O DESCASO DA PREFEITURA


O triste estado de abandono da rua Conselheiro Brotero

Publicado na Folha da Manhã, quinta-feira, 17 dezembro de 1925

Neste texto foi mantida a grafia original

A rua Conselheiro Brotero, na Barra Funda, offerece, ao olhar curioso e observador, um triste contraste.
A parte que vae da rua da Barra Funda ao Hygienopolis é tratada com carinho, estando convenientemente calçada e arborizada. O trecho que vae daquella rua aos trilhos da Sorocabana é simplesmente vergonhoso, tal o seu estado de abandono.
Soffrem tormentos inenarraveis os moradores dahi. Nos dias de canicula, quando o sol, impiedoso, castiga barbaramente a terra, a agua que sae da fabrica Textis, correndo pela valleta aberta daquella rua, indo desaguar no exgotto que a leva ao Tietê, exhala uma fedentina horrivel, o que obriga aos moradores a manterem fechadas as suas residenciais, fugindo ao cheiro desagradavel e insupportavel que invade e suja os lares. E quando São Pedro abre as torneiras do céo e a agua corre abundante pela valleta, transbordando e enchendo as casas, é horrivel o que padece aquella gente. E não é só: Nos dias de chuva, a travêssa petizada do bairro entra na valla, divertindo-se na enxurrada, inconsciente do perigo que corre.
Ainda ha dias, segundo nos informou o architecto Carlos Cabral, residente na casa 25 da rua Conselheiro Brotero, um menor foi arrastado pelas aguas, desapparecendo. Dias depois, o pequeno Alfredo, de cinco annos, filho de João Rossanezi, morador no predio nº 31 dessa rua, ao sahir de sua casa, cahiu na valla, sendo salvo das aguas cem metros adiante de sua residencia, por um senhor morador à rua Victorino Carmillo.
E a Prefeitura, afim de prevenir futuros desastres de consequencias gravissimas, deve cuidar com a maxima urgencia de encanar aquella agua e tapar a valleta, prestando, dessa forma, real beneficio aos moradores da desprezada rua Conselheiro Brotero.
E pode mesmo aproveitar o tempo, e os operarios, mandando capinar a rua onde o capim cresce em abundancia, obrigando, a seguir, os proprietarios a construirem passeios em frente às respectivas casas.
Tambem a policia deve tomar medidas de vigilancia que ponham aquelles moradores a salvo da audacia dos amigos do alheio, que alli estabeleceram campo e acção permanente.

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