BRINCANDO, A CRIANÇA APRENDE
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Publicado
na Folha da Manhã, Domingo, 11 de novembro de 1951
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Neste texto foi mantida a grafia original
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Conselho às Mães
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Brincar
é para a criança um modo de aprender, de experimentar,
de tentar ela mesma fazer as coisas, de indagar tudo quanto a rodeia.
O mundo, para ela, está cheio de prazeres, porque há
sempre aventuras novas e novas situações de experiencias
passadas. Ao mesmo tempo, a brincadeira é para a criança
uma coisa seria, e os pais devem destiná-la cuidadosamente.
Todas as mães podem aprender muito sobre a maneira de brincar
de seus filhos, se os observarem sem interrompê-los. Quando
uma criança chega à idade de um ano, arremessa os brinquedos
para fazer barulho, e coloca os blocos uns sobre os outros; enche
os baldes de areia e despeja-os de novo; aponta figuras ou cores nos
seus livros de bonecos, tentando repetir a palavra que ouviu alguem
dizer ao apontá-las.
À medida que vai crescendo, a criança adquire gradualmente
maior destreza de movimentos e é capaz de fazer construções
mais altas com seus blocos; esforça-se por apanhar a bola e,
mais tarde, por enfiar contas grandes. Coisas que não podia
fazer há poucos meses, vão-se-lhe tornando faceis. Agora
quer brinquedos com os quais possa fazer alguma coisa. Aprende a andar
e, com este novo sucesso, começa uma nova forma de brincar,
puxando e empurrando objetos. Arrasta pelo chão um cachorro
de brinquedo ou uma caixa amarrada na ponta de um barbante, ou empurra
uma cadeira de um para outro lado do quarto. Talvez se lhe tenha mostrado
como se atira uma bola e a criança, então, de repente,
quer atirar tudo quanto esteja ao seu alcance. Depois, se acha um
lapis de cor, põe-se a riscar no papel, nas paredes e no chão.
Aos dois ou três anos, começa a brincar com outras crianças
de sua idade. Se tiver irmãos mais velhos, estes podem convidá-la
a tomar parte nos seus brinquedos, embora a criança a principio
não saiba bem o que eles querem. A maneira de desempenhar seu
papel, obedecer as regras do jogo, pagar multa se jogar fora da vez,
são ideias por enquanto superiores a sua compreensão.
Dentro de poucos, porem, as terá compreendido e, com elas,
a lição fundamental de viver feliz entre os outros.
Quando a mãe se detiver a observar por alguns instantes seu
filho brincando, compreende que é desta maneira que ele aprende
e exercita seus musculos. A criança que conseguir colocar no
cimo de sua torre, já alta, o ultimo bloco, sem deixar tudo
abaixo, tem razão para saltar de alegria pela proeza realizada.
Aprendeu uma coisa tão importante para sua idade como será,
mais tarde, somar dois mais dois. Deve animar-se esse exercicio dos
sentidos e dos musculos, dando à criança brinquedos
que estimulem a empregar novas combinações de movimentos.
Brincando com um saquinho de feijão ou atirando argolas, esforça-se
por acertar; enfiando contas, abrange outra habilidade; desenhando
no quadro negro, descobre outra. Os exercicios de subir, balançar,
andar de gatas e dar cambalhotas desenvolvem os musculos grandes das
costas e do abdomen.
Não se deve tentar ensinar à criança a usar primeiro
os musculos pequenos. Para uma criança dos dois aos cincos
anos é exercicio muito melhor desenhar em grande folhas e cortar
figuras grandes, que exercicios delicados com as mãos, como
costurar e bordar.
Talvez a lição mais importante que se aprende brincando
seja a coordenação, ou o funcionamento dos musculos
juntamente com os sentidos. Observando-se uma menina de seis anos
saltar a corda, ao som de sua propria cantiga ou da de seus companheiros,
talvez não se pense em que o funcionamento coordenado da vista,
do ouvido e dos musculos, em perfeito ritmo, seja o resultado de lições
aprendidas em brinquedos durante os anos pré-escolares. A epoca
mais apropriada para a educação dessas aptidões
é durante a infancia; a criança que tenha brincado animadamente
e com liberdade atinge aquela agilidade sem dar pelo esforço;
Uma criança necessita de andar e correr, subir nos moveis,
balançar traquinar, puxar, empurrar, escavar e atirar coisas.
Necessita de alargar cada vez mais o ambito de seus interesses. Apesar
de ser importante que as crianças, especialmente as mais pequeninas,
brinquem sossegadas, pelo menos uma parte do divertimento de cada
criança deve ser em liberdade e com animação.
É preferivel que o quarto em que a criança brinca, dentro
de casa, esteja arranjado de maneira a que ela possa brincar por todo
ele (ou numa porção dividida) e mexer em tudo o que
estiver ao seu alcance. Será conveniente um quarto de recreio,
exposto ao sol, ou uma varanda, abrigada e protegida. |
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