O site MODA ALMANAQUE FOLHA entrevista a jornalista Alexandra Farah, curadora da mostra "Filme Fashion" |
Moda Almanaque - Como surgiu a idéia do projeto e quanto tempo duraram as pesquisas? Alexandra Farah - Eu já pesquiso o tema faz uns cinco anos. Mas era informal, nunca imaginei fazer nada. No início do ano passado, conversando com o Sidney Pereira, um amigo meu que na época era coordenador de cinema do CCBB de São Paulo, ele me disse: "Você fica lendo e falando da relação cinema e moda o tempo inteiro e não vai fazer nada, não?" Bom, resolvi fazer a mostra. Eu tinha muitos temas pra explorar dentro deste assunto. Poderia falar dos filmes que mais influenciaram a moda, poderia reunir os trabalhos dos principais figurinistas, das estrelas mais "fashion". A Gloria Kalil, minha chefe na época (no site Chic), me ajudou a definir pelos filmes com guarda-roupa dos grandes estilistas como tema desta primeira edição. Nos próximos Filme Fashion, vou trabalhar os outros recortes. Inscrevi o projeto em março. Ele foi aprovado em novembro. E nós começamos a produção em janeiro. Nos primeiros meses, coordernei de longe, por que eu ainda estava no Chic. A partir de março minha dedicação foi integral. Moda Almanaque - Houve alguma dificuldade em encontrar referências e também em localizar esses filmes? Alexandra Farah - Preciso dizer que estou adorando todos os momentos da produção, dos mais burocráticos aos mais glamurosos. Agora, o fato de eu nunca ter feito um festival de cinema me deixava um pouco perdida. Por mais que eu organizasse, sempre aparecia algo que eu nem sabia que ia precisar fazer. Mas, eu e minha assistente, acabamos resolvendo a maioria das coisas numa boa. A maior dificuldade é o sistema de distribuição de filmes no Brasil. Depois de cinco anos, a película do filme é queimada. O que é um absurdo. Ou seja, apesar da maioria dos 34 filmes da mostra serem em película (que a gente alugou da cinemateca, da Funarte, do MAM do Rio de Janeiro etc) outros eu vou ter que passar em VHS e em DVD. Moda Almanaque - Qual é a diferença entre o trabalho do figurinista, o chamado 'costume designer', como a famosa Edith Head, que ganhou inúmeros prêmios Oscar, e o trabalho do estilista na criação de um guarda-roupa para cinema? Alexandra Farah - O estilista não trabalha na indústria do cinema, como um figurinista. Um figurinista é especializado em roupas que serão filmadas, é um mestre em close-ups, em costumes históricos, ele veste um personagem de acordo com a história. Na maioria dos casos, a roupa dele tem uma posição de subserviência em relação ao roteiro e as características do personagem. Um estilista faz moda, cria tendências e quando ele faz algum trabalho no cinema ele leva a sua assinatura. Claro que ele se preocupa com a história, mas mesmo assim a gente percebe que ele tem um trabalho mais autoral. Moda Almanaque - É verdade que no filme Sabrina, com Audrey Hepburn, o Oscar foi para Edith Head e não para Givenchy, que foi quem criou o vestido do baile, considerado o responsável pelo prêmio? Alexandra Farah - É, e isto ilustra um pouco a pergunta anterior. A maior briga é mesmo entre figurinistas profissionais e estilistas. Os figurinistas se ressentem porque a maioria dos estilistas não participa da indústria do cinema, não acordam às cinco da manhã para ir vestir o ator, e no final ganham todo o crédito. Dois casos famosos são o de "Sabrina" (com Audrey Hepburn vestida por Givenchy) e de "Noivo Neurótico, Noiva Nervosa" (com Woody Allen e Diane Keaton vestidos de Ralph Lauren). Bom, em "Sabrina", apesar de Givenchy ter feito todos os looks de Audrey, na fase do filme quando ela volta de Paris, a figurinista Edith Head não agradeceu a ele quando foi buscar o Oscar de Melhor Figurino. O vestido de baile é criação dele. No caso de Ralph Lauren, o estilista que na mostra representa os anos 70, a briga é pela autoria do que ficou conhecido como look Annie-Hall. Teria sido dele ou da figurinista a idéia de vestir a personagem de Diane Keaton com gravatas, saias longas e coletes masculinos? Cada um afirmava que a autoria era sua. Até que recentemente em uma biografia não autorizada do estilista, Woody Allen contou que a roupa de Annie Hall foi idéia da própria atriz que a montou usando peças de Ralph Lauren. Moda Almanaque - Qual é o seu filme preferido entre os que estão reunidos na mostra, do ponto de vista do figurino? Por quê? Alexandra Farah - Nossa, amo todos de paixão e poderia selecionar um pra cada categoria. Bom, mas como tenho que escolher um, vou por "Ano Passado em Mariembad". Chanel dá um show e o robe branco de plumas e o casaco preto com penas são duas peças copiadíssimas por outros estilistas e por figurinistas desde então. O filme é de 1961. Mas esta minha resposta é injusta. E os de Givenchy com Audrey? E "Charada"? E "O Grande Gatsby"!? Moda Almanaque - Você tem algum outro projeto nessa área de cinema e moda, como um livro, por exemplo? Alexandra Farah - Tenho. Já estou conversando com editoras. Para a mostra eu escrevi um catálogo de 90 páginas que conta um pouco da história. Imprimimos só mil catálogos que serão vendido no CCBB. É um catálogo rápido, mas cheio de fotos e de histórias muito interessantes. |
Alexandra Farah é jornalista, trabalhou como repórter e editora da revista Claudia (Ed. Abril) e estudou moda na FIT, em Nova York, quando também era correspondente convidada de diversas publicações brasileiras. Também foi editora de conteúdo do site "CHIC - por Glória Kalil" |