AS SUPERSTIÇÕES ALIMENTADAS PELA POPULAÇÃO


Publicado na Folha da Tarde, quinta-feira, 1º de janeiro de 1981


Na extensa lista de superstições alimentadas pela crendice popular, algumas delas estão voltadas para a passagem do ano. Para muitos, a passagem do ano tem que ser com roupa branca. Para outros, amarela. Em matéria de atrair sorte no ano novo, vale todo tipo de crendice e superstições. No Rio Grande do Sul a crendice popular cultiva o hábito de que, a entrada do ano novo é feita com o pé direito; todos se dão às mãos , num círculo, e ao som das doze badaladas, pulam com o pé direito. Augúrio de que tudo correrá bem o ano inteiro.
Os seguidores de umbandas e candomblé, passam à meia-noite de 31 de dezembro à beira-mar, vestidos de branco, com suas oferendas a Iemanjá, rainha das águas. Estar vestido de branco significa a paz desejada para o ano novo. Entrar no mar à meia-noite tem um significado: é o mar que recebe todos os pedidos; é o mar que atinge horizontes mais distantes; é o mar que leva o mal para longe e traz o bem para perto.

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Em matéria de superstição, ninguém tem uma posição definida. Nem mesmo suas origens são definidas, pois as superstições existem desde que o mundo é mundo. Revestindo-se de formas sempre novas, a superstição povoa desde cedo a mente das pessoas com seus personagens lendários, suas fadas boas e más, os seres ou objetos que trazem ou afugentam a sorte.
Na noite de passagem de ano não são poucas as crendices que irão "ajudar" a entrar com pé direito no ano novo. Desde as mais simples como usar algo de novo, ou velho, até vestir-se todo de branco e ir ofertar presentes e flores a Iemanjá.
Algumas superstições relativas ao ano novo são mundialmente conhecidas, a começar do costume de desejar felicidade às pessoas que estão próximas quando soam as baladas da meia-noite. O culto a Iemanjá, que lota as praias da maioria das capitais litorâneas do Brasil é por demais popular. Da mesma forma, a mania de jogar papéis velhos pelas janelas dos escritórios no último dia do ano.

Alguns costumes

Diz a lenda popular que a água retirada de uma fonte exatamente à meia-noite e sorvida em goles lentos trará muita sorte e felicidade. Em compensação folhas de carvallho colocadas numa bandeja nesta hora serão mau presságio se mudarem de cor ao raiar do sol, no dia seguinte.
Em países de agricultura rica, o primeiro dia da semana do ano novo é aziago se for segunda-feira, por exemplo. O ano não promete boa colheita; se o tempo for mal, também não é bom presságio.
Em algumas cidades do interior paulista existe o costume de crianças baterem na porta na noite de Ano Novo, pedindo dinheiro. Se é menino, é sinal de sorte; menina é azar e não se abre a porta.
Quem quiser saber quantos anos viverá é só pendurar, à meia-noite, um anel num fio do seu cabelo e colocá-lo em cima de um copo, as batidas no vidro, dizem, indicarão com segurança os anos de vida.
Existe também o costume de pôr bastante dinheiro no bolso no dia de Ano Novo, assim não haverá de faltar durante todo o ano, outros acreditam que dormir de meia é a melhor coisa para se ter sorte no ano novo. Entre outras superstições populares há também a que manda dar corda no relógio, pois relógio parado é sinal de mau agouro. Outras crendices estão ligadas aos casamentos e são feitos por moças em várias regiões do Brasil.
Finalmente, existem as superstições ligadas aos números do próprio ano, como é o caso do ano bissexto, anos ímpares e há até quem num passe quase cabalístico use a prova dos nove, regrinha da aritmética para aplicá-la ao ano nascente, como por exemplo, 1954: soma-se os dois números da dezena final e aplica-se a regra e chega-se a conclusão dos nove fora nada, sinal de ano aziago e de predominância dos fatos ruins. Levando em consideração essa superstição, o ano que se avizinha está fadado ao aziago, pois a final é 81 que, somado dá nove, "nove fora nada".


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