POR QUE VOCÊ NÃO SE CASA?


Publicado na Folha da Manhã - domingo, 7 de outubro de 1951

Neste texto foi mantida a grafia original

Os casos: não encontra homem solteiro; 2) encontra-os, mas eles não servem; 3) servem, mas não agradam; 4) agradam-na, mas você não os agrada; 5) apaixonou-se por um homem casado; 6) você tem encargos de familia - O que dizem Constance Barttel e o psictanalista dr. Theodror Reik, dos Estados Unidos.

É elevado o numero de mulheres que trabalham, de trinta anos ou mais, que gostariam muito de estar casadas, mas que ainda não encontraram o seu "principe encantado". Algumas delas vivem e trabalham em companhia exclusiva de mulheres: outras têm contacto com homens, mas nenhuma delas consegue casar-se.
Por que?
É claro que não existe uma única razão para que pessoas que trabalham em lugares tão diferentes e sejam de tipos tão diversos não tenham encontrado ainda o seu "principe", simplesmente porque as mulheres solteiras não são de um só tipo: são loiras, morenas, ruivas, castanhas, cheias de corpo, magras, medias; altas, baixas, gordinhas, magrinhas; são as do tipo maternal e as do tipo não maternal, do tipo domestico e do não domestico.
Superficialmente, casadas e solteiras têm a mesma aparencia. O que determina, então, a possibilidade de a mulher casar-se e de não casar-se? As solteiras têm resposta: circunstancias. Quase todas elas estão convencidas de que não contrairam matrimonio ou porque nunca encontraram homens solteiros ou porque, quando os descobrem, são do tipo que "não serviria". Se topam com o homem do tipo que "serviria", falham ao tentar atraí-lo. Existe um grupo especial que, embora tendo ampla oportunidades para o casamento, possui complexo de inabilidade para, não diremos "cair", mas simplesmente para amar alguem. Outras sentem que existe um obstaculo de ordem material que "anularia" o casamento: têm a responsabilidade de precisar sustentar a mãe ou outra pessoa dependente. Há ainda um outro grupo: das que conseguiram amar mas... a um homem casado. Estas explicações de fatores externos parecem satisfazer muita gente e são consideradas validas. Mas os entendidos no campo das relações humanas dizem que estas explicações não são tão satisfatorias como parecem. Têm eles para si que esses obstaculos externos são nada mais nada menos que entraves de ordem interna, criados pela propria pessoa como valvula de escapamento e, sendo constantemente burilados, transformam-se em barreiras terriveis. Uma das razões mais comuns para todos os casos é que a mulher que não consegue casar-se porque, intimamente, não o quer por medo. Elas acreditam que são as circunstancias que mantêm a mulher que não consegue casar-se, circunstancias que poderiam ser transformadas em possibilidades palpaveis afastam-nas dos homens. Atrás dessas circunstancias descansa o sentimento de incapacidade, geralmente de natureza especifica. Uma mulher pode sentir-se profundamente incapaz num certo sentido como aparentemente, intelectualmente, socialmente, mesmo que em outros setores seja perfeitamente normal. Este senso de incapacidade, mesmo com o peso de grandes virtudes, transforma-se em algo tão burilado, tão bem desenvolvido, que destrói todas as oportunidades de casamento. A mulher que sofre de um exagerado complexo de inferioridade, seja qual for a forma que este tome, conduz-se a si propria para o caminho do fracasso nas relações com os homens. Para fazer o seu caminho mais suportavel, ela naturalmente vai desenvolvendo defesas automaticas, prevenindo-se contra os homens de tal forma que as palavras, os gestos e as atitudes e reações trabalham exclusivamente a fim de protegê-la contra eles. Então, quer seja ela do tipo acanhado que nunca vai a festas, evitando dessa maneira o contacto com os homens; quer sendo do tipo meio "vamp", que tem um romance por semana e que se desculpa dizendo que não há meio de gostar de nenhum, o seu motivo inconsciente é sempre o mesmo: rejeitar os homens, embora ela esteja honestamente convencida de que está fazendo o possivel para encontrá-lo.
Vejamos agora a mulher que pensa que não é atraente, isto é, que pensa que não é fisicamente bonita; esta é uma larga classe que inclui pessoas que ocupam altos cargos e tambem simples caixeiras e ainda tecnicas de laboratorio. Entre elas estão aquelas que são consideradas por grande numero de pessoas como fisicamente atraentes mas que acham, elas proprias, que não têm nenhum atrativo. Nesta questão devemos considerar a aparencia da pessoa como os outros a vêm e não como ela pensa que é. O que acontece quando uma mulher deste tipo, de inferioridade imaginária, encontra um homem? Ela está precondicionada a falhar com ele. Concentrada em seus "pavorosos defeitos", que pode ser estatura muito elevada, estatura muito baixa, magreza, proeminencia do nariz e outros, o seu "mecanismo de reação" entra a agir. Ela se recusa intimamente a pensar que ele está realmente interessado. As provas que ele dá em contrario não a persuadem e ela as relega a segundo plano. Estas provas podem vir desde o fato de ele continuar solteiro, de levá-la constantemente a festa, de convidá-la a sair até ao fato de ele ter saido durante meses e meses, initerruptamente, com ela, exclusivamente com ela. Indicamos o sentimento de incapacidade fisica como nosso primeiro exemplo, porque este é um dos mais comuns e expressivos complexos de inferioridade, produzidos talvez pelo cinema ou influencias cotidianas. Aliás, já foi provado que a beleza não é o fator primordial para o casamento e para isso basta olhar para uma multidão: os casados, são de todos os tipos: baixos, altos, medios, magros, gordos, simpaticos, antipaticos, bem ou mal vestidos e o mesmo acontece com as mulheres. Não são poucas as esposas felizes que dizem "sei que não sou bonita, mas amo meu marido de qualquer jeito e ele me paga na mesma moeda."
Mas as solteiras nem sempre acham que não casam por não serem bonitas. A sua convicção de incapacidade pode ser social, intelectual, economica ou profissional. O que acontece é que, quando a solteira "sabe" que vai falhar, ela termina sempre falhando. De um modo ou de outro, ela rejeitará cada homem que se aproximar dela, e em geral sem perceber que ela é quem está fazendo isso. Existem numerosos meio de desgostar um homem e de afastá-lo. Em geral, elas não acreditam que ele esteja sendo sincero. A frase comum: aposto como você diz isso a todas" é uma prova disso; outra: "não é possivel que você esteja tão interessado em mim; o melhor é continuarmos bons amigos." São atitudes que raramente falham para afasta-lo. Dessa forma, vemos claramente que a mulher "fica livre" do homem por força-lo, simplismente, a "ficar livre" dela. Se bem seja ele quem pare de telefonar, é ela sempre quem bate a porta, isto é, mesmo que ele a procure, ela se afasta da forma mais rapida que lhe seja possivel.
Há outro tipo: a mulher que não vê nenhuma desvantagem, mas que "sabe" que não poderá chegar ao ponto de amá-lo "para casar". Este é um tipo de mulher que pode sustentar uma relação com um homem por muito tempo, até que ele se torne serio. Ai, então, ela vai-se transformando, achando que o que primeiro lhe parecia atrativo agora já não o é. E fica ainda achando que "ele esta mudando", quando, em verdade, ela é quem está ficando exigente, desiludida. O que acontece é que ela, inconscientemente, vai sucumbindo a imagem da realidade, do cotidiano e ela não poderá suportar isso. Mas ela continuará depois desse rompimento a acreditar que gostaria de casar-se se encontrasse um romance "de verdade".
O outro tipo, das que se apaixonam por homens casados, é o da pessoa frustada que se protege muito bem contra o proprio casamento. Todas as classicas historias de homens casados que depois ficam livres, pela morte da esposa em algum paises e por divorcio em outros, têm um único fim: a "apaixonada" vai perdendo gradativamente o interesse para voltar ao seu estado de expectativa por um "grande romance". Os casos de solteiras que atribuem ao campo economico ou à responsabilidade que têm de olhar para um parente, mãe, pai ou irmãos, tambem é outro obstaculo imaginado e desenvolvido carinhosa e lentamente pela propria pessoa. Com força de vontade, com persistencia e com desejo real de se casar e de assumir as responsabilidades do matrimonio, todos os obstaculos podem ser retirados, em maior ou menor tempo.
Depois de ver numerosos tipos dos mais numerosos casos comuns do "por que ainda não se casou" chega-se a uma conclusão: existe um único fator comum a todos os casos. O denominador comum é o Medo. Medo de ficar dependendo de um homem, medo de perder o controle da propria personalidade, medo de ser escravizada, medo de ter crianças, medo de perder a independencia. Vejamos o que se diz o dr. Theodor Reik, eminente psicanalista, autor de obras nesse sentido e um dos mais dedicados alunos de Freud. Diz ele que a razão basica pela qual a mulher não se casa é porque ela não gosta de si mesma. O Medo é um dos caminhos que levam à conclusão de que ela não gosta de si mesma. Ela não se considera realmente uma mulher e ela propria rejeita todos os homens mais do que estes a ela. Se alguem insiste, ela acha que é porque não a conhece bem e pensa que só poderá "se entregar" se ele conseguir conhecê-la inteiramente. A mulher solteira é incapaz de aceitar-se a si propria como um ser humano, com falhas e virtudes, como toda gente. Ela não se considera realmente uma pessoa. E enquanto ela não entender e se convencer disso, não será capaz de estabelecer uma relação solida, duradoura, feliz e adulta com um homem.
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