "Rio das Contas" deixou o Colegio Naval, em 
            Angra dos Reis, e foi para Caraguatatuba para retirar feridos e desabrigados. 
            Tambem o rebocador "Tritão" partiu da Guanabara levando 
            mil litros de gasolina para o reabastecimento dos helicopteros da 
            Marinha. 
            Às 21 horas o QG da Força Publica recebeu pelo radio 
            aviso do comando do 5º Batalhão Policial de Taubaté, 
            informando que a tropa que seguiu por terra já alcançou 
            Caraguatatuba. O sistema de energia eletrica foi restabelecido parcialmente. 
            Para os primeiros socorros, a Força Publica mobilizou 350 homens, 
            entre oficiais e praças, pertencentes a oito unidades, de São 
            Paulo, Taubaté e Santos. 
            A equipe que chegou ontem a Caraguatatuba levou emissora de radio 
            portatil, que transmitirá para o QG os dados que forem sendo 
            colhidos. 
            A informação da Policia Rodoviaria é de que a 
            estrada de Paraibuna a Caraguatatuba poderá ficar interrompida 
            por três meses. Uma variante deverá ser aberta, mas todos 
            os homens e maquinas disponiveis foram deslocados para trabalhar na 
            estrada entre Ubatuba e São Luís do Paraitinga, tambem 
            interrompida, mas que está em condições de ser 
            recuperada nos proximos dias. 
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