ÍNDIOS ATACAM A CIDADE E ATÉ O PREFEITO FOGE


Publicado na Folha de S.Paulo, terça-feira, 4 de outubro de 1971

Neste texto foi mantida a grafia original

Do correspondente

MANAUS - Centenas de indios que habitam a região do rio Juruá, no Amazonas, provocando a fuga de toda a população.
Até o prefeito, Francisco das Chagas Vale, fugiu e, refugiando-se na localidade de Eurinepe, pediu por telefone reforços a Manaus. O ataque aconteceu no sabado, e domingo cedo 15 soldados da Policia Militar, fortemente armados, seguiram para Envira em avião da FAB, em companhia de cinco funcionarios da Fundação Nacional do Indio.
Tudo começou quando o sargento José Ivã da Silva, da PM, nas funções de delegado de policia prendeu um indigena que matara um companheiro de tribo. Revoltados, os Curinas avançaram em massa sobre a cidade, queimaram um barracão e soltaram o preso.
Segundo as ultimas informações, a situação voltou à calma em Envira. Os habitantes retornam às suas casas e os indios vão aos poucos deixando a cidade.
A cidade de Envira tem pouco mais de 3 mil habitantes.

Índios atacam cidade: povo foge

Do correspondente e da Sucursal

MANAUS - A cidade de Envira foi invadida no sábado por 800 indios Curinas que habitam a região do rio Juruá, colocando em fuga a população e com ela o prefeito Francisco das Chagas Vale. Refugiando-se na localidade de Eurinepe, o sr. Chagas Vale telefonou para Manaus pedindo reforços para proteger a cidade contra o ataques indigenas. Domingo de manhã, 15 soldados da Policia Militar do Amazonas, fortemente armados, seguiram para Envira em avião da FAB, acompanhados de cindo funcionarios civis da Fundação Nacional do Indio.
Tudo começou quando o sargento José Ivã da Silva, da PM, exercendo as funções de delgado, prendeu um indio que, numa briga, matara um companheiro de tribo. Informados da detenção, os Curinas se revoltaram, avançando em massa sobre a cidade. Queimaram um barracão de farinha e soltaram o preso. As ultimas informações, entretanto, assinalam que a situação já é de calma. Com a chegada do destacamento da PM, os habitantes retornaram às suas casas e os indios, aos poucos, vão voltando para a aldeia.

Os Curinas

Os Curinas são uma tribo que vive no seringal Penedo, acima da cidade de Eirunepe no rio Juruá, fazendo fronteira com a cidade de Envira.
Têm uma civilização de "quarta categoria" (mais civilizada do que selvagem) e vivem da cultura de mandioca, cortando seringais para os patrões e se alimentando da caça e de pesca.
São mais ou menos 150, porem existem outros espalhados em diversos locais do mesmo rio. Daí se presumir que, para este ataque, houve um planejamento e concentração de indios de outros grupos no seringal Penedo, que é um aldeiamento chamado Piau.
sta suposição é mais valida levando-se em conta os informes de linguistas de que existem mais de 35 grupos de aldeias em todo o Acre, Amazonas e Peru com o mesmo nome. Neste caso, se o ataque foi trabalho isolado da tribo Curinas, é de se supor que os indios tenham levado muito tempo para se reunir proximo a Envira até o ataque final.
Este fato é pouco provavel para alguns estudiosos da região, que admitem até que, para esta invasão, o grupo de 150 indios Curinas do seringal Penedo tenham recebido adesão dos Canamaris, muito mais numerosos. As duas tribos mantêm boas relações de amizade e é comum entre eles a troca de chefes.
Os Curinas têm habitos comuns. Muitos ainda usam tangas e só concordam em vestir roupas quando vão receber visitas de civilizados. São também muito desconfiados; apesar de terem permanente assistencia dos missionarios da "Missão Novas Tribos do Brasil" (remedios, roupas, escola primaria - alguns falam um Português arrastado) ainda não se decidiram seguir a religião deles. Ouvem as pregações, escutam a tradução de Bíblia, mas, na hora de decidir, vacilam.

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