COMO PERMANECER GORDO


Publicado na Folha da Manhã - domingo, 2 de março de 1952

Neste texto foi mantida a grafia original


Quando se vê um homem gordo, pensa-se logo que deve ser um comilão. Mas, muitas vezes esta idéia é falsa; deve-se pensar que ele come mal ou não sabe comer. Ou talvez se trate de uma eterna vitima do proprio apetite e não ouve nunca a voz da razão, mas apenas a do instinto.
O homem normal, que come apenas o necessario, não deve engordar. A alimentação pode ser comparada ao combustivel que anima o mecanismo do corpo e que deve ser completamente queimado na fornalha, que é o aparelho digestivo.
Comer mais do que o necessário para se alimentar é uma doença. Nove vezes por dez o glutão é um sedentario, burocrata, automobilista, ou um ocioso, cujo corpo, os musculos e os orgãos não sabem o que fazer de todas as materias e calorias que ele tão levianamente armazena. O corpo, os musculos e os orgãos não podem comportar essa quantidade de alimento, mas eles não foram consultados. Assim, suportam essa avalanche de proteinas, de hidratos de carbono, de açucares, de albumina, de gordura, etc. Suportam, e se esgotam.
Todos os sinais de "S.O.S." lançados pelo organismo não encontram ressonancia no comilão, que nesses casos, é sempre cego, surdo e mudo. Um dia, esse homem é surpreendido pela vingança da natureza.
Não está na ordem natural das coisas que um homem se sobrecarregue de coisas seis vezes maiores que a sua capacidade de utilizar no intervalo das refeições.

O dia e a noite do comilão

Durante o dia, os movimentos do glutão são pesados e lerdos; o seu trabalho sofre as consequencias dessa glutonaria; seu coração, sobrecarregado, não pode suportar o calor; os esportes e os passeios lhe são vedados para se desembaraçar dessa superalimentação, que forma no organismo depositos de materia gordurosa.
A noite é para ele pior ainda. Deita-se com o estomago afrontado, o ventre crescido, a lingua amarga. Dorme como uma massa, mas logo legiões de monstros e fantasmas povoam-lhe o sono. Acorda sobressaltado, mas adormece de novo para cair em outros pesadelos diabolicos.
A noite arrasta-se infindavel e ele começa o novo dia já cansado.

Sinais de alerta

Ao aparecerem esses primeiros sinais, devem constituir um alarma para a luta contra essa loucura gastronomica. Há um proverbio francês que não deve ser esquecido: não se faz um centenario com cem quilos de peso.
O dr. Paul Cololian publicou a esse respeito conselhos interessantes para as pessoas que querem evitar esse estado de coisas. Observa ele que a digestão começa na boca. A mastigação deve ser lenta e os movimentos mastigatorios repetidos. Para se obter um bom sono reparador, é necessaria uma boa mastigação, lenta, metodica, minuciosa e paciente.

Comer deve ser um prazer

Comer não deve constituir ocasião para bater recordes de rapidez e quantidade, mas sim um prazer. Um pedaço de pão seco tem sabor especial quando se sabe mastigar. Uma castanha mastigada, lentamente, torna-se um "marrom glacé" na boca. Assim, pois, deve-se comer lentamente, muito lentamente; mastigar energicamente; salivar bem os alimentos. Assim fazendo, estaremos afastando as agonias da dispepsia dolorosa, das noites agitadas, do despertar aborrecido.
 

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