UM PUNHADO DE CURIOSIDADES


Publicado na Folha da Manhã, sexta-feira, 19 de julho de 1940

Neste texto foi mantida a grafia original

O ciclo vital do salmão do Pacífico

São as seguintes mudanças radicais que assinalam as várias fases da existencia de cada salmão do Oceano Pacífico:
Entre as idades de seis meses e um ano, sua cor é amarelo-esverdeada no dorso e prateada aos lados, sendo que os flancos trazem barras escuras.
Depois que os salmão vai das correntes de água doce dos rios para as correntes salgadas do mar, a sua cor passa a ser verde-palida ou verde-azul bem escura.
Quando adulto, ao regressar às suas correntes nativas e doces, depois de viver de tres a seis anos em água salgada, o salmão macho se torna inteiramente escuro, estriado e pintalgado de vermelho. Seus maxilares se prolongam e se encurvam na ponta, de modo que a boca não pode mais ser fechada. Os dentes da frente se alongam: o corpo se torna esguio e o dorso fica embaulado, à altura do pescoço.
O salmão femea perde a sua cor prateada. A carne avermelhada, tanto da femea como do macho, torna-se cor de rosa ou mesmo branca.
Um pouco antes de entrar nas águas nativas, o salmão deixa de comer. Este é o começo de um longo jejum, que dura todo o tempo da migração, corrente acima.
Depois de entrar no rio nativo, o salmão, em regra, permanece no estuário durante alguns dias, para se acostumar à água doce. A seguir, viajando na razão de duas a quatro milhas por dia, o salmão ruma contra a corrente, salta cascatas, sobe rampas, abrindo caminho até ao tributário onde deve desovar. Há um misterioso "instinto do berço" que guia o salmão ao rio onde nasceu. Se se transladam os ovos para outro rio, o salmão volta sempre ao lugar onde os depôs.
Quando, por fim, o salmão atinge o ponto da cria, o macho faz excavações com a cauda e prepara um ninho amplo nos seixos do leito do rio, onde os ovos devem ser postos e fecundados.
Ao término da fase da cria, o salmão sente-se exausto, pelos seus esforços e pela falta de alimentação. Nenhum é capaz de sobreviver aos rigores desta primeira e única fase de reprodução. Todos morrem.

A origem da refrigeração cientifica

Embora sir Francis Bacon, que fez a famosa experiência de rechear um frango com gelo, seja considerado, por alguns, como o primeiro realizador de pesquisas cientificas em torno da refrigeração artificial, é fato que os estonianos, há mais de mil anos, já conheciam um método de produção do frio, que lhes permitia conservar os corpos mortos pelo menos durante seis meses. Não ficou esclarecido se os estanianos usavam os seus conhecimentos tambem para conservar carnes, frutas e verduras.
Os estonianos viviam entre o Rio Vístula e o Mar Báltico, ao tempo de Alfredo, o Grande. Quando um estoniano morria, seu corpo era imediatamente congelado e exposto em sua residência. Todos os amigos e parentes se reuniam para as festas funerárias, que duravam meses.
A duração das festas funerárias dependia da riqueza do morto; os amigos e parentes ali permaneciam enquanto havia bebida e comida. A vigília de um rei, ou de um personagem de alta expressão política e social, prolongava-se por meio ano. Jogos, bebidas e banquetes enchiam o tempo, enquanto o cadaver gelado ficava exposto, à espera da cremação.
Depois de quasi esgotadas as posses do morto e de inteiramente fatigados os convivas, dividia-se o restante dos bens deixados em cinco ou seis montículos de moedas de pequeno valor. Estes montículos eram depositados à distância bem medida de uma milha um do outro, fóra da cidade, sendo que o montículo de maior valor era conduzido a maior distância. Todos os homens das redondezas, que possuiam cavalos velozes, apostavam corrida até os montículos de dinheiro, sendo que cada corredor tinha o direito de ficar com o "tesouro" a que chegava primeiro.
Não há indicações de como os estonianos conseguiam obter uma refrigeração tão eficiente. Mas a sua capacidade de a realizar está assinalada nas palavras do rei Alfredo, que disse, num livro publicado lá pelo ano 860 antes de Cristo:
"E, entre as tribus estonianas, existe uma que sabe produzir o frio; por este meio, os corpos mortos duram longo tempo, sem se decompor, porque se produz frio ao seu redor. E, se alguem colocar vasos, cheios de cerveja, ou agua, perto do corpo, os vasos serão retirados dalí gelados, seja no inverno, seja no verão."

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