"Minha meta é mostrar que a manquinaria celestial não
é como um ser vivo divino, mas como o mecanismo de um relógio,
e que toda a variedade de movimento procede de uma força
física simplíssima, assim como todos os movimentos
do relógio se originam apenas do pêso que o impele".
Johannes Kepler escrevia esta frase em princípios do século
XVII, revolucionando a astronomia, até então ligada
à metafísica de Aristóteles e à teologia.
Neste ano, continuaram as comemorações do 400º
aniversario deste astrólogo, que foram iniciadas no ano passado.
Kepler nasceu em 1571, no seio de uma familia pobre, mas, apesar
de tôdas as dificuldades, cursou a escola de latim, continuou
seus estudos no mosteiro e finalmente ingressou na Universidade
de Tübingen. Um de seus professores despertou-lhe o interesse
pela nova astronomia de sua época: os ensinamentos de Nicolau
Copérnico que afirmavam que o Sol estava no centro do Universo
em lugar da Terra como se acreditava pelas teorias planetárias
de Ptolomeu.
Como professor de matemática, uma das suas funções
era a confecção de um calendário com previsões
astrológicas. Em 1595, Kepler teve sorte: conseguiu predizer
o inverno muito frio, a invasão dos turcos na Baixa Austria
e as revoltas dos agricultores. Isso lhe trouxe fama e dinheiro
e no seu primeiro livro, "Misterios do Mundo", Kepler
tenta confirmar de modo original o sistema planetário de
Copérnico: o sistema solar estaria construído em tôrno
de um esqueleto invisível de figuras simétricas. Algumas
de suas idéias posteriores já se acusam nesta obra,
onde estão unidas a mística e a matemática.
A convite do matemático imperial Tycho de Brahe, Kepler foi
a côrte de Rudolf II, em Praga, com a incumbência de
colaborar na elaboração dos dados coletados por Tycho.
Após a morte do matemático, Kepler recebeu do imperador
a tarefa de continuar os cálculos.
Em 1609, editou a "Astronomia Nova" que causou sensação,
pois rompia com a concepção alimentada desde a Antiguidade
segundo a qual as orbitas dos planetas teriam que ser circulares
por ser o círculo, supostamente, a única figura perfeita.
Kepler, anteriormente, já havia reconhecido que a Terra se
movimenta mais vagarosamente ao redor do Sol quando está
a uma maior distância dele e neste livro, chega às
mesmas conclusões a respeito de Marte. Descobriu também
que a órbita de Marte não poderia ser circular, mas
de uma forma eliptica, uma vez que o Sol era um ponto fixo. Através
dessas descobertas haviam sido formuladas as primeiras duas leis
de Kepler: não havia mais dúvida de que o Sol era
o centro em torno do qual se movem os planetas.
Mais tarde, continuando a pesquisar descobrindo a terceira lei dos
planetas, da qual Newton deduziria, cem anos mais tarde, a lei da
gravitação. Essa lei era formulada em sua obra "De
Harmonice Mundi": "uma força imaterial que traz
consigo efeito material".
No entanto, na Terra, as questões iam de mal a pior: rompeu
a guerra e Kepler, um protestante, foi perseguido como herege e
sua mãe foi acusada de bruxaria. Kepler gastou toda a sua
fortuna em um processo que durou mais de seis anos para salvar sua
mãe de torturas e da morte, mas, apesar de tudo, pôde
publicar, em 1627, suas tabuas fundamentais com os movimentos dos
planetas e pesquisas sobre a luz e, ainda, a famosa obra matemática
sobre o calculo de pipas de vinho pela sua forma exterior.
Em 1628 tornou-se matemático particular do general todo-poderoso
Wallenstein, conseguindo estabelecer uma tipografia própria
enquanto elaborava horóscopos para seu chefe. Mas o fim veio
rápido, Wallenstein foi despedido e, logo depois, em 1630,
Kepler morreu. Suas obras (cerca de cem escritos cientificos e teológicos-filosóficos)
acabaram, depois de muitas andanças, sob a tutela da czarina
Catarina II, que as incorporou para sempre, ao observatório
de Pulkowo, perto de Leningrado. O eterno monumento a Kepler, porém,
são as leis planetárias que receberam seu nome.
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