"MILAGRES" NA GRUTA DE VILA FORMOSA
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Publicado
na Folha de S.Paulo, segunda-feira, 1º de janeiro de
1968
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Neste texto foi mantida a grafia original
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"Muitos milagres acontecem aqui! Uma senhora estava 45 dias internada.
Foi trazida ao pé deste altar e se levantou pelo poder da fé."
"Levante o braço aquele que conseguiu uma graça!",
d. Luigi Mascolo dirige-se à multidão, na Vila Formosa.
O povo, uns 5.000, levanta os braços com decisão. D.
Luigi observa em volta satisfeito. De uns quatro meses para cá
o local desses acontecimentos - Gruta de Santo Antonio de Catigeró,
na Vila Formosa - recebe concentração fora do comum
de crentes. Não há quem não afirme ter recebido
uma graça.
A multidão mostra milhares de braços, olha com adoração
para d. Luigi que espalha a devoção a Santo Antonio
de Catigeró, santo preto que viveu na Sicilia. O povo beija-lhe
a mão, a estola, a batina.
Em duas vezes que esteve lá, o reporter testemunhou apenas
crises convulsas de mulheres, que d. Luigi afirma serem "espirito
ruim", "encosto como se diz". D. Luigi "curou"
essas pessoas, benzeu-as segurando-as pelo cabelo e "libertou-as".
Uma mesma pessoa sofre varias vezes o mesmo ataque. Ao lado do reporter
uma mocinha de não mais de 20 anos caiu em convulsão
durante a benção geral dada por d. Luigi. Os crentes
diziam:
"É mocinha ainda!"
"É mesmo, novinha!", com ar de piedade.
"Já faz tempo que ela está caindo!"
D. Luigi "afasta" o espirito ruim. A mulher se tranquiliza.
Desperta como de um sonho furibundo. O povo bate palmas comovido.
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É
igreja diferente |
O local é rua Tauandé, 20, à direita da avenida
Eduardo Cotching indo para o bairro, altura do nº 1.070. Da avenida
vê-se a torre branca de janelas verdes da igreja. Quem chega
pensa logo que o ritual é catolico romano. Mas é a Igreja
Catolica Apostolica Brasileira, fundada em 1938 pelo bispo de Maura,
d. Carlos Duarte da Costa.
"D. Carlos já faleceu. Está no céu",
diz d. Luigi.
Em 1956, uma irmandade doou à Igreja Catolica Brasileira uma
igreja na rua Tauandé. O nucleo expandiu-se. D. Luigi Mascolo,
que se formou na Igreja Catolica Romana (no "Angelicum"
de Roma), é o bispo para o Estado de São Paulo. Desligou-se
da Igreja Romana por causa do bispo de Nova Iguaçu, três
anos depois de ter chegado ao Brasil. O desligamento ocorreu em 1961.
Na Vila Formosa espalhou a devoção por Santo Antonio
de Catigeró. Ganhou popularidade com dois programas de radio,
um às 7 horas e outro às 18, na Marconi. Os fiéis
multiplicaram-se. As doações tambem. D. Luigi construiu
em tempo recorde a Gruta de Santo Antonio, bem defronte à igreja.
Comprou terrenos ao lado, para construir a Casa do Bom Samaritano,
que pretende seja uma fundação para receber, hospedar
e cuidar dos desamparados.
De uns quatro meses para cá, foram espalhando que Santo Antonio
de Catigeró fazia milagres. Terça, sexta-feira e domingo,
às 16 horas, d. Luigi dá bençãos coletivas
e individuais. A gruta fica cheia, extravaza para a rua Tauandé.
A rua é de terra e agora a Prefeitura está colocando
guia, para calçá-la. Há cheiro forte de esgoto
que sai de um cano. Os carros não param de chegar. O comercio
ambulante é grande: da pipoca até o churrasquinho no
espeto. O povo é de gente rica e pobre. A grande maioria é
pobre. Movimento incessante, das 6 às 7 da noite, nos dias
de bençãos. Dentro da gruta há uma loja de objetos
religiosos onde os fiéis fazem fila para comprar incenso e
estatuinhas de Santo Antonio de Categeró.
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A
sexta-feira quente |
A reportagem esteve varias vezes no local. Acompanhou do começo
ao fim um dia de benção. Foi uma sexta-feira, de tarde
bem quente. A rua tinha aspecto rumoroso, com os ambulantes, o povo
que andava ansioso e os carros que passavam devagar, carregando gente
velha e crianças. As mães estão com os filhos
pequenos de 3, 4 anos que se misturam na multidão espremida
dentro e fora da gruta. Uma ou outra pessoa anda ajudada ou de muletas.
Sai um som forte dos alto-falantes. O povo cantava hinos que se ouvem
na Igreja Catolica Romana. Quem não sabe, pensa que é
mesmo uma igreja de Roma. O povo tem que descer onze degraus largos
para chegar até o interior. A grande maioria é de mulheres
e mocinhas. As mães não podem segurar todos os filhos
nos braços e deixam alguns de pé, agarrados à
saia. Os adultos podem machucá-los. As crianças olham
pra cima amedrontadas. A mãe aperta-as contra o corpo: "Vamos
embora, mãe!". Os que estão de fora abrem guarda-chuvas
para se protegerem contra o sol intenso das 4 da tarde. A missa está
em andamento na gruta. D. Luigi Mascolo está com vestes episcopais,
sussurra, enquanto o povo canta hinos catolicos. É muito dificil
chegar do topo da escada da gruta até o altar. Dezenas de cirios
iluminam e esquentam ainda mais o ambiente. Santo Antonio, imagem
negra, está no meio de uma moldura de pedra branca e preta.
As mãos que pedem roçam os pés do Santo. O povo
está com garrafas, roupas (algumas intimas), documentos nas
mãos. São coisas para serem benzidas na hora certa.
O bispo dá a comunhão. Defronte ao altar estão
cinco soldados da Força Publica para ajudar a ordem. A gruta
está tomada. Os corpos estão juntos e todo mundo transpira
abundantemente. Os rostos estão molhados. É dificil
alguem passar de um lugar para outro. Alguns fiéis comungam
de pé mesmo, do jeito que podem, porque o povo aglomerado chega
até a entrada do altar. D. Luigi é auxiliado por dois
padres, que dão uma mão, de vez em quando. Um é
professor e tem escola no Cubatão. Outro é vice-paroco
e está estudando Direito. Os padres da Igreja Catolica Brasileira
trabalham: "Sacerdocio é vocação e não
profissão", diz d. Luigi.
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Os
maus espiritos |
D. Luigi tira o solideé. Põe a mitra. Passa o lenço
no rosto suarento. A calça cinza aparece debaixo da veste.
Ajusta o microfone, está com a barba semigrisalha. Os olhos
são perscrutadores e caminham de rosto em rosto:
"Nossas mãos vazias erguem-se para o céu pedindo
esmola. Enchei-nos senhor de Vossas bençãos. Abençoai,
Senhor, nossos pais, familia, inimigos...".
Refere-se aos milagres que acontecem nos dias de benção.
Pede para os reporteres não fazerem confusão. A voz
e o silencio são interrompidos por um grito raivoso e prolongado
de mulher. Os soldados começam a mexer-se. Andam no meio da
multidão com grande dificuldade. Chegam num lugar a uns quatro
metros do altar. Os crentes murmuram. As mulheres põem a mão
na boca de medo. Os guardas abaixam-se para pegar o corpo convulso
e forte. Seguram braços e pernas e erguem o corpo desalinhado,
o vestido descomposto. Os soldados fazem força inaudita. O
povo esforça-se para abrir um espaço que não
há. A mulher dá guinchos como um animal selvagem. O
povo tem medo e pena. Mulheres põem o rosto nas mãos.
A mulher com mau espirito sacode a cabeça com violencia. Dá
pontapés. O corpo retorce-se como borracha. Os guinchos saem
prolongados. O povo fica mais penalizado e faz um "Ooooh...".
O reporter está atrás do altar. Uma mocinha de uns 18
anos fica arfante, esfrega com força as mãos no rosto
branco e banhado de suor. Tomba pesado, como uma barra de ferro. Os
olhos rolam loucamente pelas orbitas. Estava arrumadinha. Agora está
toda descomposta. Três homens a agarram pelos braços.
Seguram as pernas. Chegam os soldados para carregá-la até
d. Luigi.
D. Luigi está "curando" a primeira a ter crise. Agarra-a
sem dó pelos cabelos. Os guardas seguram com força.
As camisas estão ensopadas. O cheiro de suor é insuportavel.
D. Luigi manda que ela levante os braços. Dá a ordem
seguidamente. Joga agua benta. Faz o sinal da cruz. A mulher está
mole, o corpo sem força, gasto. As pernas se curvam. Os guardas
seguram o corpo em qualquer parte para que ele fique de pé.
A mulher vai despertando, os olhos vidrados.
Está mole, reavivando-se, os olhos começam a mexer-se.
O anel do bispo balouça diante dos labios. O bispo manda que
ela beije. Ela beija, levanta os braços, obedecendo nova ordem.
A mulher está boa. Sai arrumando-se. O povo estava rezando
Padre Nosso e bate palmas quando a mulher fica normal outra vez.
A segunda chega tambem carregada até o altar. D. Luigi vai
repetindo tudo, dando as mesmas ordens. Novos gritos desesperados.
As mulheres repetem mecanicamente: "Outra!", "Meu Deus,
outra!". Os choros são doloridos. D. Luigi vai "curando",
manda a mocinha embora: "Pronto, vá com Deus". As
fisionomias são tristes. Há uma calma repentina.
"Tem mais algum diabo por aí? Venha para cá!",
fala com vigor e com acento italiano o bispo. O povo faz um murmurio
alegre, de descontração, com a frase do bispo. Ele continua
o sermão. Fala que "muitos milagres acontecem aqui, como
os srs. estão vendo... O que se assiste aqui fala tudo. Tudo
aqui se pede com fé, se alcança com fé. Vamos
benzer a agua para os doentes!"
O povo levanta as mãos com garrafas com agua. Outros mostram
documentos e fotografias de pessoas para quem querem milagre.
D. Luigi asperge agua benta.
"Vamos agora benzer a roupa dos doentes!"
O povo levanta todo tipo de roupa, até intima. Nova benção.
Manda que o povo levante de novo as mãos com fotos, documentos
de doentes. Dá nova benção:
"Abençoai os doentes, Senhor. Afastai o perigo do desemprego,
dos espiritos malignos".
A multidão grita três vezes "Amem".
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Mais
de uma hora de bençãos |
A missa termina. O povo rumoreja e coloca-se em filas interminaveis.
O bispo começa a dar uma benção individual. Faz
o sinal da cruz na testa de cada crente. Numa mão segura um
pequeno recipiente com esponja e agua benta. O crente beija a estola
do bispo, dá uma esmola que geralmente é de 1.000 cruzeiros
velhos. Um coroinha de cabelo queimado pelo sol segura um saco que
em pouco tempo fica cheio de dinheiro. O bispo dá a benção
mecamente, manda que os fiéis abençoados deixem o caminho
livre para que os outros passem. De um lado do altar três bicas
jorram agua que o bispo afirma ser a "agua regular". O povo
vai encher ali as garrafas. É dificil chegar até esse
tanque. Essa agua, que será abençoada, servirá
aos doentes, aos que querem graças.
Cinco soldados da Força contêm com toda a força
dos braços a multidão que quer chegar até perto
do bispo, para receber a benção. Repetem-se os ataques
de mulheres. O ar está quente demais. Há oito vitrôs
de tamanho medio que não ventilam muito. Os alto-falantes tocam
musica sacra. D. Luigi passa incessantemente e lenço pelo rosto
suado. As roupas estão molhadas, como ele indica ao reporter
depois do ritual. Um padre diz que ali dentro "cabem umas 10.000
pessoas; assim falou o Jacinto, o da televisão". A mulher
está esperneando. Quer escorregar pelos braços dos soldados
que a seguram. O bispo agarra-a pelos cabelos. Dá-lhe uns puxões
e manda-a que olhe para ele. Dá o anel para que ela beije.
As criancinhas vêem tudo. Estão com as mães na
fila. O bispo dá a benção nos pequenos tambem,
que passam e não querem nada. Mais gritos. A mocinha está
fora de si. Seu corpo é leve. Sua idade não é
mais de 17 anos. A mãe está atrás aflita, arrumando
a roupa que sobe e desce no corpo que não liga para nada. O
bispo repete tudo. A moça se acalma, estranha tudo, caminha
tonta ainda amparada por um soldado, a mãe atrás arrumando
o vestido amarfanhado. Outra mulher ainda em si e sem ser carregada
chega até o bispo. Desespera-se com a crise a tomar-lhe conta
do corpo. Uma filhinha de 4 anos está atrás chorando
lagrimas abundantes e pedindo "Eu quero minha mãe".
A mulher nem sabe da filha e grita para o bispo: "Meu marido
tambem está ruim, lá, meu Deus", e aponta para
o fundo, ao mesmo tempo que as pernas bambeiam. Os soldados seguram
antes que caia.
A atmosfera é ruidosa, dramatica, com a sucessão de
crises. O bispo está imperturbavel. Vai dando as bençãos.
O povo chega a dar esmolas com avidez. Pega em qualquer parte da veste
do bispo e beija com grande respeito.
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"Esta
renasceu" |
No angulo do altar está uma familia inteira. Sentada numa cadeira,
imovel, Custodia Gomes Rosa, residente na rua prof. José Minhofe,
26, Parque Peruche, é dada como rediviva.
Helenir Almeida Barros, residente na rua Gabriel Couvele, 1.171, mesmo
bairro, amiga da familia, conta que estava na casa de Custodia quando
está "faleceu". Custodia, que é paralitica
das pernas e dos braços (da. Helenir agarra um braço
de Custodia e mostra que ele não tem vida), estava na cama,
de bruços: "Não respirava mais. Eram duas horas
da tarde. Ela nem sabe que morreu. É verdade como o meu neto
que está aí. Fomos chamar o marido, Manuel da Silva
Gomes (Custodia é casada há 21 anos e tem um filha mocinha
que tambem está na gruta). Não chamamos medico, nem
nada. Choramos. A unica coisa que fiz foi acender uma vela para uma
imagem de Santa Filomena. O Manuel virou o corpo da mulher. Os olhos
estavam vidrosos, a boca aberta e a língua parada. Não
é verdade, seo Manuel? (Ele confirma.) Fizemos uma coisa: friccionamos
bastante no lado do coração. Depois de duas horas daquele
jeito, a Custodia reviveu. Ela é devota de Santo Antonio e
sempre quis vir a esta igreja. Ouvia diariamente, às 18 horas,
d. Luigi pelo radio".
Custodia não diz uma palavra. Está triste, abandonada
numa cadeira, olhando fixa para o altar.
A historia é contada no meio de muito barulho, de um povo pressuroso,
que vai sofregando às bicas d'agua "regular" ao lado
do altar.
Alipio Dantas de Oliveira, residente na avenida Marginal, 439, São
Caetano, está na gruta cumprindo promessa. A esposa Teocles
Oliveira diz que o marido sofreu um desastre de carro e fraturou o
cranio em três lugares. Foi desenganado pelos medicos no Hospital
das Clinicas, onde ficou internado. Da. Teocles fez promessa para
Santo Antonio:
"No 11º dia meu marido abriu os olhos. Ficou mais 70 dias
nas Clinicas e hoje ele está bom. Isso aconteceu em abril."
O casal ia pela primeira vez na gruta.
Passa uma senhora arrastando as pernas pesadas. Já tem idade
e o corpo é grande.
"Quantas vezes a senhora já veio aqui?"
"Uma porção, meu filho. Estou ainda muito doente.
Mas tenho fé naquele santo (e aponta Santo Antonio)."
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A
guerra |
D. Luigi está cansado. Repetiu milhares de vezes o sinal da
cruz na testa dos crentes. Sacudiu a cabeça de muitas mulheres
"com encosto". A maioria dos crentes é gente pobre.
Há operarios com bolsas onde levam marmita. D. Luigi liga o
radio na Marconi. São quase seis horas da tarde. O ambiente
é invadido pela musica caipira alta. De dramatica a atmosfera
fica até festiva. D. Luigi está mais tranquilo ainda.
A radio transmite a benção de d. Luigi. É gravação.
Na gruta d. Luigi repete as palavras da benção que a
radio difunde. Os crentes entregam cartas que agradecem as graças
recebidas e pedem outras:
"Tenho milhares dessas cartas contando os milagres. O senhor
quer ver?", diz o bispo ao reporter.
Ele arquiva todas as cartas como prova.
Ernesto Soares Filho, morador na rua Santa Adelaide, 171, Vila Euclides,
São Bernardo, ficou o tempo todo rezando terço. Entrou
na fila para receber a benção individual. É o
ultimo. Conta que tinha neurose de guerra. As pernas tremiam terrivelmente,
sentia um frio enorme. Tinha isso há vinte anos. Não
podia nem andar.
"Quando cheguei lá em cima (aponta o alto da escadaria
da gruta), comecei a suar e pensei que fosse morrer. Era a primeira
vez que vinha aqui. No mesmo dia fiquei bom. Sumiu tudo."
A esposa está do lado, confirma e acrescenta:
"Ele quase morreu dentro da igreja. Viemos aqui por causa do
radio."
Ernesto diz que a turma de São Bernardo, seus amigos, começou
tambem a frequentar a gruta:
"Não há o que pague isto."
São 18h15. D. Luigi termina a benção individual.
A gruta tem umas poucas pessoas. A maioria pegando agua no fundo.
O chão está todo sujo de papel. Um mocinho começa
a limpeza.
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A
indenização veio |
"Meu nome é Julio Ramos. Eu recebi um milagre. Fiquei
invalido das pernas e a firma e o seguro não queriam pagar
os 4.600.000 cruzeiros velhos. Isso faz seis anos. Vim aqui na gruta,
de uns três meses pra cá. Pedi a Santo Antonio para receber
a indenização. Só tomei agua benta. Agora acabo
de ser chamado ao Tribunal do Trabalho e me disseram que vou receber
todo o dinheiro antes do Natal. De vez em quando venho aqui, pra fazer
umas preces."
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Pipoca
abençoada |
Na radio, d. Luigi exortou os fiéis: "Comprem a pipoquinha
do seu Alberto que é abençoada". Alberto Justino
Ferreira vendia no maximo 5.000 cruzeiros velhos de pipoca. Passou
a vender mais de 30.000 depois da exortação. Ele tem
uma maquina arrendada, de fazer pipoca, ao lado da igreja. Dá
20% do movimento para o dono da maquina e até fim de dezembro
tem de resolver se compra ou não a maquina. D. Luigi falou
tambem na missa para o povo colaborar com seo Alberto:
"D. Luigi é muito democratico e caridoso. Tive dois derrames
e fiquei paralitico. Ele abençoou a minha pipoca", diz
seo Alberto.
O comercio em volta é forte. Seo Alberto reclama da concorrencia
dos carrinhos ambulantes. Diz que o movimento comercial é muito
grande. Por dia chegam de 300 a 400 carros. A rua lota de gente.
"A base aqui é de 12.000 a 15.000 pessoas. O movimento
não pára. Começa às 6 da manhã,
quando abre a gruta, e vai até às 9 da noite",
diz o sr. Darci de Sousa, que acompanha os acontecimentos.
Um pedreiro que trabalha numa obra da rua: "Já faz quase
um ano que este movimento começou. De uns três meses
pra cá é que o numero de gente está aumentando
desse jeito".
O pipoqueiro afirma que d. Luigi é um homem doente, sofre de
um rim: "Ele dá benção com 39 graus de febre.
Não tem sossego. Se existe homem bom, é esse aí".
O sr. Gedal Vieira de Almeida é comerciante que luta para viver
com a familia. Arrendou um barraco e fez dele um bar, tambem ao lado
da igreja. Tem movimento fraco. Diz que o movimento maior é
no bar da igreja chamado "Bar do Santo". Acompanha o que
acontece por ali: "Domingo vi uma moça atacada. Ouço
e vejo gente atacada de espirito. Mas nunca ouvi dizer que paralitico
ficou bom ou cego viu".
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D.
Luigi e as crianças |
O bispo é simples, de trato facil, atende indiscriminadamente.
Dá sempre a mão para o crente beijar. Termina a benção
e caminha tranquilamente. Não se formam multidões em
sua volta. Parece que, com a missa encerrada, ele passa a ser um homem
comum, que não chama a atenção. O reporter pergunta
o que é a muleta que está atrás do altar:
"Era de um paralitico que ficou bom. As muletas que eles deixam
na igreja nós mandamos dar para os paraliticos pobres que não
podem comprar muletas".
"Há prova disso?"
D. Luigi responde que as milhares de cartas, que tem arquivadas e
que podem ser lidas por quem quer que seja, são a prova. Diz
que a Igreja Brasileira não cobra sacramentos, casa desquitados
e permite o casamento dos padres. Ele, d. Luigi, não é
casado. Trouxe a mãe velhinha da Italia e ela mora atrás
da Igreja, onde há uma escola:
"São doze salas de aula com 800 crianças. Tudo
é gratuito. As professoras são pagas pelo SESI. Estou
construindo mais duas salas de aula com igreja entre Guaianases e
S. Miguel."
D. Luigi diz que a sua principal obra será a Fundação
do Bom Samaritano para abrigar 1.000 pessoas, que receberão
ajuda, emprego. O malandro será levado para a policia:
Aqui surgirá a Cidade Caridade. Por isso estou comprando todos
os terrenos em volta. Eu vou morrer, a obra, não."
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