Um conflito entre soldados do exército, policiais-militares
e metalúrgicos em greve na Companhia Siderúrgica Nacional
(CSN), em Volta Redonda (RJ), causou ontem a morte de três pessoas
e ferimentos em pelo menos 31. A identidade de dois dos mortos - Valmir
Freitas Monteiro, 28, da própria CSN, e William Fernandes Leite,
23, da Fábrica de Estruturas Metálicas - foi revelada
pelo prefeito da cidade, Marino Clinger (PDT), depois de visita ao
hospital da CSN. Eles foram alvejados a bala. A existência de
um terceiro morto (sem identificação) foi anunciada
às 0h40 pelo presidente licenciado do Sindicato dos Metalúrgicos
de Volta Redonda, Juarez Antunes (deputado federal pelo PDT), e confirmada
em seguida pela CSN.
O confronto
começou às 19h, quando cerca de 600 soldados do Exército
e da PM desceram a avenida Independência - em frente à
CSN - atirando bombas de gás lacrimogêneo. Os metalúrgicos
responderam com paus e pedras. Um automóvel foi utilizado
como barricada pelos soldados. O coronel Orlando Mattos, comandante
do 22° Batalhão de Infantaria Motorizada, afirmou que
havia retirado "mais de mil" metalúrgicos da siderúrgica
e que iria "tirar todo mundo lá de dentro durante a
madrugada, porque eles estão depredando o patrimônio".
A ordem
para a ocupação da siderúrgica pelas tropas
do Exército, ocorrida na noite de terça-feira, partiu
do juiz da 3ª Vara Cível de Volta Redonda, Moisés
Cohen.
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Da Sucursal do Rio
Três
pessoas morreram ontem em Volta Redonda (a 99 km do Rio) durante
os conflitos envolvendo soldados do Exército, policiais militares
e metalúrgicos da Companhia Siderúrgica Nacional (CSN),
em greve desde segunda-feira. Às 23h, o prefeito de Volta
Redonda, Marino Clinger Toledo Neto (PDT), confirmou as mortes à
bala de: Valmir Freitas Monteiro, 28, da CSN, e William Fernandes
Leite, 23, da Fábrica de Estruturas Metálicas. Às
0h30 a assessoria da CSN confirmou mais uma morte.
Às
23h50, o presidente interino do Sindicato do Metalúrgicos
de Volta Redonda, Marcelo Felício chegou ao hospital da CSN,
levado pela Polícia Federal, ferido e algemado, segundo a
assessoria de imprensa do próprio sindicato. A informação
sobre os dois mortos foi ratificada pelo diretor-geral do Hospital
São João Batista, Ricardo Name, que disse saber de
dois corpos no hospital da CSN. Segundo o sindicato, as duas mortes
teriam sido causadas por golpes de baioneta. O prefeito divulgou
uma lista com 17 feridos no hospital da CSN, sendo quatro à
bala; cinco feridos leves no Hospital São João Batista,
e mais três feridos no Hospital Santa Madalena.
À
0h de hoje, o bispo de Volta Redonda, Waldir Calheiros, o presidente
licenciado do sindicato, Juarez Antunes, o presidente da CSN, Juvenal
Osório Gomes, o general José Luis Lopes e o prefeito
da cidade, Marinho Clinger, começavam uma reunião
para tentar uma trégua. Ao entrar para a reunião,
o presidente da CSN disse que iria buscar uma trégua e que
"há possibilidades de mais mortes". Disse que "o
Exército foi enfrentado pela turba com paus e pedras e teve
que reagir para não ser sobrepujado". Perguntado se
apoiava a ação do Exército, afirmou: "Exército
é isso, não tem meio-termo." O balanço
da CSN até esse horário era: dois mortos, 23 feridos,
cinco internados e 16 liberados com escoriações leves,
atendidos no hospital da usina.
Às
0h30, ao sair da reunião, o general José Luís
Lopes da Silva disse que tinha sido firmado o seguinte acordo: o
Exército se comprometeu a não invadir a aciaria (onde
é produzido o aço) esta noite, enquanto o sindicato
se comprometeu a levar a proposta para a CSN de retirada, até
as 8h de hoje, dos trabalhadores que ocupam a aciaria. O presidente
interino disse que dentro da CSN estão mais de cinco mil
homens do Exército.
Ao
falar sobre os incidentes o general disse que houve tiroteio dentro
da CSN. Afirmou que vários tiros de pistola 7.65 tinham sido
dados de fora da usina e sobre a atuação da tropa
disse que "o Exército agiu como devia ter agido, no
sentido de restabelecer a ordem. Agora, a violência nós
lamentamos. A tropa agiu em legítima defesa, mesmo fora da
usina".
Às
19h, as ruas próximas ao portão principal da usina
foram transformadas em uma praça de guerra: bombas de gás
lacrimogêneo foram atiradas contra os grevistas, que respondiam
atirando paus e pedras; um Volks foi virado por soldados do Exército
que também armaram uma barricada de fogo na rua 25 A, próxima
à entrada da usina. O comércio cerrou as portas quando
o conflito começou.
O comandante
das tropas do Exército que ocuparam a usina, general José
Luis Lopes, disse que as tropas foram deslocadas para Volta Redonda
"por duas razões: para restabelecer a ordem, porque
houve insubordinação civil, e para preservar o patrimônio,
que até agora não sofreu danos". O general mostrou
um mandado de manutenção de posse expedido pelo juiz
da 3ª Vara Cível de Volta Redonda, Moises Cohen, autorizando
a invasão.
À
noite, o coronel Orlando Mattos, comandante do 22° Batalhão
de Infantaria Motorizada, disse que já havia retirado "mais
de mil" metalúrgicos do interior da usina e que iria
"tirar todo mundo lá de dentro durante a madrugada,
porque eles estão depredando o patrimônio".
O presidente
licenciado do Sindicato dos Metalúrgicos de Volta Redonda
para exercer a função de deputado federal pelo PDT,
Juarez Antunes, disse ter a notícia de mais de 30 pessoas.
O chefe do departamento de medicina do Hospital da CSN, Jaime Vera,
disse à Folha, por telefone, às 21h30, não
ter autorização para fornecer o nome nem a causa morte.
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Por volta das 20h30, tiros de metralhadora foram ouvidos no interior
da usina, ocupada por cerca de 600 soldados do Exército, mas
nenhuma informação sobre a situação dentro
da usina foi obtida. À tarde, Marcelo Felício, que estava
no interior da CSN, disse à Folha que os metalúrgicos
iriam reagir caso o Exército tentasse ocupar a acearia, onde
estão cerca de 2 mil operários.
Felício
afirmou que os metalúrgicos estavam equipados com barras
de ferro, tubos de amônia e que poderiam jogar água
nos altos fornos que estão sendo mantidos ligados. Caso os
três altos fornos da usina sejam desligados, levarão
cerca de um ano para voltar a funcionar normalmente, paralisando
toda a produção de aço.
O comandante
da tropas do Exército que ocuparam a usina, general José
Luiz Lopes, não foi encontrado para falar sobre os conflitos
ocorridos durante a noite.
Cerca
de dois mil operários se concentravam em frente ao portão
principal da CSN, que estava guardado por 30 soldados do Exército,
um carro blindado Cascavel quando os soldados e os PMs surgiram
em formação cerrada descendo a avenida da Independência.
Houve muita correria pela cidade.
Pela
manhã, o general Lopes afirmou que as tropas haviam sido
deslocadas para Volta Redonda por determinação dos
Poderes Judiciário e Executivo e que "não desejavam
o confronto". A tarde, após uma reunião na sede
da CSN com a direção da empresa e o comando da greve,
o general disse que "ia pensar se ia dispersar o pessoal (os
grevistas)".
Ele
não quis estimar o efetivo deslocado para o local, afirmando
apenas que haviam sido mobilizados o 22° Batalhão Motorizado
de Barra Mansa, o 1° Esquadrão de Cavalaria Mecanizada
de Valença (cidades vizinhas à Volta Redonda) e efetivos
de Vila Militar (em Realengo, zona oeste do Rio). A noite, o juiz
Coher decidiu convocar uma reunião entre as partes, que se
iniciou a 0h30.
Em
duas assembléias realizadas ontem à tarde - uma no
interior da usina e outra em frente ao portão principal -
os metalúrgicos decidiram manter a greve iniciada há
quatro dias e que paralisou toda produção da empresa.
Os
metalúrgicos estavam divididos em dois grupos - um deles
com cerca de 8 mil pessoas está concentrado em sua maioria
em um pátio interno da CSN, cercado por cerca de 200 militares,
três carros blindados, 5 caminhões e quatro jipes do
Exército. O outro grupo, impedido de entrar na usina desde
as 23h concentrava-se em frente ao portão principal.
Para
o general Lopes, "a ocupação da usina feita pelos
metalúrgicos foi muito inteligente porque eles ocuparam a
acearia impedindo a fabricação de aço."
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