46 VIVEM E SÓ OITO MORREM NO BOEING ACHADO NA MATA
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Publicado
na Folha de S.Paulo - quarta-feira, 6 de setembro de 1989
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O Boeing 737-200 da Varig, desaparecido desde domingo, foi localizado
ontem numa fazenda em São José do Xingu (MT). O piloto
Cesar Augusto Padula Garcez, 32, fez um pouso de emergência
na mata. A manobra foi feita à noite em região montanhosa
com árvores de até 50 metros de altura. Das 54 pessoas
a bordo, 46 sobreviveram. O avião havia desaparecido quando
fazia o vôo 254 entre Marabá e Belém (PA).
O Boeing foi localizado depois que quatro de seus ocupantes caminharam
40 km na mata até a sede da fazenda Curunaré. Eles foram
a outra fazenda e passaram pelo rádio as informações
sobre o local do pouso forçado. Às 16h25 um Bandeirante
da Aeronáutica sobrevoou o Boeing e jogou alimentos para os
outros sobreviventes. Segundo o passageiro Epaminondas Chaves, o Boeing
pousou em mata fechada e abriu uma clareira de 100 metros de extensão
por 40 metros de largura. O resgate devia começar na madrugada
de hoje. A relação dos sobreviventes não foi
divulgada.
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Boeing
está no Mato Grosso com 46 sobreviventes |
Da Redação
O Boeing 737-200 da Varig, que desapareceu no último domingo
quando fazia o vôo 254 entre Marabá e Belém (PA),
foi localizado ontem às 16h25 pelo avião Bandeirante
6.544 do 2o Batalhão de Busca e Salvamento do Ministério
da Aeronáutica. Das 54 pessoas a bordo, 46 sobreviveram e oito
morreram. A lista dos sobreviventes não foi fornecida pela
Varig até a noite de ontem.
O piloto, Cesar Augusto Padula Garcez, 32, conseguiu fazer um pouso
de emergência no escuro na noite de domingo na fazenda Curunaré,
no município mato-grossense de São José do Xingu
(750 km ao sul de Belém). A região é montanhosa
e tem árvores de cerca de 50 metros de altura. O acesso só
é possível através de helicóptero.
Os sobreviventes Epaminondas Chaves, Antônio Farias de Oliveira,
Marcinílio Pinheiro Filho e Afonso Saraiva andaram cerca de
40 km em três horas até a sede da fazenda Curunaré.
Foram eles que forneceram as primeiras informações sobre
o local onde pousou o avião. Como a fazenda não tinha
meio de comunicação, os quatro foram levados de carro
até a fazenda vizinha, Serrão da Prata, às 12h30.
Na fazenda, com ajuda do radioamador João Capanema Jr., de
Franca (400 km ao norte de São Paulo), Chaves falou com sua
mulher, Marilucia Chaves, em Marabá. Capanema informou ao aeroporto
de Franca a localização dos sobreviventes.
Capanema conversava pelo rádio com seu pai, que estava na fazenda
de Tucuns (TO), quando a voz de Chaves entrou na freqüência
pedindo socorro. Segundo ele, Chaves estava muito nervoso, ofegante
e emocionado. Chaves disse que o avião pousou em mata fechada
e abriu uma clareira de 100 metros de extensão por 40 metros
de largura na floresta.
Os quatro foram levados, às 18h, pelo Bandeirante para o município
de Carajás (PA). Depois devem ir para Brasília. A Força
Aérea Brasileira (FAB) quer levar os outros sobreviventes para
Cachimbo (PA). O prefeito de Marabá, Nagib Mutran Neto, quer
levá-los para sua cidade. Seu irmão, Marcos Nagib, estava
no avião. O presidente da Varig, Hélio Smidt, afirmou
que quatro dos sobreviventes estão em perfeitas condições
físicas e psicológicas.
O gerente-regional da Varig em Marabá, Jorge Gaby, disse que
o resgate começará hoje às 6h. A Aeronáutica
afirmou que até as 12h de hoje todos os sobreviventes devem
ter sido resgatados. Às 16h27 o Bandeirante jogou alimentos
e remédios para os sobreviventes que ficaram perto do avião.
O Instituto de Pesquisas Espaciais (Inpe), em São José
dos Campos (85 km a nordeste de São Paulo), sabia a posição
aproximada do Boeing desde 2h45 de segunda-feira. A localização
foi feita por satélites.
Antes de iniciar as buscas, na manhã de segunda-feira, o Ministério
da Aeronáutica tinha esta informação. Apesar
disso, apenas dois aviões da FAB foram deslocados para a região
indicada pelos satélites. A Aeronáutica afirma que,
antes de concentrar as buscas na região, era necessário
esgotar as outras possibilidades. Por isso, equipes de busca foram
designadas para fazer buscas primeiro na rota original do Boeing e
suas imediações.
O local onde o avião pousou está numa rota oposta à
original, Marabá-Belém. Os algarismos das rotas são
os mesmos, dispostos em outra ordem. A rota Marabá-Belém
é indicada como 027. O avião foi encontrado em um ponto
que pertence à rota de número 220.
O piloto Garcez exerce a profissão há 13 anos. Entrou
para a FAB aos 17 anos como tenente da reserva da Aeronáutica.
Trabalhou em vôos regionais na Rio Sul, subsidiária da
Varig. Está há oito anos na Varig. Já fez mais
de dez mil horas de vôo. Há quase dois anos, fazia a
rota São Paulo-Belém, com escalas em Uberaba, Uberlândia
(MG), Brasília, Goiânia (GO), Imperatriz (MA) e Marabá.
O Boeing saiu de São Paulo às 9h43 de domingo. O vôo
até Belém tem duração prevista de oito
horas e 20 minutos.
Segundo o comandante Luís Fernando Collares, que também
trabalha nessa rota e conhece Garcez há 12 anos, disse que
Garcez é um piloto tranquilo e bastante frio em situações
difíceis. |
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