Da Agência Folha, em Recife
Maria
das Dores da Conceição, 40, vive de catar lixo no
aterro sanitário de Timbaúba e diz que come rato ``desde
pequena''.
``O que tiver aí (aponta para o lixão) a gente come
para não morrer de fome'', disse.
Com oito filhos que, segundo ela, também comem rato, Maria
da Conceição afirma que nunca ficou doente por causa
da comida.
De acordo com ela, a única coisa que as pessoas de sua família
sentem é dor de cabeça, às vezes, mas ``por
causa do sol''. ``Dor de barriga mesmo nunca deu'', afirmou ela.
A catadora de lixo captura os ratos que se escondem em buracos no
depósito de lixo e depois cozinha os animais em uma fogueira.
O ``acompanhamento'' depende do que vier no lixo. Maria das Dores
diz que varia de batata até cabeça de galinha.
``Nós somos mais ratos do que os próprios ratos'',
afirma. A seguir, trechos da entrevista de Maria da Conceição
à Agência Folha ontem à tarde.
Agência Folha - Você come os ratos que vivem no lixo?
Maria das Dores da Conceição - Como. Eu e todo mundo
aqui. Não temos condições de comer outra coisa,
então comemos rato para não morrer de fome.
Agência Folha - Como é que vocês comem o rato?
Maria - A gente pega o rato, joga na fogueira e raspa o cabelinho.
Depois abre a barriga, tira as tripas, a cabeça e os pés,
lava, põe sal e cozinha na brasa. Faço com batata,
cabeça de galinha, o que vier no lixo.
Agência Folha - Alguém já foi mordido por um
rato ou passou mal depois que comeu?
Maria - Nunca ninguém passou mal por causa da comida. A gente
sente uma dor de cabeça às vezes, mas é do
sol. Dor de barriga mesmo nunca deu. Nós somos mais ratos
do que os próprios ratos.
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