TESOURO NA PRAIA
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Publicado
na Folha de S.Paulo - 24 de setembro de 1994
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Jóias
romanas são achadas em Herculano; O vento impedia que os barcos
de socorro se aproximassem
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RICARDO BONALUME NETO
Especial para a Folha
O mais importante sítio arqueológico do planeta ainda
é capaz de causar surpresas aos pesquisadores, apesar de sua
escavação ter começado no século 18.
Pompéia e Herculano, cidades soterradas pela erupção
do vulcão italiano Vesúvio em 24 de agosto de 79 d.C.,
hoje são centros turísticos importantes. Mas estão
longe de serem totalmente conhecidas.
Uma prova dessa capacidade de surpreender foi a recente descoberta
de um inesperado tesouro em Herculano, na região onde costumava
ficar o porto dessa pequena cidade litorânea.
Herculano era menor que Pompéia, com edifícios menos
imponentes. Era uma cidade voltada principalmente para a pesca e agricultura,
mas que tinha residências luxuosas. A região vesuviana
estava na moda entre os romanos como local de veraneio, uma espécie
de litoral norte paulista da época.
Centenas de pessoas fugiram da erupção se dirigindo
ao mar. Muitas ficaram apinhadas debaixo das arcadas do porto, esperando
por socorro.
Os barcos não podiam se aproximar, porém, pois o vento
era contrário e ondas do tremor mantinham o mar agitado. Houve
até quem tentou ajudar no resgate mas morreu em consequência.
O caso mais famoso é o de Plínio, o Velho, que comandava
a marinha romana na vizinha cidade de Misenum (Miseno) e morreu asfixiado
pelos gases venenosos que o Vesúvio lançou.
Plínio fora tentar ajudar, mas também movido por curiosidade.
Os romanos não sabiam que o Vesúvio era um vulcão
até ele mostrar isso de modo indubitável.
O destino das dezenas de pessoas abrigadas no porto foi parecido.
Boa parte deve ter morrido asfixiada. Outros tantos foram enterrados
pela lava incandescente que escorria do vulcão.
Os corpos dessas vítimas foram encontrados pelos arqueólogos
apenas agora. Ao contrário de Pompéia, que foi recoberta
de cinzas, Herculano foi coberta pela lava, que endureceu e manteve
a cidade em um casulo muito mais difícil de perfurar.
Junto com os corpos foram encontradas jóias, incluindo braceletes,
anéis e brincos de ouro. O motivo é fácil de
perceber. As pessoas que fugiam saíram de casa o mais rápido
que puderam, mas não sem antes tentar levar algo precioso.
As jóias se somam a um acervo raro de ourivesaria romana. Ao
contrário de outros povos, não era hábito romano
enterrar as pessoas com suas jóias, o que faz com que elas
sejam relativamente mais raras no registro arqueológico.
Um adereço típico, encontrado em excelente estado, é
uma maciça corrente de ouro de 1,8 metro. Ela era usada na
cintura e cruzada sobre o peito. Mais ouro ainda foi encontrado na
forma de moedas com efígies dos imperadores Nero e Vespasiano.
Nem tudo era luxo em Herculano. Um dos achados mais importantes foi
um estojo contendo os instrumentos de um médico.
São agulhas, pinças, bisturis conservados em estojo
de madeira com vários compartimentos metálicos para
os instrumentos. Um achado aparentemente simples, mas que ajuda a
contar um trecho da história da medicina.
Perto do porto há um local que promete descobertas ainda mais
importantes no futuro. Ali fica a chamada Vila dos Papiros. Como diz
o nome, trata-se de uma residência de uma pessoa rica, onde
foram encontrados manuscritos.
Até agora os grandes achados na vila foram obras do filósofo
grego Epicuro (341-271 a.C.) e seus discípulos (parte da obra
do filósofo só é conhecida graças a alguns
papiros encontrados em Herculano).
Pelas próprias condições da erupção,
parte dos papiros foi destruída. Mas restaram alguns que puderam
ser lidos mesmo no século 18, graças a paciências
e cuidados infinitos em desenrolá-los.
Hoje, como novas técnicas de conservação química
e de leitura informatizada, fica mais fácil estudar esses textos
antigos. Como resta boa parte da vila para escavar, os historiadores
cruzam os dedos à espera de novas descobertas. |
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