A NAVEGAÇÃO SUB-MARINA
Novos
apparelhos para a exploração debaixo dagua a grandes
profundidades - Serão salvas a riquezas submersas nos naufragios?
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Publicado
na Folha da Noite, quarta-feira, 6 de maio de 1925
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Neste texto foi mantida a grafia original
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Uma das coisas que o homem tem sempre sonhado, desde tempos immemoriais,
é abandonar o ambiente natural que lhe é destinado e
transportar-se para ambientes em que normalmente não póde
viver.
O homem foi feito para ter os pés sobre a terra e a cabeça
lá para o lado das nuvens. Sentindo-se aferreado nas limitações
impostas por essas condições, elle tem sempre invejado
os peixes que andam dentro d'agua e os passaros que voam pelos ares.
Mas o homem, tambem, tem tido sempre boas razões praticas para
desejar a extensão da sua actividade aos meios prohibidos pela
natureza. Se viaja sobre a agua e se naufragam os seus navios carregados,
comprehende-se que queria poder revolver o fundo do mar em busca do
que porventura tenha perdido. E se, viajando em terra, encontra a
toda hora obstaculos á sua movimentação, é
natural, tambem, que procure desembaraçar-se delle andando
pelo ar, como as aves.
A phantasia dos mais imaginosos romancistas do passado tem descripto
as mais bizarras invenções que permittem navegar-se
pelo ar ou sob a superficie das aguas.
Quem desconhece as aventuras de Julio Verne? a historia do seu Nautilus?
a viagem ao redor da lua?
Ora ás invenções sonhadas desde eras remotas
nós já chegamos. E o interessante é notar que
foi realizada em primeiro logar a que se pensava mais difficil - a
navegação aerea.
Andar debaixo d'agua é ainda um problema apenas parcialmente
resolvido, comquanto o genio humano tenha começado a trabalhar
sobre elle antes que cuidasse das maneira de andar pelo ar.
Há dois typos diversos de apparelhos que permitem ao homem
descer e mover-se abaixo da superficie d'agua: o apparelho individual
do escaphandrista e o submarino.
Mas em ambos os casos a esphera de acção é limitada
pela grande difficuldade, que gradativamente se vae tornando impossibilidade,
de resistir á pressão da agua, que augmenta enormemente
, á medida que augmenta a profundidade.
É claro que um escaphandrista não pode trabalhar como
normalmente senão a 20 ou 25 metros de profundidade: um individuo
de robustez excepcional pode descer a 30 metros e permanecer algum
tempo sob pressão desse ambiente, mas taes casos são
raros.
Tambem o submarino não pode descer a um nivel muito baixo,
pois correria o risco de romper-se da pressão da agua, como
acontece com uma casca de ovo, que se aperta com a mão.
Entretanto o incentivo para descer ás maiores profundidades
é grande. E cresceu depois da guerra, por causa do enorme numero
de vapores que foi a pique pela acção dos submarinos,
com cargas de alto valor e que jazem de 100 a 150 metros abaixo da
superficie do mar.
Há muito ouro e muita prata nos navios afundado. E essas cargas,
como todas as cargas perdidas no mar, estão á disposição
de quem as vá buscar. E escaphandristas já se têm
aventurado em procural-as.
Mas inventos novos estã apparecendo, instigados, sem duvida,
por essas riquezas sepultadas.
Assim, annuncia-se agora duas invenções de especial
importancia: uma allemã, e foi applicada com muito successo
pratico até a profundidade de 70 metros; a outra é americana
e foi provada experientalmente com bom exito. Com esta ultima, o inventor
calcula poder descer a mais de 200 metros.
O apparelho allemão tem o aspecto de um estranho e terrivel
monstro marinho. Mas, na realidade não é senão
um escaphandro muito reforçado com uma couraça de aço.
Os braços e as pernas de explorador movem-se dentro de reforçados
tubos articulares. Os do braço são munidos de unhas
manobraveis internamente e que fazem o papel de garras. Através
de vidros dispostos diante da cabeça, são projectados
feixes luminosos, provenientes de lampadas electricas ultrapotentes
collocadas no interior do apparelho.
O invento americano - do cap. Williamson de Perth Amboy - é
mais complicado. E' tambem de aço e consiste num par de camaras
distinctas dentro das quaes o escaphandrista pode mover-se livremente.
Por meio de tubos que se extendem do fundo da camara inferior, o explorador
pode manobrar os instrumentos necessarios para o seu trabalho. A luz
tambem é fornecida por lampadas situadas no interior das camaras.
Ambos os apparelhos possuem telephone para a communicação
com o exterior.
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