A CIDADE DOS CARTAZES
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Publicado
na Folha da Noite, sexta-feira, 5 de outubro de 1934
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Neste texto foi mantida a grafia original
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Os contrastes que a nossa capital offerece Fachadas de
arranha-céos ostentando cartazes de todos os tamanhos
A bella iniciativa dos "amigos da cidade" Á
municipalidade compete controlar os excessos
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A nossa
capital é linda. E mais linda seria, sem duvida, se não
fosse por certos factos indicadores da desorientação
que preside ao nosso urbanismo: os contrastes dos alinhamentos dos
seus predios, as suas ruas cheias de curvas, e ainda e principalmente,
a bôa quantidade assombrosa de cartazes dependurados nas fachadas
dos arranha-céos. Na praça do Sé, por exemplo,
entre dois predios altos, cujas fachadas ostentam innumeros cartazes
de diversos tamanhos e de multiplas côres, existem tambem pequenas
casas de construcção antiga, cujo tecto arcado pela
acção do tempo, encarado numa visão de conjunto
dá, não só aos turistas que nos visitam, mas
tambem a todos que focalizam esse quadro, uma impressão desagradavel.
Entra-se pelas ruas do triangulo e o aspecto é o mesmo. Um
arranha-céo cheio de cartazes novos e velhos, alguns dependurados
só por um cordel, ameaçando a integridade physica de
qualquer transeunte. Esses predios, que dão a impressão
de um veterano guerreiro, ostentando no peito toda a série
de medalhas com que sua bravura foi condecorada, só enfeiam
a cidade e recommendam muito pouco os nossos urbanistas...
Na rua Libeira Badaró, angulo com o viaducto do Chá,
como de sobre este viaducto em direcção ao parque Anhangabahú
desdobra-se aos olhos do cidadão um panorama de predios enfeitados
com cartazes de innumeros tamanhos e côres, sem uniformização,
sem esthetica, uns rotos, outros descoloridos todos a concorrerem
para que a nossa capital seja a cidade dos cartazes e dos cartazes
que a enfeiam.
A contrastar com todo esse estado de coisas, projecta-se para o ar,
no final da rua Libero Badaró, o predio da Cia. Paulista, que
não tem nas suas paredes nem uma simples taboleta ou placa
de qualquer profissional e que por isso mesmo se sobresae com imponencia
e elegancia entre os arranha-céos que o circumdam. Visto de
longe, é que se poderá distinguir o quanto seria mais
linda a nossa capital se das fachadas dos predios desapparecessem
essa profusão de taboletas. Ao menos a municipalidade deveria
fiscalizar essa febre de propaganda de cartazes commerciaes e obrigar
os interessados a limitar-se a determinadas proporções.
Salvava-se, nesse tocante, a esthetica e o mal estaria remediado em
parte.
A Sociedade dos Amigos da Cidade, recentemente fundada por homens
que concorreram para a construcção e desenvolvimento
da cidade de São Paulo, está procurando com o seu esforço
corrigir esse erro de "conclusão" que se está
verificando na formação da nossa capital.
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