Da Reportagem Local
O líder
dos sequestradores do empresário Abilio Diniz, Humberto Paz,
34 (Juan Carlos), disse ontem em depoimento ao juiz Roberto Caldeira,
da 1° Vara Criminal, que pretendia fundar no Brasil uma nova
organização política. O dinheiro que seria
pago para o libertação de Diniz iria servir, segundo
Juan, como caixa do movimento. Apesar de ter militado em movimentos
terroristas da esquerda argentina, ele não disse se a nova
agremiação seria de esquerda ou de direita. "Era
uma organização embrionária, sem ligação
com nenhum partido no Brasil ou no exterior", afirmou. Juan
Carlos disse ao juiz que não é contra a democracia,
mas que seu grupo "não confiava na fachada democrática".
Ainda segundo Juan, a proposta dos sequestradores era fazer "mudanças
profundas", pois a democracia "não deu resposta
à miséria e analfabetismo do povo".
Juan Carlos também acusou a Delegacia Anti-Sequestro, da
Polícia Civil, de tê-lo torturado para obter o endereço
da casa em que estava o empresário Diniz. Ele afirmou que
recebeu choques na boca, no pênis e no ânus para que
desse informações à polícia. "No
sábado de manhã, dia 16 de dezembro, alguns policiais
também arrancaram minhas roupas e colocaram-me uma camiseta
do Partido dos Trabalhadores", afirmou. O diretor do Departamento
de Homicídios da Polícia Civil, Gilberto Cunha nega
as acusações. Ainda segundo ele, os sequestradores
Maria Marchi e Ulises Acevedo também foram submetidos a sessões
de tortura. A Polícia Civil nega as acusações.
Mas não foi revelado o resultado do exame médico feito
nos sequestradores, e que poderia comprovar ou não as acusações
de tortura.
O sequestrador também disse ao juiz que apenas ele e seu
irmão Horácio Paz, 39, planejaram o sequestro de Abilio
Diniz. Segundo ele, os sequestradores Maria Marchi, Cristine Lamont,
Robert Spencer, Pedro Lembach e Sérgio Urtubia não
tinham conhecimento do sequestro. "Parte das outras pessoas
que estavam na casa do cativeiro de Diniz tinham conhecimento apenas
parcial do sequestro", afirmou Juan Carlos, sem citar os outros
nomes.
Também depuseram ontem ao juiz os sequestradores Maria Marchi
Badilla, 43, chilena, os canadenses David Spencer, 26, e Cristine
Lamont, 30, e o brasileiro Raimundo Rosélio Freire, 24. O
depoimento mais longo foi o de David Spencer, que levou 1h40. O
Brasileiro Rosélio prestou o depoimento mais rápido,
de 15 minutos.
Maria Marchi e o casal canadense negaram ter participado do sequestro.
Todos disseram ao juiz que só ouviram falar de Abilio Diniz
no dia 16 de dezembro, quando a polícia cercou a casa em
que estava encarcerado o empresário. A polícia acusa
Maria Marchi de guiar o Opala que ajudou sequestrar Diniz. Sobre
David Spencer pesa a acusação de caracterizar de ambulância
a Caravan em que o empresário foi sequestrado.
No depoimento, os sequestradores Maria Marchi e Juan Carlos disseram
que já haviam sido presos por razões políticas,
mas omitiram os nomes das organizações em que militaram.
Segundo relatório elaborado pela polícia, Maria Marchi
Badilla pertenceu ao Movimento Revolucionário de Esquerda
(MIR), do Chile. Juan Carlos fez parte do Exército Revolucionário
do Povo, de extrema-esquerda, na Argentina. Ainda segundo a polícia,
Raimundo Rosélio teria militado na Convergência Socialista
do Ceará. Relatório elaborado pela polícia
Federal revela que David Spencer, marido de Lamont, foi associado
ao jornal esquerdista "El Rebelde", de El Salvador.
Na próxima terça-feira serão ouvidos pela Justiça
os outros seis sequestradores de Diniz.
O empresário Abilio dos Santos Diniz, que sempre se recusou
a andar acompanhado de guarda-costas, agora tem sido seguido, onde
quer que vá, por homens da segurança do grupo Pão
de Açúcar. O diretor de segurança do grupo,
Pedro Carlos, recusou-se ontem a revelar qualquer detalhe do esquema
montado para proteger Diniz. Anteriormente, Abilio dos Santos Diniz
só admitia o acompanhamento de agentes de segurança
para seus parentes.
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