VELHAS PERGUNTAS SOBRE MARTE PODERÃO SER ESCLARECIDAS EM BREVE


Publicado na Folha de S. Paulo, quinta-feira, 6 de dezembro de 1962

Neste texto foi mantida a grafia original


Nova York, dezembro (FOLHA) - A ultima resposta às velhas interrogações sobre o planeta Marte (Haverá vida? Como é feita? Existiu vida há milhões de anos?) foi dada há dias pelo observatorio de Lowell, que publicou a mais ampla e recente serie de informações sobre o planeta, informações essas que a sonda espacial "Marte I", lançada pelos sovieticos, conformará ou não.
Marte tem, sem duvida, vegetação, mas não há qualquer indicio da presença de seres inteligentes: esta é, sinteticamente, a teoria documentada do astronomo Earl Slipher, que todavia não resistiu à tentação de se aventurar em suposições fantasiosas-cientificas. O astronomo, com efeito, não exclui a possibilidade de que em Marte tenham existido seres inteligentes, em tempos remotos, e que esses seres tenham inventado formas de adaptação subterranea através da redução progressiva do oxigenio na sua atmosfera.
O observatorio Lowell encontra-se no Arizona e é um dos maiores do mundo. Earl Slipher, que lá trabalha, é especialista em estudos sobre Marte e o volume que contem as informações intitula-se "Historia Fotografica de Marte", com mais de 500 fotos e mapas sobre o planeta colorido (Marte não é vermelho, como se pensava e sim, segundo as ultimas observações sovieticas, tem um mosaico de manchas alaranjadas e violeta).

Confirmações

O astronomo Slipher confirma o que de há muito não é novidade: em Marte existem não somente condições necessarias à vida, como há formas vegetais de vida. As condições essenciais para a vida são notadamente duas: a presença de uma atmosfera que isole o planeta de temperaturas baixas demais e torne possivel o metabolismo; e grau suficiente de umidade. O velho planeta Marte possui ambas as condições, embora em grau menor do que a Terra.
Há agua, e o demonstra a calota polar, m as é escassa, como se pode constatar pelos ceus marcianos. As calotas polares são formadas por depositos de gelo e de neve de pelo menos um metro de espessura: dissolvendo-se, produzem umidade suficiente para esconder por todo o verão, uma parte notavel do hemisferio austral do planeta.

As estações


É sabido que os estudiosos atribuem a Marte quatro estações semelhantes às da Terra, embora com duração maior, pois o ano marciano é quase o dobro do nosso: uma primavera de 149 dias, um verão de 147, um outono de 191 e um inverno de 181.
Slipher sustenta, agora, com outros autorizados colegas, que certas modificações de cores, nas mudanças de estações, reveladas nas fotografias, só podem ser explicadas pela presença de uma vegetação que cresce e depois desaparece. O oxigenio é escasso, mas sempre suficiente para formas primitivas de vida vegetal.

No meio

A publicação do observatorio de Lowell fica exatamente no meio das conclusões de dois grupos cientificios: de um lado os que sustentam a existencia de uma "vida" marciana e, de outro, os que negam. Para Slipher, Marte é um planeta semideserto. Atmosfera, agua, calotas polares, tudo está provado; nenhuma prova, entretanto, apareceu até hoje, sobre a presença de seres inteligentes. Sim, talvez tenham existido, mas há quanto milhões de anos? Numa epoca em que Marte era um planeta jovem, como é a Terra hoje.
Essa afirmação é menos gratuita do que parece e vale a pena lembrar que os sovieticos pensam a mesma coisa. O astronomo Igor Schlovski, em maio de 1959, chegava à conclusão de que Deimos e Phobos, as duas pequeninas "luas" de Marte, nada mais seriam do que dois satelites artificiais, lançados em epocas distantes pelos marcianos. Schlovski argumentou com calculos matematicos, dizendo que principalmente Phobos não se comporta como satelite celeste natural: seu periodo de revolução diminui de ano para ano e isso pode significar, entre outras coisas, que se trata de um corpo vazio. Por ora, não conhecemos nada mais parecido do que um satelite artificial.
Resta a pergunta: teriam sido os proprios marcianos a lançá-lo ou seres de outros mundos, visto que existe a "probabilidade matematica" de que a vida inteligente se desenvolveu em planetas de outros sois? São interrogações que se perdem. Alguma coisa se poderá saber quando "Marte I" alcançar o velho planeta, que sempre interessou os seres da Terra.


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