PORQUE SOPRA O VENTO


Publicado na Folha da Manhã, domingo, 3 de fevereiro de 1929

Neste texto foi mantida a grafia original

Quando olhamos para o catavento podemos dizer em que direcção sopra o vento. A parte giratoria do catavento apresenta uma superficie muito maior d'um lado que d'outro, e, naturalmente, o primeiro é repellido em direcção contraria ao vento, indicando-nos o lado de menor superficie o ponto donde aquelle sopra. Geralmente fixam-se no espigão do catavento quatro braços em cada extremidade, nos quaes se colloca uma das letras N, S, L e O, na direcção dos quatro pontos cardeaes, respectivamente, Norte, Sul, Leste e Oeste. Quando a flecha do catavento ou o bico do gallo, estão voltados para o Norte é porque é desta direcção que o vento sopra.
Nada ha mais facil que ler as indicações do catavento, apparelho que suggere outras perguntas:
Porque sopra o vento umas vezes suavemente, outras com força, e outras por fim se transforma em tremendo furacão? Porque sopra numas occasiões do Norte, noutras do Sul, e noutras do Leste ou Oeste? Porque é que com uns ventos faz bom tempo e mau com outros?
A sciencia que trata dos phenomenos atmosphericos chama-se "meteorologia" palavra derivada de outras gregas que significam: - "meteoros", elevado no ar, e "logos", tratado. A palavra "meteoro" applica-se a diversos phenomenos, a saber: aereos, como os ventos; aquosos, como as chuvas, a neve, o granizo; luminosos como o arco-iris, o parhelio, o paraselene; electricos, como a aurora boreal, o fogo de Santelmo; e de origem não bem conhecida como o aerolitho. A sciencia que trata destes phenomenos e semelhantes é que é pois a meteorologia.
Voltemos agora á primitiva pergunta. Porque sopra o vento? Pela mesma razão que faz com que a fumaça saia d'uma chamine. Jovial é a resposta, mas correcta.
A verdadeira causa do vento é que o ar se dilata e eleva ás regiões superiores da atmosphera, quando a sua temperatura augmenta. Se pegarmos numa garrafa vazia, a taparmos com uma rolha de cortiça e a collocarmos perto do lume, ou salta a rolha com estrepito ou rebenta a garrafa. O ar que esta contém precisa de occupar maior espaço.
Ora o sol envia á terra os seus raios e eleva a temperatura do ar em alguns logares; e como o ar quente é mais leve que o frio dirigi-se para as regiões superiores da atmosphera, e o ar frio dos lados acóde pressuroso a encher o espaço vazio que o outro deixa. Eis, pois, exposta o mais simplesmente possivel, a razão por que o vento sopra.
Geralmente, algumas horas depois de nascer o sol, começa a soprar uma brisa, chamada viração, vinda do lado do mar para a terra. Porque? Porque, sob a acção dos raios solares, a terra aquece-se mais que a agua, eleva-se o ar que gravita sobre ella, e o que pousa sobre o mar, que está mais frio, acode a occupar o seu posto, repetindo-se constantemente e dum modo indefinido este phenomeno. Quando o sol se põe, dá-se o contrario: a terra esfria mais depressa que o mar, de sorte que o ar que descansa sobre ella fica mais frio que o daquelle; este eleva-se e o da terra acode immediatamente a encher o espaço vazio que o outro deixa. A esta brisa que sopra do lado da terra dá-se o nome de terral.

O que é um cyclone

Em alguns paizes os cyclones são muito temidos. Teem por causa duas correntes de ar que sopram a um tempo de direcções diversas. Quando as referidas correntes se encontram, produz-se um movimento atmospherico de forma circular e de grande violencia; e empurrada essa massa de ar pelas correntes successivas, pode ser impellida para cima com tal energia, que chega a levantar no mar columnas de agua, formando o que se chama uma tromba.
Às vezes terriveis temporaes varrem os varios oceanos. Antes de se ter inventado a navegação a vapor, os marinheiros costumavam arrecear-se da vinda do outomno, por causa dos grandes temporaes que vulgarmente acompanham esta estação, e que os obrigavam a luctar em certas occasiões por espaço de muitos dias, com os elementos desencadeados.
A furia do vendaval desgarrava as velas. O mar embravecido e espumante rebentava contra os costados do navio, com a irresistivel violencia dum exercito invasor, varrendo as cobertas com impeto medonho e arrastando comsigo, em certas occasiões, os mastros, da embarcação. Comtudo, actualmente, não são os cyclones tão temidos como em epocas passadas, porque nos dias de hoje os vapores podem facilmente evitar o encontro destas terriveis tempestades, sulcando intrepidos o mar embravecido até chegarem felizmente ao porto desejado.



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