AVENTURAS ROCAMBOLESCAS DE MENEGHETTI

Publicado na Folha da Manhã, sabbado, 5 de junho de 1926

Neste texto foi mantida a grafia original

O FORMIDAVEL CERCO NO QUARTEIRÃO ONDE SE HOMISIàRA O BANDIDO - O CHEFE DE POLICIA EVITA O SEU LYNCHAMENTO - DISCUTE-SE A INTELLIGENCIA E A VALENTIA DO LADRÃO - UMA ENTREVISTA NO CARCERE - O ESTADO DO DR. DORIA - PORMENORES COMPLETOS

Cessaram, desde hontem, as aventuras rocambolescas de Hamleto Meneghette, o terrivel ladrão arrombador que, por mais de um mez, poz em cheque a argucia da policia paulistana. Depois que o dr. Leite de Barros, delegado de Roubos, foi descobril-o na sua tóca da rua Abolição, e que o assaltante desconhecido de centenas de casas desta capital, num salto audacioso conseguiu fugir á policia, vimos, com a curiosidade natural que sempre provocam os factos originaes, o immitador do pequeno "José Fipart" que Pouson du Terrail tão bem descreveu, gritar por toda parte a sua isolada e mysteriosa de um recanto de Paris, gritou para elles:

— Aqui está Bonot!

E mais do que a sua voz, falaram por elle os projectis despejados contra os que o cercavam. Dezenas de vidas foram sacrificadas na lucta ingloria contra o bandido, e elle, terrivelmente provocador, dizia da sua fortaleza aos representantes da ordem:

— "Je suis Bonot! Je suis fort!"

Cahiu afinal. Para tanto, foi, porém, necessario que os agentes francezes puzessem fogo na casa onde elle se homisiára, e o carbonizassem...

Assim morreu Bonot, como um valente que era.

Meneghetti, ao contrario, obrigou a policia ao formidavel cerco de dez horas, cerco necessario, porque importava na certeza de um encurralamento...

Qual a sua atitude depois?

É conhecida de todos: embora tivesse ainda grande quantidade de munição, levantou os braços e pediu que não o matassem. E a policia, obrigada pela energia digna do dr. Roberto Moreira, respeitou o perverso que não só amedrontou a população paulistana, mas tornou-se o assassino vulgar de uma das nossas mais competentes autoridades.

A' policia, convinha prendel-o vivo, e a realização desse desejo é para ella como quê um padrão de gloria, pois demonstra, á evidencia, o seu grau de civilização e o respeito ás leis, mesmo em se tratando de um monstro. Deve-se, porém, unicamente ao dr. Roberto Moreira, essa victoria moral.

Meneghetti, para nós, não é um valente. Sobra-lhe apenas audacia.

E' intelligente?

Repetimos a pergunta, para provar que não. Si o fosse, si alliasse a comprehensão rapida das cousas á audacia, não teria hontem, numa ousadia, que foi a sua perda, visitado a casa da rua dos Gusmões. Por mais que a policia não lhe merecesse receio, não se comprehende que elle a affrontasse na propria rua onde pára o seu quartel-general, sabendo, além do mais, que a casa onde se achavam seus filhos estava guardada. Só de um louco ou de um degenerado!

Parece, porém, que Meneghetti é um grande amoroso. Ama e respeita a sua Concetta, da mesma fórma que adora os filhos.

Foi o amor, foi o grande desejo de revêr a sua amante madame Maitrejean que perdeu Bonot. Este, porém, fugiu ainda no seu auto vermelho, perseguido pela policia, até a sua casa do Chantilly, onde pereceu.

Meneghetti visitou Concetta na Cadeia? Não. Por que, pois, a sua visita á casa da rua dos Gusmões?

Uma provocação a mais á policia, e o direito de continuar a escrever cartas aos jornaes...

A sua figura de ratoneiro feliz chegou a ser popular. O povo, as suas proprias victimas, o olhavam como um individuo romantico e interessante.

E agora?

Agora, não; agora, depois que elle demonstrou a sua sanha sanguinaria, passa, e muito naturalmente, a apparecer como figura de criminoso comum e desprezivel.

A "CAMPANA"

Ha 3 noites que no Gabinete de Investigações á rua 7 de Abril, passavam em constante vigilia os delegados Achilles Guimarães, Juvenal Piza, Leite de Barros e Sampaio Viana, e os comissarios, Waldemar Doria e Assumpção Filho.

Preparada estava a mais segura das pistas.

Meneghetti devia ser preso, garantira o dr. Achilles Guimarães aos representantes da imprensa; dentro de 3 dias, a contar de ante-hontem, o famoso ladrão estaria nas mãos da policia.

Havia suspeitas de que uma casa da rua dos Gusmões, no numero 61, era frequentada por Meneghetti.

Ahi residem Victoria Justi, tia de Concetta Tovani, companheira do bandido, com seu genro Rodolpho Galvani e a filha Rosina.

Após a fuga de Hamleto e a prisão de Concetta, foram os dois filhos do casal entregue á guarda das pessoas acima.

Não havia duvidas que elle, que por varias vezes pôs em cheque seus sentimentos de pae amoroso, iria visitar seus filhos.

As primeiras providencias das autoridades, foram, pois "a campanar" a casa em questão.

UM "TRUC" POLICIAL


Um dia desses, o dr. Achilles Guimarães, no sentido de irritar o celebre ladrão, retirou da casa n. 61 da rua dos Gusmões, por espaço de algumas horas, os menores Spartace e Lenine (assim se chamam seus dois filhos).

Hontem, pela 1,20 horas, recebeu a referida autoridade um aviso de que defronte ao predio n. 62, da citada rua havia chegado um automovel, e que delle descera um individuo, que bateu fortemente á porta.

Como não lhe fosse immediatamente dada entrada, elle, com um pontapé, arrombou-a, subindo apressadamente.

Minutos após, chegavam ao local todas as autoridades encarregadas da diligencia, as quaes se faziam acompanhar de 12 a 15 inspectores.

Começou o cerco ao quarteirão.

Nesse tempo era pedido reforço ao commando geral da Força Publica que mandava 50 praças.

Iniciou-se, então, a distribuição da zona em varios sectores, cada qual sob a direcção de um delegado ou commissario, acompanhado, cada qual, de quatro inspectores.

UMA SCENA DOLOROSA


Descia o dr. Achilles Guimarães a rua de Santa Ephigenia, a dar ordens sobre o serviço, ao pelotão que chegava.

Aproveitava, aquella autoridade, a occasião de ter junto a si o "chauffeur" que conduzira até alli o ladrão e um rapaz, de nome Volponi, que o acompanhára, e que se acha preso na delegacia da rua dos Andradas.

A autoridade "baratinava" o "chauffeur", quando o dr. Waldemar Doria, seu commissario, que seguia a poucos passos, retrocedeu, entrando no predio 61, acompanhado dos inspectores Paschoal de Luca, da delegacia de Segurança Pessoal; Manuel Ramos Cruz e Francisco dos Santos, da delegacia de roubos.

Entrando no predio, percebeu o dr. Doria que haviam apagado a luz.

Era o bandido que, ao entrar, pressentindo passos que o seguiam, procurava, na escuridão, homisiar-se.

Ao penetrar o quarto em que dormiam seus filhos, sobre um sofá, Meneghetti chamou Rodolpho Galdani, a quem verberou pelo facto de maltratar seus filhos, a ponto de os deixar a dormir sobre um sofá tosco, sem conforto.

Já nessa occasião, o miseravel brandia ao léo um formidavel punhal, como si sentisse atacado por innumeras pessoas.

Ahi chegava o dr. Doria, que accendendo uma lampada em um commodo, deu busca, tendo em seguida, se dirigido para um terraço aos fundos.

Rapida e estupida a scena.

Vendo-se atacado, e prestes a ser seguro, o bandido fez uso do seu revólver, descarregando, toda a carga.

Uma das balas foi attingir o commissario Doria, que ainda caminhou, para ir cahir na rua, emquanto que as outras autoridades accorriam ao ponto de onde partira o tiroteio.

Os agentes que acompanhavam o commissario fizeram fogo sobre o bandido que, com agilidade, se punha em fuga, escalando telhados.

O dr. Waldemar Doria, cujo esforço, cuja capacidade de trabalho foram sempre irreprehensiveis, tombando ferido, no desempenho de seu dever, provara quanto lhe interessava o desempenho do cargo para o qual fôra nomeado, a dar como exemplo a todos quantos queiram corresponder á confiança do povo, - a abnegação.

AS PROVIDENCIAS TOMADAS PELA POLICIA


Diante da gravidade do facto que se acabava de dar, era imprescindivel uma acção energica e decisiva, afim de que, sendo preso o famoso bandido, ficassem punidas as suas falcatruas, bem como o ultimo attentado contra a vida do commissario Waldemar Doria.

Com a conjugação de forças, foram distribuidos grupos que iam apertando aos poucos o cerco, até que conseguiram detel-o, sobre o telhado, num curto espaço, onde elle, enfurecido, como um leão, rangia os dentes e brandia o seu punhal.

Por varias vezes, de sobre a simalha das casas da rua dos Gusmões, atirou contra a policia, tendo-se estabelecido assim forte tiroteio.

Vendo-se perdido, Meneghetti se rendeu, tendo sido encontrada em seu poder alguma munição, e um revólver Schmidt, calibre 32.

UMA PALESTRA COM O FAMOSO MENEGHETTI


Uma hora após a prisão de Meneghetti procuramos o dr. Achilles Guimarães, que nos concedeu permissão para falar com o famoso bandido.

Eis, em resumo, a palestra que tivemos com o famoso ladrão:

— Então, Meneghetti, tantas vezes foste á fonte...
—"Ma che"... Eu fui preso, porque me achava embriagado... De outra forma, não me prenderiam nunca.
— Mas não cumpriste a palavra empenhada por intermedio das cartas que mandava aos jornaes...
— Que quer? Eu não tive jámais um companheiro. Atacaram-me como se eu estivesse acompanhado de mais de mil homens.
— Mas não disseste que te não renderias? Preferias a morte...

E por que te entregaste, tendo ainda nos bolsos uma enorme quantidade de munições?

— Estava mesmo perdido...
— Mas nesse caso, o suicidio teria sido mais honroso.
— Os srs. que sempre disseram pelo seus jornaes, que eu era um typo desclassificado, descobrem honra para mim agora?
— Ao menos amor proprio.

E Meneghetti, que conservava a mais completa calma, bocejava, e de vez em quando mettia as mãos nos bolsos.

— Bateste o recorde, Meneghetti. Quantos roubos praticaste nesta capital?
— "Chi lo sá"... Perdi a conta...
— Quer dizer que roubavas por obrigação...
— Sim. Todo o dia, eu roubava... Se eu não roubasse, não podia dormir.
— E os productos dos roubos, a não ser os encontrados á rua da Abolição, onde se acham?
— Tem tempo... Mais tarde contarei tudo a vocês...

E bocejava, com a mais indiscriptivel das calmas.

— E de que forma levavas a effeito os assaltos?
— Passava por uma rua, via o auto na garage, e tomava-lhe o numero.

Em seguida, ia eu para os pontos "chics" onde, ao vêr chegar o auto em questão, tinha certeza de que seus proprietarios estavam fóra e a casa á minha disposição.

— E as assaltavas então... Não temias uma sortida?
— Nunca. Nunca temi ninguem. Deante de um, dois, dez homens, eu sou um leão.

Assaltos assim eu fiz por varias vezes. Uma vez, continuou elle, depois de certa pausa, assaltava uma casa da rua Jaceguay, numa carreira de "bungalows" que ha alli. Fui presentido por um rapaz que se acercou de mim. Apontei-lhe no peito duas pistolas.

— Mostras então ter instinctos sanguinarios. - ponderámos.
— Não senhor. Eu não atirei nunca, ao ser apanhado pelas victimas. Se quizesse, teria matado o rapaz. Exigi-lhe apenas que me desse sahida pela janella dos fundos, pela qual saltei, de uma altura de 6 metros.
— E a tua fuga da rua Abolição? Como pudeste julgar que a policia te estava perseguindo?
— Houve denuncia. Mas, eu tenho esperança de encontrar ainda o trahidor.
— Soubemos que foste tambem á casa do dr. Roberto Moreira.
— Sim. A este eu queria matar. A elle e o Capua. Ah! se os pilho...
— Mas não tens razão para assim proceder, uma vez que elles estavam no seu dever. O chefe de policia estava na obrigação de agir sériamente contra ti.
— Mas não podiam nunca fazer o que fizeram com a Concetta, que é uma pobre mulher, que de nada sabia a respeito de minha vida de aventuras.
— Está provado que ella era tua cumplice.
— Desafio quem quer que seja a provar a sua cumplicidade a esse respeito.
— Não poderás, porém, negar que ella tivesse conhecimento da existencia das joias no porão...
— Ah!... Eu lhe conto: De vez em quando eu ia a uma casa de joias e comprava um objecto qualquer e pedia factura.

Em seguida, enchia toda a factura, como tendo comprado grande quantidade de joias, e assim, Concetta sempre pensou que eu negociava neste ramo.

— Com isso, desviamos nossa prosa... Que foi que te levou a ir á casa do dr. Roberto Moreira?
— A vingança... A elle eu matava com o maior sangue frio. Entrei pelos fundos e vi, na sala de jantar, uma senhora, que lia uma revista. O dr. Roberto estava sentado defronte, junto de uma mesa.

Preparei-me para eliminar quem primeiro me surgisse á frente.

— Mas assim não serias leal, que diabo... E si tivesses sido visto pela creadagem?
— Matava-os todos.

Mas, quando vi umas creanças... Quando vi uma senhora que parecia ser tão amorosa para seus filhos, eu, tomado de commoção, fugi.

— E os soldados que guarneciam a entrada da residencia do chefe de Policia?
— Qual policia, qual nada... Quem vae temer esta policia?

Eu só não fiz em S. Paulo o que não quiz.

— Sabes que és accusado de ter morto o guarda da construcção da rua Humaytá, quando tentavas fugir de uma "sortida" em que fracassaste?
— Tudo agora é Meneghetti... Não faz mal. Não ha mesmo remedio. Si me derem 1 anno para cada crime de roubo, eu terei uma condemnação de mais de 500 annos... Não faz mal. Mas, por crime de morte, eu não tenho contas com a policia...

Referindo-nos ao modo por que sempre se occultou da policia, após a sua fuga da rua Abolição, disse-nos em resposta, o terrivel bandido:

— Andei sempre em S. Paulo. Passeei pelas ruas da capital, não me disfarçando nunca.
— E os oculos pretos, encontrados em teu bolso, assim como a importancia de 40 e poucos mil réis?
— A proposito: - Eu trazia no bolso cerca de 4 contos de réis. Onde está esse dinheiro?...
— Estava um pouco "alterado" Meneghetti. Possuias apenas 40 e "poucos" mil réis...

Um soluço profundo entrecortou a voz de Meneghetti.

— Quanto dóe um arrependimento... - arriscámos.
— Não me arrependo de nada. Roubei... E só podia roubar a quem tinha...

Roubava da mesma fórma que os senhores trabalham...

Uma série de considerações que mais interesse offerecerá á curiosidade do leitor são as em que elle conta seu modo de vida, após a fuga.

— Frequentava cinemas de luxo. Ia ao Santa Helena, ao Sant'Anna.

Na primeira noitada futurista, no Casino, estava eu lá.

— És futurista? Não o pareces...
— Não; fui para, das torrinhas, jogar nabos no Marinetti.

Por varias vezes fui barbear-me a um salão da rua Libero...

— E não temias ser reconhecido?
— Que nada... Eu sei que a policia daqui...

E havia de facto quasi que impossibilidade de ser capturado o temivel ladrão.

A photographia que a policia distribuiu a seus inspectores nos dá um Meneghetti muito diverso do que vimos hontem no xadrez do Gabinete.

A frieza, com que nos respondeu ás perguntas, - tudo isso vinha confirmar a tara que o havia levado a abraçar a "famosa" profissão.

— Deves regenerar-te, Meneghetti...
— E' claro... Mas, mesmo aqui dentro, si houvesse um geitinho, não perderei o meu tempo"...

A INTERVENÇÃO CIRURGICA SOFRIDA PELO DR. DORIA


O dr. Waldemar Doria foi operado, precisamente ás 2 horas, pelo dr. Luciano Gualberto, que tinha a auxilial-o o dr. Jorge Tibiriçá Filho, medico da Assistencia Policial e dr. Gonçalves, assistente daquelle cirurgião.

Aberta a cavidade abdominal, foram verificadas as seguintes lesões: dois ferimentos perfurantes do jejuno, junto ao ligamento de Treitz; um ferimento do méso do colon transverso juxto intestinal: outro ferimento no méso, logo abaixo da sahida do jejuno.

Foi tambem verificada a existencia de uma grande hemorrhagia interna devida a dois vasos seccionados.

A operação foi grandemente difficultada devido ás innumeras adherencias encontradas, que tinham causa num processo de peritonite antiga. O trabalho dos cirurgiões só terminou ás quatro menos um quarto, tendo o operado demonstrado grande resistencia physica.

AUTORIDADES QUE ESTIVERAM NA CAÇA Á FERA


Estiveram na rua Gusmões, providenciando o cerco do quarteirão, as seguintes autoridades: Achilles Guimarães, Bandeira de Mello, Andrelino de Assis, Octavio Ferreira Alves, Alfredo de Assis, Bastos Cruz, Pereira Lima, Durval Villalva, Juvenal Piza, Carlos Pimenta, Mascarenhas Neves, Amando Caiuby, Victor Breneisen, Leite de Barros e todos os commissarios e o sr. chefe de policia.

Consta que o chefe do gabinete esteve tambem no local.

O FUTURISMO DE MENEGHETTI


Na palestra que teve um dos nossos companheiros com o celebre Meneghetti, declarou o emulo de Bonnot:

—"A policia de São Paulo não me prendeu na rua, nos theatros, nos "bars", por faltar-lhe tudo quanto é necessario para ser uma policia bem organizada.

Na primeira noitada futurista de Marinetti, no Casino, eu estive lá, e das torrinhas, joguei-lhe batatas e nabos...

— Falta de patriotismo, Meneghetti.
— Nada, elle é um charlatão. O homem deve ser definido e definitivo na vida...
— Não temeste a sanha do sr. Brasil Gerson, que pelo "Diario" tem desancado os marinettephagos?...
— Nada, nada... Marinetti está com idéas contrarias ás minhas. Eu sou puro passadista...
— Mas por que falas italiano? Não conheces a lingua portugueza?
— Marinetti ha detto que la lengua italiana é la piu bella del mondo!

A CURIOSIDADE QUE PROVOCOU O CERCO


Foi tão intensa a curiosidade provocada pelo cerco do quarteirão onde se achava Meneghetti que, mesmo sabendo que de momento eram trocados tiros entre o criminoso e a policia, milhares de pessoas compareceram no local. As ruas de Santa Ephigenia, Aurora, Andradas e Gusmões estavam quase intransitaveis.

O sr. Cyrillo Junior, num grupo de deputados, discutia as proezas de Meneghetti...

E MENEGHETTI AINDA CRITICA A POLICIA


Revistando os bolsos de Hamleto Meneghetti, o dr. Achilles Guimarães encontrou em seu poder innumeras balas, todas de grande calibre.

Uivando como se fôra uma féra, Meneghetti gritava ás autoridades:

— A policia agiu como banditismo. Isso é então procedimento correcto? Perversos!

O ALARME DAS FAMILIAS RESIDENTES EM SANTA EPHIGENIA


Desde 2 horas da manhã foram trocadas, entre o ladrão e a policia que o cercava, centenas de tiros. As familias residentes no bairro de Santa Ephigenia, alamadas, deixavam suas casas, inquirindo aqui e ali do que se passava.

O NERVOSISMO DO BANDIDO


Recolhido á solitaria do Gabinete de Investigações, Meneghetti, espumando de raiva, atirava-se contra as grades, ferindo-se em varias partes do corpo.

Horas depois foi elle removido para a Policia Central, onde o escrivão Vasco Conceição o autuou em flagrante.

Já então, perfeitamente calmo, o bandido conversava com quem lhe dirigisse a palavra. Disse, entre outras coisas que não era um egoista e que essa historia de "fazer a America" é tolice. Elle tinha feito tantas!

LENINE E SPARTACO


Quando o escrivão perguntou a Meneghetti por que puzera os nomes de Lenine e Spartaco nos seus filhos, respondeu:

— Tenho idéas revolucionarias.

AS PROBABILIDADES DE UM LADRÃO


Meneghetti, quando consultado sobre os seus assaltos e roubos, disse cynicamente:

— Nunca fui infeliz. Toda vez que intentei um assalto, sempre tive 99 probabilidades de victoria e uma de fracasso. Esta policia... esta policia...
— Que tem ella?
—É a culpada da fabricação de criminosos. Si não tivesse me tratado com rigor exaggerado no caso Sarli, eu ainda continuaria um honesto mechanico do 2.o batalhão.

MENEGHETTI JÁ FOI PRESO NO RIO


Hamleto Meneghetti já foi preso no Rio de Janeiro. Fingindo-se louco, internaram-n'o no hospicio, de onde elle fugiu.

QUE AUDACIA!


Meneghetti, terça-feira ultima, jantou no restaurante Palacio, em frente da Policia Central, com uma mulher.

AS CASAS "ACAMPANADAS" PELA POLICIA


A policia, para a descoberta e prisão de Meneghetti, "acampanou" incessantemente as seguintes casas: rua do Oratorio, em Villa Prudente, residencia de um amigo de Meneghetti; rua Lavapés, 12, venda de um tal Taccola, casado com uma prima do criminoso; rua Bueno de Andrade, 93, venda de um seu tio; rua Jacarehy, 11, villa, residencia de Perogaldi Henrique, pintor que tem um sitio em Poá; rua Jaceguay, 56, residencia de Albertino Luiza; rua Felippe Camarão, 31, endereço de Joaquim Pereira Silva, encontrado na casa de Meneghetti; rua Fortaleza, 27, casa do carregador Annunciato (chapa n. 100), que levou comida á Concetta, na 4.a delegacia; e rua Barão de Jaguara, 157, residencia de Goddo Julio, amigo de Rosina Tavani, prima de Meneghetti.

O CRIME DA RUA HUMAYT'A


Meneghetti, na presença do chefe de Policia, negou que tivesse sido o autor do crime da rua Humaytá.

O ESTADO DE SAUDE DO COMISSARIO WALDEMAR DORIA


Às 2 horas e 30 minutos de hoje, obtivemos, no Sanatorio Santa Catharina, a informação de que o estado de saude do dr. Waldemar Doria continua sendo lisongeiro.

 


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