CORTE DE LUZ VAI ATINGIR 10 MILHÕES EM
SP
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Publicado
na Folha de S.Paulo, domingo, 5 de novembro de 1997
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Pelo menos 10 milhões de paulistas devem ser atingidos por
falta de luz em algum momento dos cinco dias previstos para a normalização
do fornecimento nas regiões Sul, Sudeste e Centro-Oeste. O
serviço está prejudicado devido à queda de torres
no Paraná.
O corte no país anteontem foi 62,5% inferior ao previsto pela
Eletrobrás.
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Corte
é 62,5% menor que o previsto |
MARCELO MONTEIRO
free-lance para a Folha
FERNANDA DA ESCÓSSIA
da Sucursal do Rio
O corte
de energia ocorrido no país anteontem foi 62,5% inferior
ao previsto pela Eletrobrás.
Do total de 8.321 megawatts que seriam retirados da rede, conforme
a programação da empresa, apenas 3.120 megawatts foram
efetivamente cortados.
A assessoria de imprensa da empresa não soube informar quais
os Estados que registraram problemas de fornecimento.
A previsão era que os Estados das regiões Sudeste,
Sul, Centro-Oeste e o Distrito Federal sofreriam redução
na oferta de energia.
O fornecimento acima do esperado foi resultado, segundo a Eletrobrás,
do aumento de 950 megawatts na oferta energética prevista.
A maior parte desse crescimento foi obtida graças à
antecipação do retorno à operação
da unidade geradora 3 da usina de Itaipu, que estava em manutenção,
oferecendo potência de 700 megawatts.
Também voltou a operar a usina hidrelétrica de Furnas,
no Rio Grande, entre São Paulo e Minas Gerais.
Outros fatores que amenizaram os cortes de energia foram a transferência
de 110 megawatts da empresa de energia do Paraguai, a Ande, para
a rede elétrica brasileira, e ganhos energéticos em
centrais nacionais.
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Colaboração |
A Eletrobrás também atribuiu o resultado à colaboração
de consumidores, que procuraram economizar energia entre as 19h30
e as 22h, período em que seriam realizadas as interrupções
de fornecimento.
Para ontem, o GCOI (Grupo Coordenador para Operação
Interligada), que monitora a operação do sistema elétrico
brasileiro, previa a retirada de 2.050 megawatts da rede entre 19h30
e 21h, 34,3% a menos do que o cortado na segunda-feira.
Poderiam sofrer interrupção de fornecimento os habitantes
de São Paulo, Rio de Janeiro, Minas Gerais, Espírito
Santo, Paraná, Santa Catarina, Rio Grande do Sul, Mato Grosso,
Mato Grosso do Sul, Goiás e do Distrito Federal.
O maior risco recaía sobre os habitantes do Estado de São
Paulo, que responde por 42,4% do consumo de energia no sistema interligado
Sul/Sudeste/Centro-Oeste.
Segundo o GCOI, os cortes programados para ontem poderiam ser evitados
com o aumento da economia de energia.
Os cortes de energia são consequência da queda de dez
torres de transmissão entre as subestações de
Foz do Iguaçu e Ivaiporã (Paraná) na manhã
de domingo, devido a fortes ventos.
Deixaram de ser transmitidos 5.000 megawatts fornecidos pela usina
de Itaipu. O total corresponde a 13% da demanda máxima por
dia do sistema interligado Sul/Sudeste/Centro-Oeste.
Com a melhoria do tempo na região do acidente, foi iniciada
a pré-montagem de quatro torres. A expectativa da Eletrobrás
é que um dos dois circuitos danificados volte a operar no sábado.
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Atingidos |
Anteontem, primeiro dia dos cortes de energia, faltou luz em 23 municípios
do Rio, incluindo a capital, onde o corte atingiu cinco bairros das
zonas norte e oeste.
A Light Serviços de Eletricidade S/A e a Cerj (Companhia de
Eletricidade do Rio de Janeiro), responsáveis pelo abastecimento
do Estado, não informaram quantos consumidores foram afetados.
As duas empresas, porém, cortaram menos energia do que previa
inicialmente a Eletrobrás (8% do consumo no horário
de pico).
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São
Paulo |
A corte de energia em São Paulo ficou 50% menor do que o esperado
anteontem, segundo o diretor de geração e transmissão
da Cesp (Companhia Energética de São Paulo), Mauro Arce.
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Corte
de energia vai atingir 10 mi em SP |
da Reportagem Local
Pelo
menos 10 milhões de paulistas deverão ser atingidos
com a falta de luz em algum momento dos cinco dias previstos para
a normalização do fornecimento de energia elétrica
em três regiões do país.
O fornecimento de energia no Sul, Sudeste e Centro-Oeste foi prejudicado,
no último domingo, em razão da queda de dez torres
de transmissão entre duas subestações elétricas
de Foz do Iguaçu, no Paraná.
A falta de energia em São Paulo, entretanto, não afetará
igualmente todos os habitantes.
Aqueles que moram no centro expandido de São Paulo, em bairros
próximos a hospitais, grandes avenidas ou a redes ferroviárias,
por exemplo, serão poupados do transtorno da falta de luz.
No entanto, os moradores das regiões mais periféricas
ou de menor densidade demográfica poderão ser atingidos
mais de uma vez pelo corte. As interrupções não
devem passar de duas horas, segundo a Eletropaulo.
''Foi o critério usado, o de evitar corte de energia em locais
essenciais, como hospitais. Infelizmente, a interrupção
de energia elétrica reincidirá em locais com menos
infra-estrutura'', afirmou o diretor de transmissão e geração
da Cesp (Companhia Energética de São Paulo), Mauro
Arce.
Casos
Em São Bernardo do Campo (Grande SP), o corte de energia
elétrica atingiu, anteontem, a Umesp (Universidade Metodista
de São Paulo), que dispensou alunos, professores e funcionários.
A luz se apagou por volta das 19h20, dez minutos antes do início
das aulas, e só voltou 20h30.
Já os prestadores de serviço, quando estão
no escuro, se viram como podem. O salão de cabeleireiro Ramos,
na rua Canuto Saraiva, na Mooca (zona sudeste), ainda atendia clientes
às 20h30, quando as luzes se apagaram.
''Meu irmão estava cortando o cabelo de um cliente e a única
saída foi manobrar o carro para iluminar o salão com
o farol. Deu para terminar. Só não sei como ficou
o resultado'', brinca o cabeleireiro Manoel Dias Ramos Neto, 26.
No entanto, a falta de energia elétrica foi motivo de festa
em pelo menos duas ruas da cidade de São Paulo. Na rua Guaratinguetá,
na Mooca, e na avenida Parada Pinto, na Vila Nova Cachoeirinha (zona
norte), moradores foram para o portão de suas casas assim
que a luz se apagou.
''As crianças, que têm medo do escuro, tomaram conta
da rua e ficaram brincando, jogando bola, enquanto nós colocávamos
os assuntos em dia com os vizinhos sob a luz do luar'', disse a
auxiliar de escrita fiscal Elaine Rocha.
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Causa
de blecaute é estrutural, diz engenheiro |
da Reportagem Local
A interrupção no fornecimento de energia elétrica
não é um simples reflexo da queda das torres de transmissão
no Sul do país. Os blecautes têm causas estruturais que
podem ser explicadas pela degradação do sistema energético
brasileiro nesta década.
A análise é do diretor da Coordenação
dos Programas de Pós-Graduação em Engenharia
da Universidade Federal do Rio de Janeiro, Luiz Pinguelli Rosa, que
afirma que os cortes de energia são apenas a parte visível
do problema.
''O sistema está vulnerável. Quando ocorre um acidente
como esse, pagamos o preço dos erros cometidos nos últimos
anos'', diz.
Pinguelli cita dois exemplos. ''A hidrelétrica de Serra da
Mesa (no Centro-Oeste), que já deveria estar operando, só
deve entrar em funcionamento em dezembro por causa do atraso na privatização.''
''Já a usina de Angra dos Reis continua parada há cerca
de 50 dias por causa de um vazamento, diminuindo muito a potência
do sistema'', afirma Pinguelli.
Segundo ele, as dificuldades enfrentadas hoje têm origem na
falta de um planejamento histórico do governo.
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RS
tem corte de 52 minutos |
free-lance para a Agência Folha, em Porto Alegre
O Rio
Grande do Sul teve cortes de luz pela manhã e noite de segunda-feira.
No total, foram desligados 320 pontos de geração.
No período de maior consumo, entre 19h e 21h, a energia foi
interrompida várias vezes em pontos alternados. O menor corte
durou 10 minutos e o maior, 52 minutos, na cidade de Viamão,
região metropolitana de Porto Alegre.
Não foi necessário cortar o limite de energia recomendado
pela Eletrobrás, pois houve redução no consumo.
No começo do horário crítico, às 19h30,
o Estado recebeu a indicação de reduzir o consumo
em 130 megawatts. Foram cortados 106 megawatts. A cota do período
foi obtida pela economia dos consumidores.
Um clube telefonou para a Companhia Centro-Oeste de Distribuição
de Energia informando que havia cancelado os jogos de futebol de
salão à noite para economizar.
A medida equivale a desligar um edifício de três andares,
informou a empresa.
O Pólo Petroquímico de Triunfo (RS) acionou seus geradores
próprios e conseguiu economizar quase dez megawatts.
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Operação
no interior de SP tem rodízio entre cidades |
das Regionais e da Agência Folha
A reação
à necessidade de cortar energia foi diferente nas várias
regiões do Estado de São Paulo. Na maior parte dos
casos, foi adotado rodízio entre as cidades que têm
o fornecimento cortado.
A CPFL (Companhia Paulista de Força e Luz) começou
ontem a fazer cortes para indústrias em toda sua área
de atuação _234 cidades.
Apesar disso, a empresa não garante o abastecimento das residenciais,
informou sua assessoria.
A Cesp (Companhia Energética de São Paulo) vai fazer
rodízio de energia elétrica entre 22 cidades da região
de Campinas para evitar blecautes. Os cortes devem acontecer até
sexta, das 19h30 às 22h.
A companhia prevê o rodízio em toda sua área
de concessão de distribuição, que engloba 223
municípios em São Paulo e cinco em Mato Grosso.
A assessoria de imprensa da CPFL descartou a possibilidade de realizar
rodízios na região.
De acordo com o gerente do departamento de operação
de sistema da Cesp, Carlos Ribeiro, 46, as cidades que tiverem cortes
de energia uma vez não devem voltar a sofrer interrupção.
Ribeirão Preto
A região de Ribeirão Preto sofrerá cortes-surpresa
de energia elétrica em 43 municípios até sexta.
De acordo com a CPFL, não é possível definir
os pontos em que deve faltar luz com antecedência para que
a população seja avisada.
Em Presidente Prudente, o corte de energia deixou no escuro o hospital
psiquiátrico Bezerra de Menezes, com 321 pacientes.
''Os pacientes só reclamaram de não poder assistir
televisão'', disse o administrador do hospital, Pedro Lopes.
No restante, a rotina dos pacientes não foi afetada, porque
a direção havia sido avisado do corte pela Caiuá,
que distribui a energia na região.
Três empresas de energia elétrica que operam na região
noroeste do Estado adotaram rodízio de cidades para evitar
blecaute.
De dez a 15 municípios serão sacrificados por dia,
com interrupção no fornecimento de uma a duas horas,
sempre no horário de pico. As medidas visam economizar de
8% a 10% do consumo.
Ontem, estava previsto corte em cinco cidades da região de
Araçatuba e cinco na região de Votuporanga. A medida
atingiria mais de 200 mil pessoas.
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Corte
em SC é 55% menor |
da Agência Folha, em Florianópolis
O corte
seletivo de energia elétrica em Santa Catarina no horário
de pico (19h30 às 22h) está sendo cerca de 55% menor
do que a previsão inicial. A estimativa é da Celesc
(Centrais Elétricas de Santa Catarina), que determina o modo
como a redução no fornecimento de energia está
sendo feita.
Anteontem à noite, o corte máximo chegou a 67 MW,
o equivalente a 3,9% do total da transmissão no Estado. Este
percentual deveria ser mantido ontem à noite.
A previsão inicial da Celesc e da Eletrosul era que o corte
chegaria a 8,7% do total fornecido, o equivalente a 150 MW.
''Atribuímos este bom resultado à conscientização
da população catarinense, que tem colaborado ao adiar
o horário do banho quente e ao não utilizar aparelhos
que gastam muita energia, como ferro de passar roupa e ar-condicionado'',
declarou Antônio dos Santos, diretor de Engenharia da Celesc.
Desde anteontem, a empresa tem pedido aos consumidores que economizem
energia. ''Esta mensagem, de economizar o máximo para cortar
o mínimo, está surtindo efeitos'', disse Santos.
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32
cidades de MT e MS são afetadas |
da Agência Folha, em Campo Grande
Pelo
menos 32 municípios de Mato Grosso e Mato Grosso do Sul sofreram
corte de energia elétrica na noite de anteontem em decorrência
do racionamento imposto pela queda de dez torres de transmissão
no Paraná.
Juntos, os dois Estados deveriam reduzir em 74 MW sua oferta de
energia elétrica, cerca de 8% da demanda, o suficiente para
atender uma cidade com aproximadamente 200 mil habitantes.
Em Mato Grosso, pelo menos 23 cidades foram afetadas. A cidade de
Alta Floresta ficou às escuras entre 18h30 e 19h30.
Outras nove cidades foram atingidas no Mato Grosso do Sul, com cortes
de uma hora e 15 minutos.
Cuiabá e Campo Grande não foram afetadas no primeiro
dia de racionamento, mas o risco não está descartado.
A periferia de Cuiabá pode sentir os primeiros efeitos da
crise a partir de hoje.
As duas empresas de energia elétrica vêm pedindo diretamente
aos grandes consumidores, principalmente frigoríficos e fábricas
de cimento, que façam economia.
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