TABU É ENCONTRADO EM TODAS AS CULTURAS


Publicado na Folha de S.Paulo, quarta-feira, 10 de outubro de 1993

Da Redação

Em tribos de Uganda, qualquer vasilha tocada por uma mulher menstruada deve ser destruída. Entre os esquimós, são necessárias algumas fórmulas mágicas para purificar xícaras ou pratos usados por uma mulher menstruada. Entre alguns índios norte-americanos, elas são proibidas de tocar objetos dos homens, para não causar males. No interior da França, acredita-se que o vinho azede se uma mulher menstruada entrar na adega. No sertão do Brasil, os remédios perdem o efeito se tocados por uma mulher menstruada.
Não é mera coincidência o período menstrual se chamar de "regra". O fluxo menstrual, como qualquer secreção do corpo humano (à exceção da lágrima e, em alguns casos, do suor) é visto como impuro. Por se tratar de sangue, símbolo da própria vida, são muito mais intensas as regras que recaem sobre ele.
Nem todas essas regras têm valor negativo. Muitas proibições parecidas são feitas aos homens sagrados ou aos guerreiros, em várias culturas. A menstruaço, de qualquer forma, pertence ao terreno do incompreensível, do sagrado, do assustador.
Boa parte dos impedimentos a uma mulher menstruada (não deve dar mamadeira, pôr galinhas para chocar, fazer a cama dos recém-casados, guardar frutos para amadurecer...) parecem claramente ligados à idéia de que a menstruação é a negação de uma vida que deveria ter florescido. Mas muitos desses impedimentos também se aplicam a mulheres grávidas.
Parecem associações universais: ciclo menstrual, ciclo da Lua, a noite, impureza. E regras para neutralizar o perigo. Segundo o Velho Testamento, a mulher menstruada permanece sete dias impura. Qualquer um que a toque ficará impuro até a noite. A cama em que ela dormir será impura e quem tocar esse leito terá de se lavar e lavar suas roupas. Se um homem dormir com ela, ficará impuro por sete dias.
Segundo o Talmude, livro judaico de comentários à Bíblia, se uma mulher menstruada passar entre dois homens, um deles morrerá. Se ela estiver no final do fluxo, eles apenas brigarão violentamente.
Em alguns lares islâmicos, a mulher menstruada é posta para fora de casa e dorme numa cabana. Quando ela fica em casa, deve dormir no chão ou numa cama baixa e não pode nem sequer tocar o marido ou sua cama. Muito menos preparar comida para ele.
Mais severas são as restrições à primeira menstruação. Entre os índios guaranis do Brasil, a menina era costurada numa rede e ficava presa por dois ou três dias, em jejum. Entre os negros de Loango, as meninas são confinadas em cabanas e não devem tocar o chão com uma parte sequer do corpo nu.


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