PARTIRÃO DE CARAPICUIBA OS PROJETEIS PARA A LUA


Fundada em São Paulo a Sociedade Interplanetaria Brasileira - Filia-se às congeneres existentes no mundo - Finalidades da novel entidade - "Quem não faz castelos no ar nunca os terá na terra", diz Jeronimo Monteiro, autor de "Três Meses no Seculo, 81" - Considerações do escritor e jornalista J. Reis

Publicado na Folha da Noite, segunda-feira, 27 de abril de 1953

Neste texto foi mantida a grafia original

Foi fundada em meados de fevereiro do corrente ano em São Paulo, a Sociedade Interplanetaria Brasileira, associação que tem por finalidade reunir homens de ciencia, escritores e pessoas direta ou indiretamente interessadas nas futuras viagens para outros planetas, com o objetivo de manter o mais a par de todo aquilo que seja feito, no mundo, no tocante às possibilidades de excursões pelo espaço sideral.
A sede da entidade fica na avenida Ipiranga 1.248, conjunto 1.602. E há, também, uma sede de campo em Carapicuiba, com telescopio e tudo, onde os fundadores da novel associação se reunem, periodicamente, para debates de assuntos referentes ao futuro turismo inter-astros.

Os foguetes sairão de Carapicuiba!

A Sociedade Interplanetaria Brasileira já está entrosada com entidades congeneres de todo o mundo sendo, pois, no Brasil, a pioneira do "interplanetarismo". Seus fundadores acreditam que, se as viagens par a Lua, para Marte ou Saturno, vierem a concretizar-se, nosso pais tambem estará na vanguarda do movimento, ocasião em que tambem aqui poderemos vir a ter uma "agencia de passagens para os astros".
E, desde que a bucolica Carapicuiba foi escolhida para sede de campo da Sociedade Interplanetaria Brasileira, nada mais licito que supor-se que de lá sairão, de futuro, os transportes brasileiros para a lua.

Os fundadores

São principais fundadores da Sociedade Interplanetária Brasileira os srs:

Tomás Pedro Bun, brasileiro naturalizado, de origem hungara. Venceu em seu país, guando estudante, um Concurso Nacional de Fisica obtendo o segundo lugar em pareo disputado por novecentos candidatos. Desde, então se interessou vivamente pela Fisica Teorica. Depois de formado engenheiro civil pela Universidade Politecnica de Budapeste, exerceu sua profissão em vários paises europeus inclusive na Australia, Suiça, França e Alemanha, tendo transferido residencia para o Brasil, depois de guerra. É socio antigo da Sociedade Hungara de Ciencias Naturais e da Societé Astronomique de France.

Zoltan Dudus, engenheiro, arquiteto, filosofo e astronomo amador.
José Nicolini, estudioso de assuntos interplanetarios.
Jeronimo Monteiro, escritor e jornalista.
Ladislau Deutsch, entusiasta da astronomia.
J.; Reis, escritor e jornalista.

Finalidades da sociedade

Assim sinteliza J.Reis as finalidades da Sociedade Interplanetaria Brasileira, que "tratará de tudo o que se refira às viagens aos outros mundos":
"Cada dia que passa, maior se torna o interesse do publico, em todo o mundo, pelas viagens interplanetarias. Quando uma organização cientifica anunciou, a titulo de sondagem, a venda de bilhete para a primeira dessas aventurosas jornadas, grande foi a procura por parte daqueles que não contentes com as paisagens terrenas, desejam familiarizar-se tambem com as de outros planetas. E já não são poucas, mundo afora as associações de pessoas que gostam de discutir e estudar os assuntos ligados aos voos interplanetarios. Não há duvida que essas associações representam excelente oportunidade de divulgação cientifica. Mesmo que seus membros não entretenham ilusões quanto à possibilidade de atingir, com nossos foguetes, os mundos distantes, tantas são as ciencias que contribuem para a solução, pelo menos teorica, dos problemas de voo interplanetario (medicina, metalurgia, fisica, quimica etc.) que o simples estudo rapido desses problemas pode familiarizar o homem comum com algumas conquistas das mais notaveis, da ciencia. Este é, aliás, o interesse maior das associações interplanetarias, para não falar do puramente social, pela maior aproximação entre homens de varias profissões, de varios credos, de distintas tendencias intelectuais .
"A esse sopro de interplanetarismo não poderia escapar o nosso país, e muito em particular a cidade de São Paulo, onde acaba de ser fundada a Sociedade Interplanetaria Brasileira (S.I.B.), que inscreve em suas finalidades : 1. procurar conhecer tudo quanto se relacione com a possibilidade de viagens interplanetarias e examinar os valores positivos e negativos que tal possibilidade oferecer; 2. realizar amplo programa de divulgação dos conhecimentos relacionados com esse problema, pondo em foco, de maneira muito particular, a colaboração das varias ciencias para esse fim (objetivo dos mais elevados, numa epoca de tanta especialização, em que com facilidade se perde a noção de que a ciencia, na verdade, é uma só; 3. manter intercambio com entidades congeneres; e 4.procurar interessar numero cada vez maior de pessoas nos problemas do voo interplanetario".

O interesse maior

Jeronimo Monteiro, escritor e jornalista, autor, entre outros, dos livros "interplanetarios" "Fuga Para Parte Alguma" e "Três Meses no Seculo 81", entrou para a Sociedade Interplanetaria Brasileira como ficcionista, achando que o escritor de semidocumentarios, necessita manter contacto com a vanguarda da ciencia. É Jeronimo Monteiro quem nos diz:
"O interesse maior de entidades como a Associação Interplanetaria Brasileira está em desenvolver o estudo e a pesquisa em torno de varias ciencias. Se o objetivo não é alcançado, os meios são palmilhados e isto, somente isto, traz uma serie infinda de vantagens. Homens de pensamento, homens de ciencia, escritores, tecnicos, engenheiros, evitando esforços em busca de uma solução para a viagem à lua, poderão resolver muitos problemas atinentes ao transporte a jactopropulsão, nos céus deste planeta.
"Poder-se-ia dizer - terminou Jeronimo Monteiro - se a expressão não fosse por demais surrada, que "quem não faz castelos no ar nunca os terá em terra..."


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