MATRIMONIO FELIZ


Publicado na Folha da Manhã, domingo, 03 de fevereiro de 1953

Neste texto foi mantida a grafia original

É preciso tolerar as imperfeições humanas para que haja melhor compreensão entre os conjuges — a mentira, elemento altamente perigoso

É provavel que muitos casamentos se realizem por inspiração celestial, mas o lugar onde os casais vivem é na terra. O homem e a mulher são seres humanos e por muitos que desejemos que sejam perfeitos, não o são. O homem foi feito à imagem de Deus, mas não podemos em absoluto pretender que seja Deus. A mulher, tambem, poderá ser um verdadeiro anjo, mas nem sempre pode andar voando. Consequentemente, ambos devem reconhecer suas imperfeições, e, acima de tudo, a necessidade de tolerá-las.
Como ponto dois podemos tomar o problema da monotonia. Este é um fator serio e pesado na balança do matrimonio. É algo terrivel. A variedade precisa ser o sal do tempero. Entre os casados, mais ainda. É preciso que exista um momento para trabalhar, outro para as diversões e as distrações e outro para guardar silencio, pois tambem o silencio é necessario entre marido e mulher.
No terceiro item podemos tomar o caso dos interesses comuns. Fisica, mental, emocional e espiritualmente marido e mulher devem andar juntos. É preciso que exista pelo menos um interesse comum. Se este não existe, deve ser criado. É preciso que ambos tenham as mesmas ambições, os mesmos desejos, tanto quanto possivel. Filhos, viagens, casa propria, jardins, trabalho, divertimentos, etc. Há tanta coisa para escolher! Mas é preciso que a escolha seja comum a ambos.
Quanto à generosidade, é preciso não esquecer que um matrimonio não exige apenas generosidade de dinheiro, que é a parte do marido. É preciso haver generosidade tambem quando se trata de compreender, perdoar, amar, dar, brindar com uma palavra de consolo, e assim por diante. A generosidade traz mais alegria a quem dá do que a quem a recebe.
É preciso não esquecer tambem que para um casamento feliz —salvo rarissimas exceções— o ditado velho, popular, mas sabio de que "quem casa quer casa" não significa, absolutamente, que é preciso um lugar para morar, mas sim que os casados necessitam de um lugar "seu" para morar. "Seu" quer dizer, inteiramente seu, sem partilhas, sem parentes, por melhores que sejam. A vida de um casal corre melhor quando "eles" constituem a familia e não dependem, nem em pensamento, de outros.
Por muito boa vontade que tenham, os parentes serão, fatalmente, motivo de discordia entre o casal.
A lealdade tambem entra em conta, e muito, diga-se de passagem. É preciso cortar de uma vez, pela raiz, as mentiras. Não deve existir mentira entre marido e mulher. A mentira, a deslealdade, é elemento que mais cedo ou mais tarde porá tudo a perder. Uma pequenina mentira, sem importancia, trará logo mais uma um pouco maior; esta, uma ligeiramente maior e assim por diante, até chegar ao cinismo, muitas vezes.
Para a felicidade do matrimonio, é preciso que não exista mentiras, nem da parte da mulher, nem do homem. Não esconda que fez isso ou aquilo, que comprou um broche em lugar de um casaco mais caro; não esconda que foi jantar na casa da sua tia que a empregadinha era muito bonita e graciosa. Sejam francos, leais, que aí tambem reside a base da felicidade conjugal.



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