TRAGEDIA NO MAR MATA MAIS DE 50
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Publicado
na Folha de S.Paulo, segunda-feira, 2 de janeiro de 1989
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Pelo menos 51 pessoas morreram no naufrágio do barco de turismo
Bateau Mouche 4, ocorrido entre 23h45 e 23h55 de anteontem, nas proximidades
do morro do Pão de Açúcar, na entrada da baía
da Guanabara. Entre os mortos estão a atriz Yara Amaral e Maria
José Teixeira, mulher do ex-ministro do Planejamento Anibal
Teixeira, que conseguiu se salvar. O barco levava entre 137 e 197
passageiros, que assistiriam ao largo da praia de Copacabana, na zona
sul do Rio, às comemorações pela passagem do
ano. O número de mortos pode aumentar porque até 17h30
de ontem havia, oficialmente, 40 sobreviventes. Ainda há muitos
desaparecidos. Uma das sobreviventes, a diplomata brasileira Regina
Célia de Oliveira Bittencourt, 33, afirmou que havia excesso
de passageiros a bordo. O secretário de Polícia Civil
do Rio, Hélio Saboya, disse que poderá ser caracterizado
homicídio culposo caso seja comprovada a superlotação.
A Capitania dos Portos informou ao Corpo de Bombeiros que o barco
tem capacidade para 150 pessoas.
O 1o Distrito Naval também vai investigar o acidente e a possibilidade
de terem sido subornados os agentes da Capitania dos Portos, que interromperam
o passeio ao suspeitarem de superlotação do barco, liberado
em seguida. Ao assumir ontem a Prefeitura do Rio, Marcello Alencar
afirmou que decretará luto oficial pelas vítimas do
naufrágio.
O barco de passeio Bateau Mouche 4 naufragou nos últimos minutos
de 1988 em frente ao morro do Pão de Açúcar (na
zona sul do Rio), causando a morte de 51 pessoas, segundo registros
feitos pelo Instituto Médico Legal (IML) até 17h30 de
ontem. As informações sobre o número de passageiros
embarcados eram contraditórias. O Corpo de Bombeiros informou
que fizeram a viagem entre 137 e 147 pessoas. Em uma lista conseguida
pela Polícia, havia 123 nomes e, ao lado de vários deles,
estavam anotados à mão os nomes de mais 74 pessoas como
"acompanhantes", "familiares" e "outras pessoas".
Segundo a Capitania dos Portos, o barco estava autorizado a transportar
no máximo 150 passageiros.
O Corpo de Bombeiros informou que havia 40 sobreviventes e que prosseguiam
as buscas aos desaparecidos. Entre os mortos estão Yara Amaral,
atriz de teatro e televisão; Maria José Teixeira, mulher
do ex-ministro de Planejamento Anibal Teixeira; o diretor do estaleiro
McLaren, José Francisco Queiroz Gomes; e o dono da fábrica
de cosméticos Payot, Silvio Grotkowski, além de vários
estrangeiros.
O Bateu Mouche 4 pertence aos donos do restaurante Sol e Mar, que
o alugaram à empresa Itatiaia Turismo para um passeio na baía
de Guanabara e ao largo de Copacabana, de onde os passageiros assistiriam
o espetáculo de fogos de artifício na passagem do ano.
Os donos do barco e os responsáveis pelo Reveillon - que cobraram
entre Cz$ 140 mil e Cz$ 150 mil por passageiro - estiveram desaparecidos
ontem. O assessor de imprensa da Itatiaia Turismo, José Carlos
Tedesco, disse, às 21h, que foi o mau estado de conservação
que fez o barco virar. Ele afirmou que o capitão Johnson e
os sargentos Franco e Vasconcelos, da Capitania, são os culpados,
por terem autorizado a viagem.
Por causa do excesso de passageiros, agentes da Polícia Marítima
abordaram o Bateau Mouche três vezes. Na última, chegaram
a conduzir o barco de volta ao ancoradouro do Grupamento Marítimo
(Salvamar) do Corpo de Bombeiros. Na Capitania dos Portos não
houve expediente ontem. O comandante do Salvamar, tenente-coronel
Jefferson Cardoso de Bem, disse que na véspera foi emitido
um aviso sobre a falta de condições de navegabilidade
devido ao mar agitado.
Segundo sobreviventes, o barco balançava muito desde que saiu
do cais, às 21h15. Pouco depois do começo do passeio
a lancha 4301, da Capitania dos Portos, abordou o barco e fez rápida
vistoria. Perto das 22h foi feita nova vistoria. A esta altura, ventava
muito e o barco balançava cada vez mais, mas a maioria dos
passageiros continuava a se divertir. Às 22h, foi servido o
jantar. Depois, se deu a terceira abordagem. O barco voltou ao cais,
de onde largou novamente às 22h30.
Entre a ilha de Cotunduba e o morro do Pão de Açúcar,
a aproximadamente 1.852 metros da costa, o barco balançava
tanto que pratos, garrafas, copos, mesas e cadeiras começaram
a cair sobre as pessoas, ferindo-as. O barco inclinou-se e as pessoas
foram jogadas ao mar. A tragédia aconteceu entre 23h53 e 23h55.
Os coletes salva-vidas estavam guardados na parte de baixo do barco.
O barco está a 22 metros de profundidade, no canal de Cotunduba,
entre a ilha de Cotunduba e a pedra do Anel, a 25 minutos da costa.
O prefeito do Rio, Marcello Alencar, disse que decretará luto
oficial e exigirá abertura de inquérito policial.
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